O hip-hop surgiu em meados dos anos 70 nos subúrbios de Nova York, nos Estados Unidos e, ao longo dos anos, as batalhas de hip-hop ganharam força. As primeiras batalhas nesse segmento aconteciam entre os DJ. Em seguida, vieram as batalhas de breaking, que são batalhas de danças. A forma de expressão cultural surge no berço da periferia e, até os dias atuais, sofre diversos ataques e ainda é estigmatizada como uma cultura marginal, um preconceito que os representantes do movimento, ainda tentam combater.
“Eu vim do breaking e já sofríamos esses preconceitos nas danças de rua. A polícia parava a gente, achavam que eram marginais, tudo por causa do hip-hop ser uma cultura negra, que nasceu nas ruas. O hip-hop sempre vai continuar nas ruas porque é uma cultura de rua e periférica, como a capoeira, o hip-hop sofre esse preconceito porque é uma cultura em sua grande maioria feita por povos pretos. Existe esse preconceito que não é velado, o racismo que no Brasil é ainda pior, o racismo estrutural impede de propagarmos essa cultura como algo bom”, afirma Aleson da Cruz, produtor do Batalhas Clandestinas.
O movimento hip-hop é composto por 4 elementos, o breaking, DJ, grafite e os MC’s, segundo Dela Cruz, ou DELA como é conhecido no movimento, ressalta que os MC’s são responsáveis pelo elemento da voz. As batalhas de MC’s são divididas em várias modalidades e estilos. O rap é ritmo e poesia cantado pelo MC, a mescla desses elementos fazem parte de uma cultura black, muito atacada, mas primordial de ser difundida nas periferias: “Essas batalhas são importantes porque elas ‘correm’ junto com a política pública de segurança. Enquanto a polícia tenta tirar pessoas da rua, do tráfico através da tática militar, a gente usa outra tática: a gente usa a arte, a cultura. Buscamos a mesma coisa, mas com estratégias diferentes”.
Importância das batalhas
Um evento nacional está ocorrendo com um Duelo Nacional de MC’s, a maior competição de freestyle da América Latina. São 40 batalhas no RN, 23 batalhas cooperadas em 11 municípios. Nos dias 23, 24 e 25 de outubro, em Currais Novos, um MC será escolhido para representar o RN em Minas Gerais, em novembro, para a batalha nacional. O ganhador dessa batalha irá para o campeonato sulamericano na Bolívia e quem ganhar vai para o mundial na Espanha.
MC’s sofrem ataques da Polícia Militar durante batalhas de hip-hop
No último final de semana, uma batalha no Gramoré, na zona norte de Natal, foi interrompida por policiais militares. A truculência dos agentes públicos repercutiu nas redes sociais. Os PM’s teriam chegado ao local às 22h30. Imagens mostram um policial xingando e confrontando os jovens e, em seguida, um jovem leva um tapa no rosto. A violência aconteceu durante a quarta pré-seletiva do estado sediada pela Batalha Clandestina, na praça Garotinho da Copa. Foi um momento em que a organização do evento incluiu jovens, homens, mulheres e crianças, interrompido pela abordagem revistando o público e os participantes da batalha. Os agentes queriam saber de quem era uma mochila, mas não tiveram resposta ao questionamento.
As imagens foram registradas por um DJ que, na sequência, foi levado local afastado. Ao Diário do RN, o rapaz alegou que todos no local ficaram chocados com o ocorrido e por captar imagens da ação violenta, ele foi coagido por um policial: “O policial que agrediu o artista me chamou pra um canto distante onde a live não tinha acesso e, quando cheguei lá, o policial pegou todos meus dados e endereço e falou exatamente assim ‘apague esse vídeo que você gravou, para não ter problemas para você’, eu respondi que não iria apagar, pois eu tava no meu direito. Em seguida ele disse: ‘se esse vídeo vazar, eu vou te fazer uma visita na sua casa, já que tenho todo endereço e seus dados. Depois disso ele me liberou. Eu vivo nessa cultura há 15 anos e de tudo que passei durante esse tempo, nada foi tão traumático quanto essa situação”.
Medidas tomadas após a ação
Após uma reunião entre a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social, a Corregedoria Geral de Segurança Pública, as ouvidorias de polícia e de direitos humanos e o Comando do Batalhão, foi encaminhada a abertura de procedimento para apuração e responsabilização dos agentes envolvidos e a adoção de medidas de orientação das abordagens policiais e maior integração das forças de segurança com essa expressão cultural.
“As batalhas são uma linda expressão da criatividade e potência juvenil no nosso estado e tem que ser cada dia mais valorizadas, não vítimas de violência. A juventude negra e moradora das periferias não pode ser tratada dessa forma. É importantíssimo que haja a apuração e responsabilização dos agentes, assim como que sejam tomadas medidas de orientação às forças de segurança para que não se repitam. Foi isso que foi acordado na reunião”, declarou Gabriel Medeiros, subsecretário da juventude do Governo do RN.
Procurada, a Polícia Militar informou, por meio de nota, que tomou conhecimento dos fatos ocorridos na noite deste sábado (26), no bairro Gramoré, na Zona Norte de Natal e que será instaurado procedimento legal e disciplinar com o objetivo de apurar todas as circunstâncias que envolvem a ocorrência.
“A Corporação reafirma o seu compromisso em proteger a sociedade potiguar e não compactua com qualquer desvio de conduta ou excesso por parte de seus integrantes”, ressalta a nota. Além disso, a assessoria da PM afirmou que a reunião na Sesed com a Corregedoria encaminhou a abertura do processo investigativo para Diretoria de Disciplina e Justiça da PMRN e foi publicado no Boletim Geral da Corporação a abertura da sindicância e o Oficial que será responsável pelo caso.