O aparecimento do primeiro exemplar de peixe-leão no litoral norte-rio-grandense foi registrado em julho de 2022, em Tibau, na Costa Branca. A partir de então, uma equipe da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa) monitora a presença do peixe no estado. No ano passado, os peixes-leão já estavam espalhados por todo o litoral do RN.
Recentemente, um jovem de 26 anos morreu após mergulho em uma praia em Grossos, na Costa Branca, e existe a suspeita que tenha sido vítima de um peixe-leão. O laudo do Itep ainda é aguardado, mas dias após o acidente, um exemplar da espécie foi capturado em Areia Branca, acendendo um novo alerta sobre os perigos dessa “invasão” na costa do Rio Grande do Norte.
Originário do oceano Indo-Pacífico, o peixe-leão foi introduzido no oceano Atlântico pela região do Caribe, no início dos anos 2000, provavelmente através de liberação acidental de aquários ou de furacões que danificaram aquários e proporcionaram a chegada desse animal no mar. É o que explica a professora Emanuelle Rabelo, da (Ufersa). “De lá, espalhou-se rapidamente, chegando à costa brasileira em 2020. No RN, o primeiro registro foi em 2022”, disse.
Rápida disseminação

O superintendente estadual do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rivaldo Fernandes, explica que a rápida expansão da espécie é explicada por três fatores principais: a ausência de predadores naturais fora de sua área de origem, sua elevada capacidade de adaptação e a rápida reprodução, visto que uma única fêmea pode liberar até 2 milhões de ovos por ano. “O resultado é um crescimento populacional explosivo que ameaça os recifes de coral e toda a cadeia alimentar marinha”, destacou.
“O peixe-leão é um predador generalista, o que significa que ele se alimenta de qualquer outra espécie de animal, sejam peixes ou crustáceos, o que pode comprometer a biodiversidade e a pesca. (…) Ele é adaptado a profundidades de até 300 metros, podendo invadir áreas naturais, como recifes, ou artificiais, como naufrágios, pesqueiros ou locais com armadilhas de pesca de lagosta”, completou Emanuelle Rabelo, que afirmou que o peixe-leão tem sido encontrado com mais frequência nas cidades de Porto do Mangue e Areia Branca.
Riscos ambientais

“Com suas cores vibrantes, nadadeiras elegantes e aparência exótica, o peixe-leão poderia facilmente ser confundido com uma joia viva dos mares. No entanto, por trás de sua beleza hipnotizante esconde-se uma das maiores ameaças aos ecossistemas marinhos tropicais”, declarou o superintendente estadual do Ibama.
Rivaldo Fernandes explicou que há estudos que mostram que a introdução dessa espécie em regiões como o Caribe e as Bahamas causou uma redução de até 90% nas populações de peixes pequenos. “Uma tragédia ecológica com consequências em cascata para o ecossistema”, pontuou.
“No Brasil, especialistas alertam para o risco iminente de desequilíbrio ecológico, especialmente em áreas como Fernando de Noronha e o litoral do Nordeste, onde a biodiversidade marinha é rica e sensível”, completou o gestor.
Ameaça à saúde pública
A professora Emanuelle Rabelo alerta que o peixe pode representar uma ameaça à saúde pública, visto que possui 18 espinhos peçonhentos, que podem provocar acidentes graves. “Ao penetrar na pele humana, o veneno pode causar vários sintomas como: dor intensa, inflamação local, taquicardia, náusea e tontura”, explicou. Ela orienta que, em casos de ferimentos com os espinhos do peixe-leão, deve-se colocar um pano quente sobre o machucado e procurar urgentemente atendimento médico.
Rivaldo Fernandes complementa que embora um ferimento por um peixe dessa espécie não seja letal para pessoas saudáveis, pode ser perigoso para alérgicos, crianças e idosos. Ele acrescenta, inclusive, que já foram registrados diversos acidentes relacionados ao peixe-leão em águas brasileiras, muitas vezes desavisados sobre a presença do invasor.
Ações de controle
O gestor estadual do Ibama, Rivaldo Fernandes, afirmou que especialistas defendem ações coordenadas entre órgãos ambientais, universidades, pescadores e comunidades costeiras para monitorar e controlar a presença do peixe-leão. Ele explicou que já começaram a ser aplicadas no Brasil estratégias que estão em curso em outros países, como campanhas de conscientização, o envolvimento de mergulhadores para captura dos peixes-leão e incentivos à pesca da espécie, que é “comestível e saborosa, desde que devidamente preparada”.
Apesar de ser um desafio, Fernandes disse que há esperança de que os danos sejam contidos, desde que o combate seja realizado de forma ágil e contínua. “O peixe-leão é mais do que uma curiosidade marinha: é um alerta claro sobre os perigos da introdução de espécies exóticas nos ecossistemas e sobre a necessidade de vigilância permanente dos nossos mares”, finalizou.
Coleta
Se um animal dessa espécie for pescado, a recomendação da professora Emanuelle Rabelo é de que o animal não seja tocado com as mãos, de forma a evitar acidente com os espinhos. Ela solicita que o peixe seja coletado com um arpão ou outra ferramenta e colocado em um recipiente plástico resistente para que seja recolhido por uma equipe da Ufersa. A solicitação da coleta deve ser feita pelo número 84 99997 0530.