Se a política historicamente não foi feita por e para mulheres, o Poder Legislativo é reflexo direto disso. No caso da Câmara Municipal de Natal, fundada ainda em 1611, sua composição inicial consistia em um procurador, um juiz, um escrivão, um almoxarife e um “procurador dos índios” – todos, cargos masculinos. De lá pra cá, muita coisa mudou, as mulheres conquistaram o direito de trabalhar no espaço público, de votar e até serem votadas, mas as consequências da exclusão feminina na vida pública são sentidas até hoje.
Em 2024, as batalhas que travamos para incentivar e garantir candidaturas femininas no Brasil não são menos difíceis: no Rio Grande de Norte, estado que em 1928 elegeu a primeira Prefeita mulher no Brasil, apenas 16% das cadeiras ocupadas na ALRN são de deputadas, enquanto que 20% é o percentual de vereadoras mulheres na Câmara Municipal da capital. Ainda assim, os partidos insistem em burlar as cotas e se auto-anistiar por fraudes às regras de participação feminina na política.
Há tempos denunciamos que a ausência de mulheres, jovens, pessoas negras e LGBT nos espaços de poder fragiliza a formulação de políticas públicas para estes setores da sociedade. Assim, apesar dos avanços que alcançamos desde 1988, as desigualdades se perpetuam nas entranhas do Estado brasileiro.
No âmbito de Natal, eu, que me elegi com 21 e tomei posse com 22 anos, sou a Vereadora mulher mais jovem a ocupar uma cadeira. Apesar da idade mínima para vereança ser os 18 anos, ainda é exceção elegermos parlamentares jovens, especialmente quando não vêm de família tradicional da política. É triste ver que, apesar de toda a diversidade do povo brasileiro, o perfil de parlamentares ainda seja majoritariamente um só.
Costumo dizer que nosso mandato tem o objetivo de ecoar vozes que historicamente não puderam acessar o parlamento e sou muito feliz de perceber que temos cumprido essa missão. Trabalhamos muito para fazer de Natal uma cidade que garanta, com centralidade, políticas em prol do trabalho, transporte, pão, terra, cultura e uma vida sem violência. Sabemos que nossos sonhos não cabem só no parlamento, mas não temos dúvidas de que ele é sim parte importante dessa caminhada.
Esse ano, coloco meu nome novamente à disposição de Natal, pelas pessoas que confiaram no nosso projeto em 2020, por quem, ao longo do mandato, passou a construir esse projeto conosco, por quem confia no nosso jeito de fazer política. Sou pré-candidata à reeleição na Câmara Municipal mas, dessa vez, quero ser vereadora na Câmara com Natália Bonavides na Prefeitura. Lutaremos juntas por uma cidade mais justa para todas as pessoas. Sabemos que é possível.