O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN), Roberto Serquiz, alertou que a definição dos setores afetados pela tarifa adicional dos Estados Unidos poderá ter implicações sérias para a economia do Estado, caso não haja reversão do aumento das alíquotas. Isso porque, entre os principais setores exportadores do RN, apenas um — o de óleos combustíveis — está entre as 700 exceções à elevação de 50%.
Roberto Serquiz destacou, em entrevista concedida a veículos de comunicação nesta quinta-feira (31/07), que a FIERN tem atuado na busca por soluções, mantendo interlocução com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e com o Governo do Estado. Ele tem defendido que haja negociações diplomáticas, com orientação técnica, para evitar que as tarifas dificultem e até inviabilizem o acesso da produção industrial potiguar ao mercado dos EUA.
“Desde o primeiro momento, a Federação das Indústrias do RN reuniu os exportadores potiguares e mantém interlocução permanente com esses empresários e com a Confederação Nacional da Indústria, mostrando as implicações para o Estado e procurando soluções e alternativas”, disse o presidente da FIERN.
Ele observou que, diante da assinatura pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na quarta-feira (30), da Ordem Executiva (OE) que determina o aumento das tarifas a partir de 6 de agosto, há uma situação concreta, que exige novas negociações articuladas de forma técnica e diplomática. Havia preocupações sobre o que poderia acontecer, com riscos e incertezas, e agora há uma definição com implicações preocupantes para a economia do RN.
“Agora estamos diante do fato real e passamos, então, para um ambiente de desafio. Claro que é preciso manter a esperança e o otimismo de uma reversão, mas também buscar mitigar a situação enquanto isso não ocorre”, acrescentou.
Ele ressaltou que a indústria não planeja demissões, pois está sempre voltada ao desenvolvimento e à geração de empregos. No entanto, caso as dificuldades persistam, adaptações poderão ser necessárias nos setores exportadores. “O objetivo é sempre admitir pessoas, criar oportunidades no mercado de trabalho. Quem empreende sempre tem o propósito de empregar, de melhorar e crescer. Essa é a tônica do empresário”, afirmou. “Mas, infelizmente, diante desse cenário, pode se tornar impossível manter [todos os empregos nos segmentos que exportam para os EUA]. Ninguém fica feliz com cortes. Quando há desligamentos, é porque há risco à sustentabilidade ou necessidade de redesenhar o próprio negócio”, pontuou.
As estimativas feitas a partir de reuniões com presidentes e diretores dos sindicatos das indústrias exportadoras indicam que entre R$ 70 milhões e R$ 100 milhões em exportações podem deixar de ser comercializados, por ano, com o aumento das tarifas. Estima-se ainda que quase 4 mil postos de trabalho estejam em risco. “Mas a primeira ação é buscar alternativas de mercado e recomposição de custos”, declarou o presidente da FIERN.
Um estudo técnico realizado pelo Centro Internacional de Negócios da FIERN constatou que “os principais produtos do RN exportados para os EUA não estão incluídos nas exceções que excluem produtos do aumento tarifário. Portanto, passarão a ser integralmente taxados pela nova alíquota de 50%”, aponta o levantamento. “Essa lista inclui caramelos e confeitos, pescados frescos como albacoras e atuns, sal marinho, mangas frescas, castanha de caju, granitos e pedras ornamentais beneficiadas, além de outros produtos de origem animal destinados ao consumo humano”.
“Esses segmentos representam uma parcela expressiva da corrente comercial potiguar com os Estados Unidos, e sua exposição à tarifa adicional compromete severamente a competitividade internacional dessas cadeias. A ausência desses produtos na lista de exceções confirma a necessidade de medidas emergenciais, tanto para apoio aos setores afetados quanto para estímulo à diversificação de mercados”, conclui o levantamento.