Considerado pelo prefeito de Natal como um dos legados da sua gestão, Álvaro Dias (Republicanos) não quis deixar para o sucessor Paulinho Freire (UB) o crédito da inauguração do Hospital Municipal, iniciado na sua gestão. Na tarde desta segunda-feira (30), a inauguração da primeira etapa do equipamento foi realizada, mesmo sem existir ainda condições plenas de funcionamento da unidade.
O vereador Luciano Nascimento (PSD), presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, em conversa com o Diário do RN, criticou o evento realizado por Álvaro Dias. Ele informou que o Hospital não está pronto para o funcionamento, conforme apurou com o secretário de Saúde de Natal, Chilon Batista. De acordo com Luciano, a solenidade é um desrespeito à população natalense.
“A partir de amanhã, quantos leitos estarão funcionando? Nada está pronto para o atendimento. O que está sendo inaugurado é apenas a estrutura física, sem qualquer previsão de funcionamento. Isso é desrespeitoso. Se fosse para ser transparente, o prefeito deveria ter ido para frente do Hospital e feito um vídeo: ‘Estou terminando minha missão, fizemos uma obra importante, necessária. Estamos deixando metade dessa estrutura pronta. Eu tenho certeza que o prefeito que a gente apoiou vai continuar a todo vapor essa obra, entregar uma importante obra pra Natal”, afirmou Luciano.
O vereador reforçou que não iria para o evento, classificando a inauguração como uma “palhaçada”. Ele também lembrou que essa não é a primeira vez que a gestão promove inaugurações de obras inacabadas: “Ele fez isso com o mercado público [da Redinha], com outras estruturas, mas estamos falando de um hospital, algo que envolve diretamente a saúde e a vida das pessoas”.
Na próxima legislatura, que terá início na próxima quarta-feira (1º), Luciano Nascimento deve deixar a presidência da Comissão de Saúde, mas como membro e parlamentar, garante que continuará fiscalizando a viabilização para funcionamento do Hospital na gestão de Paulinho Freire.
“A população que adoecer e procurar o hospital amanhã vai se deparar com um prédio vazio, sem leitos e sem atendimento. Isso é inadmissível. Enquanto presidente da Comissão de Saúde, vou continuar vigilante e cobrando que essa inauguração ‘de verdade’ aconteça o mais rápido possível”, destacou Nascimento.
Álvaro Dias: “Esta é a obra da minha gestão”
Durante a solenidade de inauguração da primeira etapa do Hospital Municipal, num pequeno palanque que abrigou cerca de 20 autoridades, entre secretários, vereadores e presidentes de entidades, o prefeito Álvaro Dias colocou a unidade de saúde como um dos projetos na “pole position” da sua gestão. Para ele, o hospital e a engorda de Ponta Negra foram as obras mais importantes entregues por ele. No entanto, nenhuma das duas está efetivamente concluída.
Apesar do prefeito afirmar que o Hospital “está pronto para funcionar”, com salas e cerca de 100 leitos montados, o secretário Municipal de Saúde, Chilon Batista, admite que ainda é necessária a instalação dos sistemas operacionais para funcionamento dos leitos, assim como a contratação de todo o pessoal para operar na unidade.
Portanto, mesmo que o novo prefeito queira inaugurar de imediato, ainda é necessário um processo burocrático para que a população possa finalmente usufruir dos serviços de internação em saúde. Não há previsão de quando o Hospital terá condições de atender a população.
Em entrevista à reportagem do Diário do RN, durante a inauguração, o prefeito se recusou a responder questionamento sobre as pendências para que o Hospital inaugurado realmente funcione. Perguntado sobre a crítica do vereador Luciano Nascimento sobre a situação, o prefeito sorriu e respondeu: “Sem resposta”.
Apesar da cerimônia de inauguração, o futuro da operação do hospital dependerá de Paulinho Freire, que assume o cargo em dois dias.
“A primeira etapa está completamente concluída, com todos os equipamentos necessários para funcionar imediatamente. Agora, sabemos que o futuro prefeito terá de decidir se coloca ou não o hospital em funcionamento, mas ele está realmente pronto, preparado e equipado”, garantiu Álvaro.
Já o secretário Municipal de Saúde, Chilon Batista, admitiu que, embora a estrutura esteja em fase avançada, o hospital ainda não está pronto para funcionar imediatamente.
Segundo o secretário, a obra como um todo está dividida em etapas. Esta primeira, que inclui o anexo com cem leitos, inaugurado nesta segunda, representa cerca de 70% da etapa inicial do projeto total. Esta primeira etapa equivale a apenas 20% do hospital completo.
“70% da primeira etapa já está concluída. A segunda etapa já foi iniciada, e o anexo que compõe esses cem leitos está finalizado e mobiliado. Falta a nova gestão dar prosseguimento à contratação do pessoal, tanto administrativo, quanto médico e de enfermagem, além de concluir a instalação de sistemas e computadores, que já foram adquiridos. A empresa entregou a infraestrutura apenas na semana passada, então não deu tempo de finalizar tudo”, esclarece o secretário.
Investimento e infraestrutura
O secretário também mencionou que a estrutura será usada principalmente para desafogar as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da cidade, recebendo pacientes que necessitam de internação e que atualmente permanecem nas UPAs por falta de leitos hospitalares.
“Esses cem leitos serão utilizados para atender pacientes que estão nas UPAs e precisam de internação. Hoje, muitos ficam nas UPAs por não haver regulação disponível. O hospital será um alívio importante para essa demanda”, ressalta Chilon.
Segundo Álvaro Dias, o hospital contará com 250 leitos quando estiver concluído, tornando-se o maior hospital da cidade. A primeira etapa, que inclui os cem leitos de enfermaria, teria custado cerca de R$ 40 milhões, enquanto o custo total da obra está estimado em R$ 140 milhões.
“Temos recursos encaminhados por emendas parlamentares impositivas e coletivas, ainda não liberados, mas garantidos. A continuidade da obra será responsabilidade do futuro prefeito, que poderá liberar esses recursos paulatinamente para a conclusão do hospital”, observa Dias.
A primeira etapa deverá incluir, entre médicos, enfermeiros, auxiliares e equipe de infraestrutura, em torno de 1.000 novas contratações. Caberá a Paulinho Freire a decisão sobre como deverá proceder a seleção de pessoal.
A programação fez parte de uma “Maratona de inaugurações”, anunciada nas redes sociais da Prefeitura do Natal, para esta segunda (30) e terça-feira (31), penúltimo e último dia da gestão Álvaro Dias. Além do Hospital, a Maratona incluiu inauguração da Rua Nossa Senhora do Ó, do Mirante da Ladeira do Sol e asfalto da Getúlio Vargas e do Asfalto Novo da Avenida Café Filho (Praia do Meio).
O Hospital Municipal de Natal deverá funcionar na avenida Omar O’Grady, no bairro Pitimbu, em frente à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Cidade Satélite.