No dia 24 de outubro de 2005, Rosa Parks, uma americana, negra, 92 anos, costureira aposentada, pobre, – o aluguel da modestíssima casa onde viveu os últimos anos e onde morreu, era pago por um grupo de amigos – teve a notícia de sua morte entre os principais títulos da primeira página dos jornais americanos durante mais de uma semana.
Teve mais. Recebeu a suprema honraria de ter seu corpo velado na Rotunda do Capitólio, em Washington, lugar onde, por exemplo, aconteceram os velórios de Abraham Lincoln e John Kennedy.
Até aquele dia, além dos dois acima, pouquíssimos americanos haviam recebido essa homenagem. A maioria ex-presidentes. Apenas um negro. Nenhuma mulher.
Ali compareceram altas autoridades, a começar pelo presidente dos Estados Unidos e esposa, intelectuais, ilustres mandatários, cientistas e uma multidão de anônimos cidadãs e cidadãos.
Click aqui se você quer saber o que ela fez.
No final da tarde do dia 01 de dezembro de 1955, na cidade de Montgomery, Estado do Alabama, voltando do seu trabalho em uma fábrica, Rosa recusou-se a ceder seu assento em um ônibus a um homem branco, como mandava a lei.
Rosa foi presa, levada a uma delegacia, teve de pagar uma multa no valor de US$ 14,- o que era uma boa grana – e ficou detida por uns três dias.
Os estudos sobre a teoria do caos, mostram que não existe uma correlação direta entre as dimensões das causas e a magnitude dos seus efeitos. O exemplo clássico diz que o bater de asas de uma borboleta em São Paulo, pode desencadear uma série de eventos que, daí a algum tempo, pode resultar em uma tempestade em Salvador.
Foi mais ou menos isso que se deu. Mais ou menos não. Mais, muito mais.
As reações à prisão de Rosa Parks que se iniciaram imediatamente, foram lideradas por um jovem Pastor da Igreja Batista de 26 anos e tiveram como consequência primeira, um boicote aos ônibus.
Velhas bicicletas foram consertadas, cotas foram feitas para colocar de novo em funcionamento carros que eram quase sucata, muita gente passou andar a pé.
Tudo era valido desde que os negros – esmagadora maioria esmagada pelo racismo -, não usassem os ônibus da cidade.
O boicote durou 381 dias levando a um completo colapso as empresas de transporte urbano.
Você perguntou quem era o Pastor? Ele chamava-se Martin Luther King.
Esses acontecimentos levaram o debate sobre os direitos civis a consequências absolutamente impensáveis.
Foi a partir daí que as leis de segregação racial foram sendo gradativamente abolidas no território americano. As últimas foram revogadas em 1964, com a edição da Lei dos Direitos Civis.
O jornal Sentinel de Orlando, Florida, em editorial no dia seguinte a morte de Rosa Parks registrou: “Ela foi a prova viva de que pessoas comuns são capazes de atos extraordinários que podem mudar o curso da história”.
Exemplos como este, dão razão a Felix Guattari naquilo que ele chama de “revoluções moleculares”, como registra Willis S. Guerra Filho: “Revoluções Moleculares são aquelas que ocorrem na interação entre pessoas, quotidianamente influenciando-se umas às outras para, por seus próprios meios, encontrarem orientação no mundo, reagindo a ele, o que termina formando um encadeamento que ocasiona, de repente, grandes transformações, revoluções, sem que mesmo se perceba direito, como a queda da ditadura aqui no Brasil, ou do ‘muro de Berlin’ na Alemanha”.
Pense aí. Como você se sente quando conhece histórias assim?
Você acha que as coisas não estão indo bem na sua vida, na sociedade, no mundo? O que acontecerá se nada de diferente for feito? Vamos continuar apenas desejando Feliz Natal e esperando que as coisas mudem?
Ou vamos ouvir o chamado de Jesus de Nazaré e sermos sinais de Esperança? Mas Esperança no modo ativo, atuante, do verbo Esperançar. Sermos construtores de uma sociedade justa, solidária, fraterna, amorosa, enfim.
Olhe aqui o que diz Noam Chomsky: equívocos de percepção “podem produzir a impressão de que o sistema é todo poderoso, o que está longe de ser verdade. As pessoas estão capacitadas para resistir, e às vezes fazem-no, com efeitos consideráveis”.
Vamos nessa?