O Serviço Geológico do Brasil (SGB) emitiu um relatório alertando sobre o processo erosivo e o “muito” alto risco de deslizamento do Morro de Careca, na praia de Ponta Negra, zona sul da Capital. O estudo é fruto do pedido feito pelo Ministério Público Federal (MPF).
Os pesquisadores Ivan Bispo de Oliveira Filho e Filipe de Brito Fratte Modesto que assinam o relatório, alertam para os riscos geológicos que podem afetar a segurança dos frequentadores da região, segundo eles o deslizamentos podem não ser só de areia: “Os deslizamentos podem ser de areia, como já mostrado, tombamentos de blocos da falésia, ou queda/rolamento de blocos rochosos formados de material sedimentar cimentado, lateritizados, que estão abaixo do pacote sedimentar arenoso que forma a duna, em contato com os sedimentos do Grupo Barreiras”.
Contudo, apesar de todo esse alerta, o documento traz em um trecho seguinte a delimitação de área que corre riscos. “Apesar da situação estar caracterizada como muito alto risco para deslizamentos, o alcance do material é restrito às áreas próximas da base do morro, o que facilita nas medidas de prevenção de possíveis acidentes”.
Ainda de acordo com o relatório, a tendência é que o processo de erosão costeira continue a comprometer a base da falésia e, desse modo, faça com que “mais sedimentos arenosos da duna deslizem e tragam consigo grandes fragmentos de blocos rochosos com potencial para provocar graves danos aos frequentadores do local”.
Diante do cenário encontrado pelos pesquisadores, o Serviço Geológico emitiu algumas recomendações e medidas a serem tomadas pelos órgãos locais. Como primeiro ponto apontado, consiste na recomendação da permanência do acesso restrito: “Diante da sensibilidade do ambiente, recomenda-se que o acesso ao topo do morro/duna permaneça restrito a técnicos e pesquisadores”.
Recomendou-se ainda que a área em frente ao Morro do Careca, no nível da praia, permaneça isolada e, se possível, seja ampliada, a fim de evitar que os frequentadores circulem pelo local. Bem como a instalação de mais placas informativas sobre os riscos geológicos existentes no local, e que estas estejam posicionadas de forma visível aos frequentadores da praia. Em decorrência do processo erosivo que vive o Morro: “Os processos que ali incidem são dinâmicos. É notório que o processo de erosão costeira está atuante na base da falésia e tende a continuar a promover o seu recuo, mantendo-se as condições atuais. Estudos geológicos-geotécnicos e oceanográficos específicos a respeito da erosão costeira no local devem ser aprofundados, sendo imprescindível a participação das universidades locais e órgãos ambientais”.
Outra recomendação é a realização de estudos geológicos-geotécnicos específicos a respeito da erosão costeira no local e, a partir deles, determinar a melhor intervenção a ser feita para preservar a base da encosta/falésia, com o objetivo de interromper o recuo. Porém, o SGB afirmou que não obteve acesso sobre a engorda: “Cabe ressaltar que o Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) não obteve acesso ao projeto de “engorda” da praia com material poroso, logo não pode afirmar se a intervenção será a solução para minimizar ou mesmo cessar a erosão.
Ainda sobre o assunto da engorda, se seria um método definitivo para conter com o processo erosivo e se diante dos impasses burocráticos teríamos um tempo hábil para aguardar, o órgão respondeu que é preciso um estudo antes de qualquer tipo de intervenção: “As eventuais intervenções de engenharia devem ser feitas a partir de estudos geológicos-geotécnicos e oceanográficos específicos. Após os resultados destes estudos, deve-se, então, ser observada a melhor forma de intervenção. Existem estudos já avançados sendo feitos pelo poder público local que apresenta como medida de mitigação ao problema de erosão na base do Morro do Careca a engorda da praia com material poroso”.
SINALIZAÇÃO
A respeito das ações de isolamento e sinalização de alerta sobre os riscos de acidente, o SGB reforçou a importância não só de barreira física – que já existe no local-, mas da conscientização da sociedade: “Quanto à barreira física, já existe um cordão de isolamento instalado no local que, devido à variação da maré, por vezes sofre alguns danos e tem que ser feita a manutenção periódica. O item mais importante é conscientização da população, sem alardes, por meio da instalação de placas educativas informando que a área apresenta riscos de atingimentos a movimentos de massa, portanto não se deve ficar próximo à base do Morro do Careca”.
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) responsável por essa ação, informou que não recebeu oficialmente o estudo, mas que passará por análises: “O Idema, por meio da Subcoordenadoria de Gerenciamento Costeiro, informa que ainda não recebeu oficialmente o estudo executado pelo do Serviço Geológico Brasileiro. E que vai analisar para pode emitir algum posicionamento. Esclarece, também, que o órgão é responsável por realizar a manutenção do cercamento lá existente. Entretanto, o equipamento encontra-se danificado e órgão aguarda a finalização de um processo de licitação para contratar o prestador serviço para restaurá-lo”.