“O tamanho dos problemas, ou sua dimensão, é sempre de quem os vivencia. Na vida, é preciso aprender a andar sobre as águas. Porque na vida não podemos evitar dar de cara com problemas.
Mas devemos aprender a encará-los. Dependendo de como os encaramos, ou eles ficam fraquinhos e somem ou crescem e nos perturbam. Assim, prefiro a primeira hipótese. E por que eles se assustam e nāo eu? Porque conheço o seu jogo, o jogo da ilusão, e sei que eles passam.
Eterno e real só Deus, e Deus é felicidade, alegria! E está conosco.”
Há algum tempo escrevi esse texto acima destacado, essa pequena reflexão… Não sei qual a sua eficácia em relação aos que vivenciam problemas e agora o leem.
Ocorre que o mal tem uma casa, a insatisfação, onde se refugia e fabrica seus brinquedos perversos. Mesmo quando tudo parece bem, sugerindo o paraíso, ele, com astúcia, se instala. E produz seus artefatos, tão ilusórios que parecem autênticos habitantes da realidade. Mas cuidado, hein, para não pisarem em brasa!
Quanto a mim, vou além da metáfora e inspirado em Agostinho penso que, para vencer o mal, precisamos de uma vontade que nos direcione e revele à graça de Deus.
A experiência mística da revelação resulta em desapego, liberdade e alegria. E mais: em fortaleza, pois o espírito esclarecido ou iluminado não se vai deixar abater pelo transformismo perturbador das ilusões, mesmo sabendo que elas integram, com sua impermanência, a misteriosa realidade em que vivemos. E nem terá o vão propósito de dominar o sonho e sua incontrolável variação de identidade e fortuna.
Paralelamente à experiência mística, que não exclui a arte, caminha a poesia, irmã da profecia, com suas divagações existenciais e metafóricas, que nos fazem sonhar e pensar além de nosso rosário particular de problemas, como nesse belo poema de Robert Frost (1874-1963), que traduzi, e que indaga sobre uma questão universal, o fim do Mundo, o nosso fim, nas opções do fogo e do gelo:
“FOGO E GELO
Alguns dizem que o mundo acabará em fogo;
Outros dizem gelo.
Do que provei do desejo
Fico com aqueles favoráveis ao fogo.
Mas se tivesse de duas vezes perecer
Penso que conheço o bastante do ódio
Para afirmar que a destruição pelo gelo
É também grandiosa
E seria suficiente.”
A obra de arte é obra aberta. E vejo nesse poema um desafio à expansão da consciência. A subjetividade de Frost faz dele um grande poeta, e isto porque o grande mundo está sempre muito além da mera objetividade, esta mais apropriada à observação utilitária do particular, da realidade que dizemos concreta, sem voos alongados.
Frost trata das emoções como mestre, como poeta e profeta. Nesse poema, por exemplo, destaca duas grandes forças antagônicas, imensas e igualmente mortais: o desejo e o ódio. E, se diz preferir o fogo e se o identifica com o desejo, opta pela vida, pela pura emoção, vitoriosa ou destruidora. E mesmo reconhecendo que o gelo do ódio pode levar a igual destruição, sabe-o, ao não preferi-lo inicialmente, pior, pois, embora magnífico ao aniquilar toda vida, é também suficiente para encerrar de vez toda memória.