O Partido dos Trabalhadores (PT) emergiu no cenário político brasileiro no início da década de 1980, forjado na resistência à ditadura militar e na efervescência da luta pela redemocratização do País. Desde sua concepção, diferenciou-se da esquerda tradicional, tanto comunista quanto trabalhista, apresentando-se como uma força política singular.
Em menos de dez anos de existência, o PT já havia estabelecido uma base sólida em diversos segmentos da sociedade, conquistado o governo de capitais e estados cruciais e alcançado o segundo turno na primeira eleição presidencial após o fim da ditadura.
Sua ascensão meteórica se deu, em grande parte, por um modelo de organização interna inovador: a criação de núcleos de base, a introdução de cotas para mulheres nas instâncias de direção, a priorização de deliberações coletivas e a prática da democracia interna. Soma-se a isso a reconhecida qualidade da ação de seus parlamentares e a inversão de prioridades nas administrações municipais e estaduais, que o consolidaram como a grande novidade na política nacional.
A Degeneração: De Vanguarda a Oligarquia
É, no mínimo, paradoxal constatar que o partido que revolucionou a maneira de fazer política no Brasil, ao se consolidar nos espaços institucionais do parlamento e do executivo, passou a incorporar as mesmas velhas práticas das oligarquias partidárias. O que era uma força de mudança se transformou, de certa forma, em um “museu de grandes novidades”, adotando a rotina que um dia prometeu combater.
igualmente desafiador é determinar o momento exato em que o PT abdicou de sua condição de partido dirigente e organizador dos processos eleitorais. Dois episódios emblemáticos, ocorridos no âmbito estadual, caracterizam esse estranho comportamento partidário.
A Evidência do Dirigismo Externo
Comecemos pelo mais recente: o ano era 2021, e o autor compunha a Executiva Municipal do PT em Natal. À época, Manoel Júnior Souto, um dos quadros mais sensíveis e politicamente honestos do partido, presidia o PT/RN. Cansado de acompanhar nos jornais as recorrentes notícias de que Raimundo Alves, Chefe do Gabinete Civil do Governo Fátima, desmentia o presidente do partido sobre o processo de alianças para a reeleição da governadora, o autor propôs uma iniciativa na Executiva.
A sugestão era convocar o Diretório Municipal com a seguinte pauta: Análise da conjuntura pré-eleitoral, com o convite a Raimundo Alves para um balanço das ações do governo e a Júnior Souto para um balanço da política de aliança do partido para as eleições de 2022.
Para surpresa de poucos, o “Rei Raimundo 13” negligenciou o balanço das ações governamentais e centralizou sua explanação nas conversas com os partidos aliados. Detalhou os avanços para compor a chapa majoritária com o MDB, indicando Walter Alves como candidato a vice. Sua fala foi a prova cabal de que todo o processo de discussão e composição da chapa para 2022 havia sido conduzido exclusivamente pelo governo, na pessoa do Chefe da Casa Civil, o “Rei Raimundo 13”.
O Precedente de 2018 e a Crítica Ilegítima
Quatro anos antes, nas eleições de 2018, a militância já havia sido surpreendida com a indicação de Jean Paul Prates, então ilustre e completamente desconhecido das bases, para a primeira suplência de Fátima Bezerra, candidata ao Senado. Mais uma vez, esse processo teve o comando e a voz forte do “Rei Raimundo 13”.
O paradoxo se completa agora, quando, estranhamente, o mesmo Jean Paul Prates emerge em público falando em RAIMUNDOCRACIA no interior do PT.
A crítica é correta em seu conteúdo, mas completamente desprovida de legitimidade em sua origem, vindo de alguém que se beneficiou diretamente da estrutura de poder que agora ironiza.
educador popular, militante do PT