A quantidade de médicos no Rio Grande do Norte aumentou 83% de 2011 para cá, segundo dados da Demografia Médica 2024, elaborada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), e divulgada na última segunda-feira (8).
O levantamento aponta que o RN tinha 4.392 médicos há 13 anos e, agora, conta com 8.038 profissionais. Com isso, a densidade por mil habitantes também cresceu: passou de 1,39 para 2,42 médicos por cada grupo de mil pessoas residentes no Estado.
“Os dados indicam que o estado conta hoje com mais médicos. Mas a que custo? Observamos a criação indiscriminada de escolas médicas no País sem critérios técnicos mínimos, o que afeta a qualidade da formação em medicina. Outra questão a ser observada é que o aumento do número de médicos depende também de melhores condições de trabalho e de estímulo aos profissionais no cumprimento de sua missão. A qualidade da assistência não é uma questão apenas matemática, mas que exige planejamento e boa gestão”, afirma o presidente do CFM, José Hiran Gallo.
Já o presidente do Conselho Regional de Medicina do RN (Cremern), Marcos Jácome, chama a atenção para outra questão que impacta na oferta de serviços: a concentração de profissionais na capital. “Na prática, não houve correlação com melhoria da qualidade de atendimento no nosso Estado. Isso porque há uma grande concentração dos médicos na nossa capital, ou seja, 70% desse número está trabalhando em Natal, enquanto apenas 30% está distribuído em todo o interior. Isso dificulta muito a assistência dos locais menos assistidos. Então, a qualidade e a melhoria do atendimento, infelizmente, não aconteceram.”
Em números absolutos, na distribuição pelo território potiguar, verifica-se 5.534 médicos atuando na capital, Natal, e 2.504 no interior. Por ter mais médicos, Natal se destaca com uma média de densidade médica muito superior à registrada no interior. Na capital, são 7,31 médicos para cada mil habitantes. Já no interior, esse número é menor que 1, ficando em 0,97 por mil habitantes.
Maioria dos formados no RN não tem nenhuma especialização
O levantamento do CFM também revela que a maioria dos médicos atuantes no Rio Grande do Norte não tem Registro de Qualificação de Especialidade Médica (RQE): 4.207. Outros 3.831 são especialistas (têm RQE). “Infelizmente, a quantidade de médicos que aumentou nos últimos anos aqui no nosso estado tem uma disparidade em relação aos que tem a possibilidade de fazer residência médica. Infelizmente, as vagas de residência médica não aumentaram proporcionalmente em relação ao número de médicos no RN. Então, ainda temos uma grande quantidade de médicos que tentam fazer residência médica e não conseguem. Falta oportunidade de realizar sua residência médica e se tornar especialista no RN”, afirma o presidente do Cremern.
Dentro desse cenário de escassez, a situação em algumas áreas é mais delicada, como no caso da Terapia Intensiva neonatal e pediátrica, conforme destaca Marcos Jácome: “Pediatria, apesar de ter melhorado um pouco, continua com uma grande deficiência. Temos a Terapia Intensiva, uma grande lacuna em grandes hospitais por falta de especialista. Muitas vezes, médicos sem habilitação especializada se tornam plantonistas. Pior ainda acontece na área de Terapia Intensiva neonatal e pediátrica, onde tem uma deficiência muito grande. É também muito requisitado hoje, inclusive por demandas judiciais, a especialidade de neurologia. Temos uma grande deficiência dessa especialidade em nosso Estado”
CENÁRIO NACIONAL
A Demografia Médica 2024 do CFM revela que o País nunca contou com tantos médicos como atualmente. O levantamento mostra que o Brasil tem hoje 575.930 médicos ativos, uma das maiores quantidades do mundo. O número resulta em uma proporção de aproximadamente 2,81 médicos por mil habitantes, a maior já registrada na história nacional.
Desde o início da década de 1990, a quantidade de médicos mais que quadriplicou, passando de 131.278 para a atual, registrada em janeiro de 2024. Este crescimento, impulsionado por fatores como a expansão do ensino médico e a crescente demanda por serviços de saúde, representa um aumento absoluto de 444.652 médicos, ou seja, 339%, em termos percentuais.
Comparando os crescimentos da população em geral e da população médica, é possível ver que o total de médicos aumentou oito vezes mais do que o da população em geral, durante esse período. Em termos absolutos, a população brasileira passou de 144 milhões em 1990 para 205 milhões em 2023, conforme dados do IBGE.