O período de ditadura no Brasil durou de 1964 a 1985 e sua época de torturas, repressão, violência, exílios e desaparecimentos que até hoje nunca foram solucionados, foi um tenebroso capítulo na história da nação brasileira.
Naquele tempo, um potiguar foi o primeiro militante a ser condenado à pena de morte durante a ditadura: ele era Theodomiro Romeiro do Santos, perseguido, preso e condenado à morte aos 18 anos, em 1971. No ano anterior, quando foi capturado junto ao companheiro político Paulo Pontes, Theodomiro pegou a arma que estava sob sua posse, já que os pertences não foram averiguados na viatura em direção à prisão e disparou três vezes, matando o Sargento da Aeronáutica Walder Xavier de Lima. A condenação à morte veio em 1971 e, no mesmo ano, foi revertida em prisão perpétua. Após fugir da prisão em 1979, ele ficou exilado na França e voltou ao Brasil em 1985, depois da anistia. De volta ao seu país de origem, ele reconstruiu a própria história, graduou-se em direito e decidiu fazer concurso público para o cargo de juiz do trabalho.

Após a aprovação, Theodomiro tomou posse em 1993 e chegou a presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho.
Juiz aposentado, Theodomiro morreu neste domingo (14), aos 70 anos, em Pernambuco, onde ele atuava. Desde 2018, convivia com as sequelas de um AVC hemorrágico.
Representação política
De acordo com Roberto Monte, integrante do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular, Theodomiro Romeiro, tem grande representação para o RN, já que nasceu em terras norte-rio-grandenses: “Theodomiro sai de Natal e vai participar da luta política na Bahia. Lá é preso, e nessa contenda, preso, algemado e espancado, elimina um de seus repressores. Na época tinha 18 anos, quase um menino. Vira símbolo de uma época, jovem de classe média, estudante do Colégio Marista potiguar, primeiro e derradeiro condenado à morte pela famigerada Lei de Segurança Nacional. Parte de uma juventude que resistiu a barbárie, de uma ditadura militar”.
Roberto Monte conta que, pouco depois da prisão de Theodomiro, a família Romeiro deixou a residência na Rua Cel. Cascudo, na Cidade Alta. Para ele, histórias como a de Theodomiro precisam ser contadas para mudar o rumo do que se tem hoje, um olhar além da tortura, do exílio e da morte: “A juventude que resistiu a barbárie de 1964/1968, era a fina flor dos jovens daquela época. Apesar das prisões, torturas e aniquilamentos, muitos seguiram em frente. Nilmário Miranda era jovem e idealista como Theodomiro, virou primeiro ministro dos direitos humanos do Brasil. Uma geração de idealistas e humanistas”.
Sua trajetória de luta possibilitou até os dias atuais o reconhecimento pelas suas reivindicações políticas, que segundo Divanilton Pereira, presidente do PCdoB/RN, Theodomiro está no rol dos lutadores populares que entregou a sua vida em defesa do país e da democracia: “O seu legado e a sua história dão a dimensão e a importância de lutarmos permanentemente em defesa da democracia”.
Apesar da luta e o reconhecimento pela trajetória, o presidente afirma que não existe um “lado bom” ao contar essas histórias, pois os efeitos de um regime da violência, do arbítrio sobre uma sociedade e a tortura sobre os seres humanos produzem sequelas douradoras e até eternas, mesmo ressaltando que é interessante contar o outro lado da história, que Theodomiro não mudou a própria história, mas que venceu a árdua batalha pela sua própria vida: “Foi vitorioso, ajudou a derrubar a ditadura militar. Com o feito, ele, mesmo juiz, atuou de uma forma militante também. Não à toa foi presidente da Associação de Magistrados Trabalhistas, ANAMATRA. É uma história de coerência política”.