Quarenta e sete dias depois do acidente que quase lhe tirou a vida, o ex-deputado federal e ex-vereador Rafael Motta falou sobre o episódio que mudou completamente a forma de enxergar a vida. Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, o político potiguar relembrou o momento da queda, os dias em coma, as cirurgias, o processo de recuperação e o que considera “um verdadeiro milagre”.
Nesse período, Motta enfrentou um quadro gravíssimo após a queda de cerca de dez metros durante a prática de kitesurf, que lhe causou múltiplas lesões — entre elas, fraturas em três vértebras, rompimento do brônquio, fratura no rádio e no osso externo, além de um hematoma no coração.
Foram seis cirurgias ao todo, além de 12 dias em coma induzido. Hoje, ele carrega pinos e placas metálicas que ajudaram a reconstruir parte da estrutura óssea atingida, mas comemora o fato de ter preservado todos os movimentos e de estar recuperando plenamente as funções respiratórias e motoras.
Motta sofreu um acidente durante a prática de kitesurf no dia 22 de agosto, nas imediações do Forte dos Reis Magos, em Natal. Inicialmente, ele foi internado no Hospital Walfredo Gurgel, onde passou por cirurgia para tratar uma lesão brônquica. Depois, já em São Paulo, passou por procedimentos relacionados a lesões de coluna e de esterno.
No dia do episódio, uma sexta-feira de ventos fortes na Praia do Forte, Rafael conta que havia decidido encerrar o expediente mais cedo para velejar de kitesurf — esporte que pratica há mais de duas décadas. “Eu tinha adiantado os meus afazeres e resolvi ir para o Forte andar de kite. Já estava no finalzinho do dia, o vento estava muito forte, que é o que todo kite surfista gosta”.
Experiente, ele afirma que jamais imaginava o que estava por vir. “A vida é isso, às vezes você acha que está no controle e, quando menos espera, está entre a vida e a morte, como foi o meu caso. Lembro que eu tinha dado um salto, o espaço lá é um pouco mais curto do que se vê em mar aberto, mas eu dei um salto e eu senti uma rajada de vento que me levou para a areia”.
O acidente
O que deveria ser um fim de tarde de lazer terminou em um evento traumático. “Eu caí de uma altura em torno de 10 metros. Foi uma queda de muito alto e de muito impacto para frente.” Amigos que estavam na praia correram para ajudar, enquanto um médico do Samu, que por coincidência também estava no local, percebeu a movimentação e se aproximou. “Não diria coincidência, mas acho que por um dever divino. Tinha um médico do Samu lá. Ele viu a movimentação e foi me socorrer.
O atendimento rápido fez toda a diferença. Rafael foi levado às pressas para o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, maior unidade do Estado e referência em trauma, onde deu entrada em estado grave. “Se eu tivesse ido para qualquer outro lugar, eu teria morrido. Se eu tivesse esperado mais tempo, eu teria morrido. Disso eu tenho convicção”.
No hospital, exames detectaram o rompimento de um brônquio — a principal via de passagem de ar para o pulmão. Para Rafael, esse foi um dos momentos mais críticos. “O médico detectou que eu estava inchando muito, jogando ar para dentro da cavidade corporal. Estava prestes a entrar em falência respiratória, iria morrer. A rápida detecção e a urgência da cirurgia que fizeram no Walfredo me salvaram”, conta.
Cirurgias e coma
Nas horas e dias seguintes, a luta foi pela sobrevivência. Rafael passou por duas cirurgias em Natal e, posteriormente, foi transferido para o Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde foi submetido a outras quatro intervenções cirúrgicas. No total, foram seis procedimentos, 12 dias em coma e uma reabilitação que surpreendeu positivamente todas as previsões médicas.
Rafael Motta disse ainda que um detalhe “mínimo” fez toda a diferença: “Por um milímetro não perdi o movimento das pernas. O médico chegou para mim e disse: ‘Rafael faltou, literalmente, um milímetro, para você não estar aqui de fraldas. Isso foi um choque muito grande”.
“Fraturei o osso esterno, tive um hematoma no coração, rompimento do brônquio, três vértebras quebradas e o rádio fraturado.”
Quando acordou, veio o choque: “A primeira pergunta foi: gente, eu quase morri, é isso mesmo?”
A família e os médicos acreditavam que ele permaneceria internado por meses e poderia enfrentar sequelas motoras. “Minha família achava que eu ia ficar três meses em São Paulo, talvez de cadeira de rodas, mas a recuperação foi um milagre”.
Fé e rede de apoio
Durante todo o período de internação, uma corrente de fé e solidariedade se formou em torno de Rafael e de sua família. Mensagens, missas e grupos de oração se multiplicaram espontaneamente nas redes sociais. O ex-deputado diz que sentiu cada gesto.
“Três coisas me salvaram: Deus, os médicos e, talvez o mais importante, essa rede de orações. Pessoas evangélicas, católicas, espíritas, de matriz africana, todo mundo emanou pensamentos positivos. Eu senti muito amor, até de pessoas que eu nem conhecia. Não tem gesto no mundo que possa agradecer tudo que recebi, ainda nem consegui responder a todos”.
Rafael conta que a experiência o fez repensar a vida e a forma como vinha conduzindo sua rotina. “Pouco mais de 40 dias depois de eu quase morrer, estou aqui conversando normalmente, andando, retomando a vida. Tenho pequenas dores, mas até as dores eu agradeço. Tudo que acontece de bom e de ruim na nossa vida é porque Deus quer”, complementa.
Uma nova visão de mundo
O período de internação foi também de reflexão profunda. “Passei muitas madrugadas pensando: por que eu mereci isso? Por que eu tive uma segunda chance?”
Hoje, ele diz que prefere deixar as respostas nas mãos de Deus. “Algumas respostas vêm com o tempo. Eu deixei de pensar nisso com angústia e deixei que a vida e Deus me tragam essas respostas. A visão de mundo muda. A gente passa a valorizar mais as pessoas, a família, o dom da vida”, pontua.
Rafael se define como um amante do esporte e de um estilo de vida saudável, mas, por enquanto, a prancha vai ficar guardada em casa. “Sobre o kitesurf, muita gente já está me perguntando se eu vou voltar. Sou amante dos esportes, pratico voo livre, parapente, surf. Mas as prioridades hoje são outras. Vou jogar mais xadrez, ficar mais no solo”, brinca.
Motta diz que ainda sente algumas dores, está aprendendo a conviver com as cicatrizes físicas e mentais, e ainda passará por sessões de fisioterapia, mas que “continua a mesma pessoa, mesma alma, com as mesmas qualidades.
“Dá até para dizer que agora eu tenho um corpo biônico, com muito titânio, mais magro, um pouco abatido, obviamente, mas recuperando ainda o peso. O que muda em mim é a questão da consciência do que aconteceu, de que eu estive quase morto, e agora, eu estou quase plenamente recuperado, mas tudo isso eu agradeço”, resume.
*Com informações de Tribuna do Norte

