Mãe, feminista, mulher negra, empoderada e defensora da diversidade e inclusão. Essas são características que definem a primeira deputada estadual negra a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte (ALRN), Divaneide Basílio (PT), que é símbolo de luta e superação para muitos potiguares. Natural do município de Pedro Avelino e filha de trabalhadores rurais, a parlamentar foi por duas vezes a mulher mais votada de Natal e da Região Metropolitana.
Em comemoração ao Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, Divaneide Basílio, conhecida popularmente como “Diva” concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal Diário do RN, em que ressaltou a importância da data para os cidadãos negros, os impactos do preconceito racial e a necessidade de manter a luta pela inclusão racial ativa.
O 20 de novembro foi escolhido em referência à morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, em 1695, símbolo da luta e resistência dos negros escravizados no Brasil, bem como da luta por direitos que os afro-brasileiros reivindicam.
Para Divaneide, o Dia da Consciência Negra é simbólico e de extrema relevância para a sociedade. “Um mês como esse fortalece para que a gente possa fazer campanhas educativas, fortalecer a pauta da identidade e, principalmente, do respeito. Essas celebrações de alusão à nossa luta fazem com que as pessoas compreendam a sua própria existência e tenham consciência da sua negritude, tendo a ciência de que é preciso construir uma sociedade antirracista”, comentou.
A parlamentar também desabafou que, ao longo da vida, já foi vítima de preconceito inúmeras vezes chegando a ser barrada em eventos e até mesmo de ser inferiorizada pela tonalidade da pele. “Não é fácil ocupar espaços de poder sendo uma pessoa negra. Eu já tive reuniões em que as pessoas perguntavam que horas a chefe de gabinete vai chegar, sendo que eu já estava ali. Então é bem difícil, é muito dolorido”.
Durante os anos 1990, Diva destacou-se nas lutas pelos direitos da juventude e na Rede de Jovens do Nordeste. A partir dessa trajetória, ocupou a chefia de gabinete da Secretaria Nacional de Juventude no governo da ex-presidenta Dilma Rousseff (2011–2016). Fato que aumentou a visibilidade social e política da parlamentar.
Trajetória política
Na vida política Diva quebrou tabus e venceu o preconceito conquistando os títulos de primeira Vereadora negra de Natal em 2020 e no ano de 2022 foi eleita deputada estadual assumindo o título da primeira parlamentar negra a assumir um cargo na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte.
“Ser a primeira deputada autodeclarada negra na ALRN tem dois lados, um lado positivo que é de dizer, olha, que bom que nós estamos aqui e que estamos ocupando esse lugar, eu não chego aqui sozinha, chego com a voz e com a luta de todos os movimentos, e ao mesmo tempo é uma reflexão, é uma questão reflexiva em todos esses anos de história, você não teve ninguém autodeclarada negra, você não teve nenhuma outra mulher, e a gente precisa fazer desse lugar um lugar de reafirmação da nossa identidade”.
Questionada sobre o papel da mulher negra no cenário político atual a parlamentar explicou que “O papel da mulher negra na política atual é um papel que não tem mais volta, nós vamos ocupar todos os lugares! Nos respeitem. Não é só sobre Divaneide, é sobre as Divaneides e todas as mulheres negras que vêm junto comigo ocupar essa cadeira. Essa cadeira não é minha, não é individual, é coletiva. Como diz professora Marilda Barbosa de Almeida ‘Não basta ser negra, a gente tem que se olhar no espelho, se reconhecer e lutar pela nossa negritude’, lembrou Diva.
Maternidade Negra


Além do lado político e das lutas sociais Divaneide também assume com maestria o papel de mãe tendo como filhos a Gabriela, Maria Rita (in memoriam), José e Mateus. “Não é uma coisa simples conciliar a maternidade com a política! ”, afirmou. Mesmo diante das dificuldades a parlamentar deixou claro que a saúde e bem-estar dos filhos é prioridade na vida dela e, principalmente, estar perto em todos os momentos.
“Não é uma conta fácil de fechar! Tem dias que a gente se sente culpada, tem dias que a gente tira o dia para ficar com eles e percebe que bom, eu queria ficar um pouco mais. Tem dias que a gente se sente fortalecida por eles existirem e a gente continua a caminhada. E tem dias que a gente não dá conta, simplesmente tem dias que é caos, que a gente falta alguma atividade porque precisa levar na terapia, no médico, enfim. Essa é a vida real. Não é simples e também não é um glamour”, confessou Diva.
A parlamentar ainda reforçou que sempre quando possível os filhos acompanham ela nas agendas e se sentem orgulhosos do meu papel como deputada.
Perguntada sobre como é para ela e explicar a questão racial para os filhos Divaneide explicou que desde cedo ensina aos pequenos a terem orgulho de serem negros, a valorização da cultura e a se defenderem de ações preconceituosas.
Com orgulho e admiração a parlamentar ressaltou como exemplo a relação com a filha mais velha, a adolescente Gabriela, 14 anos, que desde criança entendeu o que era ser uma menina negra.
“Tem uma questão muito forte para ela, que é o próprio cabelo. Então ela sempre trata disso. Outro dia na escola ela escolheu escrever sobre isso, sobre a negritude. Ela já trançou o cabelo duas vezes, por livre e espontânea vontade. Mas não é apenas uma vontade, é uma identidade. Então me orgulha muito saber que na idade dela, ela compreende, ela se olha no espelho e ela sabe o que é ser uma menina negra, uma adolescente negra”, declarou.
Como reflexão final sobre o Dia da Consciência Negra Diva frisou “Que esse mês da consciência negra seja para todos nós e para todas as pessoas negras um mês também de alimento da alma, de alimento da nossa autoestima, mas sobretudo de aprofundamento do enfrentamento ao racismo. Que a gente não naturalize de forma alguma expressões racistas nem a morte de pessoas negras”, afirmou Divaneide Basílio.