A política potiguar ferve, embora o calendário eleitoral de 2026 ainda pareça distante. Os nomes se agitam e a dança das cadeiras, notadamente para os postos majoritários de governador e senador, atrai os holofotes. Álvaro Dias, Allisson Bezerra, Styvenson Valentim e Rogério Marinho pleiteiam a suprema magistratura estadual; Fátima Bezerra, Styvenson Valentim, Zenaide Maia e, novamente, Álvaro Dias, querem uma das duas vagas senatoriais. O tabuleiro está montado, com peças fortes e rejeições conhecidas.
No centro desse turbilhão, paira uma esfinge: Walter Alves, o vice-governador que, em abril, ascenderá ao posto máximo do executivo estadual com a desincompatibilização da atual governadora, Fátima Bezerra. A pergunta que silencia as rodas de conversa é: será ele candidato à reeleição? A resposta, por ora, é um calculado silêncio. E é justamente nesse mutismo que reside a mais saborosa das intrigas políticas.
Do ponto de vista da tradição recente da política brasileira – e o Rio Grande do Norte não é exceção –, um governador em exercício é, por natureza, um candidato natural à recondução. A história recente, desde a emenda constitucional de 1997 que permitiu a reeleição, transformou o cargo em uma espécie de salvo-conduto eleitoral. O governador detém a chave do cofre, o poder da caneta, a capacidade de inaugurar obras e, sobretudo, de catalisar o apoio de prefeitos e lideranças com promessas de convênios e liberação de verbas. Ocupar o cargo já é 90% da campanha. A máquina estatal é, para o incumbente, o mais eficiente dos comitês eleitorais.
Contudo, a aura da reeleição esbarra numa realidade fria e dura: a situação financeira do Rio Grande do Norte, estado que lida com um desequilíbrio fiscal que se arrasta por décadas, herança de gestões passadas agravada por crises e flutuações econômicas. E é aqui que o silêncio de Walter Alves ganha peso.
O futuro governador sabe que ser o dono da chave de um cofre vazio é uma desvantagem colossal.
Assumir o governo agora significa ter que gerir a crise, tomar medidas impopulares – algumas inadiáveis – e, no fim, carregar o ônus de problemas que não criou. A reeleição, que deveria ser um caminho pavimentado, transforma-se em um campo minado.
Se Walter se lançasse candidato de imediato, correria o risco de ter sua imagem atrelada, por antecipação, aos piores números fiscais e a uma possível austeridade. O silêncio, nesse caso, é uma estratégia de autopreservação. Ele precisa de tempo no cargo para avaliar a real profundidade do buraco, tentar emplacar alguma medida de impacto, ou, no limite, transferir o candidato do sistema governista, o secretário da Fazenda Cadu (que tem rejeição considerável e pouca tração eleitoral), para a ribalta do sacrifício. Vale, aqui, a máxima de Maquiavel: é melhor ser temido do que amado, mas é muito melhor não ser responsabilizado por uma falência. Walter Alves joga com o tempo. Seu silêncio não é indecisão, mas o barulho ensurdecedor de uma análise custo-benefício entre o peso histórico do cargo e a indigesta realidade de ter que governar um estado à beira do colapso financeiro. A espera é a única arma que permite a ele, de fato, escolher o melhor caminho: a reeleição, ou a sábia retirada. Só há um jogador com peso para levá-lo, sem riscos eleitorais, à cadeira de governador: Lula. Mas isso é assunto para outro texto.
