O desabamento de oito casas, ocasionado pela queda do muro de contenção da Lagoa de Captação no bairro Neópolis, aconteceu em 21 de agosto. Mais de três semanas depois, o Diário do RN voltou ao local nesta quarta-feira (13) e conversou com os moradores que faziam um protesto para cobrar respostas da Prefeitura do Natal e também uma reunião com o Secretário Municipal de Infraestrutura (Seinfra), Carlson Gomes.
Os moradores afirmam que apenas uma lona foi colocada e nada mais foi feito no local até o momento. O sentimento de tristeza estava presente nos olhares daqueles que com cartazes observavam suas casas em escombros, que ainda tinham objetos pessoais dos moradores, além de lixeiras, organizadores de cozinha e vasos de plantas, um cenário trágico que reflete nos impactos do cotidiano abalado pelo desmoronamento.

Luzimar Medeiros, 53, não conteve a emoção ao recordar os momentos que vivenciou. “Todo dia eu choro. Estou me adaptando, é uma fase de adaptação agora, você mora há 27 anos em uma casa e de repente tem que se mudar, não é uma mudança que a gente quer, não é uma mudança que a gente programou, você acorda e no outro dia tem que se mudar”.
Luzimar precisou se mudar para um local mais distante por meio de um auxílio social que os moradores estão recebendo da prefeitura. Longe dos amigos, da vida que ela costumava conhecer há quase 30 anos morando no local, em sua casa ela também tinha um pequeno comércio de açaí, mas agora, ela não sabe como retomar a renda extra e nem a sua moradia: “Tudo que eles fizeram foram jogar essa lona aí e pronto. Nós queremos que isso tenha uma solução, uma posição da prefeitura, dos órgãos responsáveis”.
Após o desabamento, os moradores conseguiram sair em segurança pela parte da frente das residências, que tiveram danos maiores na parte traseira da estrutura. “Foi um barulho horrível, todo mundo acordou com um barulho horrível, mas todo mundo conseguiu sair das casas”, recordou Jailton Souza, autônomo de 55 anos. Durante a reportagem, muitos moradores agrupados falavam e relatavam sobre o ocorrido, os cartazes escritos em cartolinas, cobravam medidas efetivas da prefeitura e dos secretários.
Segundo os moradores, a revolta ainda é maior porque várias denúncias foram feitas a respeito dos riscos de desabamento, mas nenhuma medida foi tomada, até que ocorresse o pior, como destaca Maria Eliane: “Faz dois anos que tenho esse documento, foi quando eu tive que me mudar quando a casa estava ‘descendo’ e por medo eu me mudei. A Defesa Civil veio, eles até olharam, mas nada foi feito e está aí o resultado”.

Os moradores também afirmam que o desabamento só ocorreu porque a prefeitura ignorou os pedidos de ajuda e também não fazia a manutenção no local há mais de 15 anos. “Por exemplo, se você tem uma casa, você tem que fazer uma manutenção, uma pintura, aqui não estava sendo feito, só tiravam o ‘mato’. Isso aqui é um foco para dengue, zika e chikungunya, as lonas só estão servindo para isso mesmo”, destaca Francileide Dantas, 58.
A preocupação aumenta porque também existe o medo de novas ocorrências: “Uma casa como essa, se ela cair, ela arrasta tudo, e quem está na casa ao lado, vai ser arrastado também. O perigo é esse, se tiver uma chuva muito forte, o estrago é ainda maior”, diz Anderson Martins, 27, autônomo, que mora em uma das primeiras casas interditadas pela prefeitura. Ao todo, 9 residências estão interditadas, as famílias recebem um auxílio para pagamento de aluguel social e alguns moram com parentes enquanto ainda aguardam um desfecho da Prefeitura de Natal.
As famílias que deixaram suas casas a quase um mês, reivindicam uma reunião com o titular da Secretaria de Infraestrutura do município, Carlson Gomes, para saber sobre o cronograma das obras e detalhes sobre o projeto de contenção do muro e da topografia para os serviços que serão feitos na lagoa de captação.
Ao Diário do RN, a Seinfra afirmou que está no aguardo das respostas do estudo topográfico, “Só assim iremos entrar em campo para iniciar os serviços na lagoa”, destacou a assessoria da pasta. Além disso, pontuou que esse estudo deverá ser concluído até sexta-feira (15). A assessoria também destacou que a Seinfra fará os serviços na lagoa de captação até a próxima semana e que a situação das casas ainda está sendo debatida para definição de qual pasta ou pastas ficarão responsáveis pelo serviço.
MPRN abre procedimento para acompanhar situação dos moradores
A vereadora Ana Paula (Solidariedade) solicitou ao Ministério Público do RN apoio aos moradores que sofreram com o desabamento de parte das casas pela queda do muro de contenção da Lagoa de Captação e o MP abriu um procedimento.
A vereadora solicita o acompanhamento da concessão do aluguel social aos moradores atingidos, como também a intermediação deste Parquet junto ao Poder Público Municipal.
O documento ressalta que a situação de risco havia sido noticiada ao Município de Natal, através de suas pastas, por meio de 11 (onze) ofícios, “Não foram adotadas as devidas providências, restando na efetiva queda do muro em tela”, destaca a notificação enviada à Secretaria Ministerial para cumprimento com urgência.

