Na quinta-feira (14), durante a colação de grau das turmas de Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o professor Adriano Gomes — paraninfo das turmas de Comunicação Social e orador da solenidade do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) — foi agredido fisicamente após concluir seu discurso com a frase “fascismo nunca mais”.
Em sua fala, Gomes refletiu sobre o poder das palavras e sugeriu que expressões como analfabetismo, miséria, fome e opressão deveriam ser “adormecidas” e substituídas por conceitos como educação, respeito e família. Ao final, declarou que a palavra “fascismo” deveria ser retirada dos dicionários. A cerimônia seguia seu curso normal, marcada por despedidas emocionadas e familiares orgulhosos, quando, ao sair, o professor foi violentamente puxado pela beca por um homem desconhecido, que rasgou a vestimenta.
“Foi uma situação constrangedora. Eu estava na função de paraninfo das turmas de Comunicação Social e orador do CCHLA. Ao concluir o discurso, destaquei a importância do significado das palavras. No meio da fala, disse que deveríamos ‘adormecer’ termos como analfabetismo, miséria, fome e opressão, e ‘acordar’ palavras como educação, respeito e família. No final, mencionei que a palavra fascismo deveria ser erradicada de nossos dicionários. ‘Fascismo nunca mais!’ E foi justamente após isso que tudo aconteceu”, relatou o professor Adriano Gomes, que foi puxado pela beca e confrontado pelo agressor:
“Fiquei surpreso. Ele perguntou se eu tinha sido o responsável pelo discurso e começou: ‘seu canalha, seu discurso foi horrível e você usou a palavra fascismo! Não existe e nunca existiu fascismo no Brasil’. Pedi para ele se acalmar, pois estava visivelmente alterado. Alguns colegas tentaram me afastar dele, e outras pessoas o seguraram para evitar o contato físico, pois ele estava claramente com intenção de me agredir. Ele me acusou dizendo: ‘vocês colocaram um ladrão no poder, e tudo isso que estamos vivendo é por causa do ladrão que vocês elegeram’. Eu até pensei em pegar meu celular para filmar, mas fiquei sem reação”, contou Gomes.
Embora o professor não tenha identificado o agressor, ele compartilhou o ocorrido em suas redes sociais na esperança de que alguém tivesse filmado o incidente e pudesse ajudar a identificá-lo.
“Após o discurso, algumas pessoas vieram me parabenizar, e pensei que ele fosse apenas mais uma delas. Não sei quem é, mas imagino que, se estava ali, seja parente de algum formando. Ele era moreno, usava barba e uma camisa social cor de rosa. Nenhuma pessoa entrou em contato para pedir desculpas, mas a universidade tem se mobilizado para me apoiar, e vários alunos têm enviado mensagens de solidariedade”, relatou o professor.
Adriano Gomes, muito respeitado na comunidade acadêmica, é professor de Jornalismo há 25 anos e supervisor de estágio de estudantes concluintes. Durante a agressão, o homem também cuspiu no rosto de Gomes. Após consultar seus advogados, o professor decidiu registrar um Boletim de Ocorrência (BO) na sexta-feira (15), com a intenção de identificar o agressor e garantir que ele seja responsabilizado.
“Foi uma atitude completamente fascista, reacionária e truculenta. Vou registrar o BO e tentar descobrir se alguém filmou ou se há câmeras no local. Não podemos deixar isso impune. Minha passividade seria incompatível com o que defendo, e, se falo contra o fascismo, não posso ser omisso diante de uma situação como essa. Tenho que agir de acordo com os meus princípios”, afirmou o professor.
*Com informações de Saiba Mais