Alguns meses depois de resistir a um processo de fritura dentro do Governo Lula, Jean-Paul Prates se tornou ex-presidente da Petrobras. A demissão que aconteceu nesta terça-feira (15) surpreendeu a classe política, os petroleiros e o mercado. No Estado potiguar, que abrigou Jean-Paul, políticos de diferentes espectros ideológicos são unânimes em lamentar pelo Rio Grande do Norte.
Companheira de Prates, a governadora do RN se manifestou sobre a demissão quase 15 horas depois, através da rede social X. Fátima Bezerra (PT) não citou o presidente Lula e a crise entre os Ministros do PT e o ex-presidente da estatal.
“Toda gratidão ao companheiro e amigo Jean-Paul Prates por sua dedicação enquanto presidente da Petrobras. Jean adotou importantes medidas à frente da estatal, com foco na transição energética, pondo fim ao desinvestimento da Petrobras no RN e com a criação da diretoria de transição energética e de sustentabilidade no nosso Estado. Além disso, foi o responsável por relevantes investimentos no projeto da margem equatorial, que teve seu pontapé inicial no Rio Grande do Norte. Todos sabemos da sua contribuição para o avanço e reconstrução do Brasil”.
Há cerca de 15 dias, a gestora estadual se posicionou uma vez sobre os conflitos que aconteceram entre Prates e os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Deu recado sobre sua preferência no dia 30 de abril, durante assinatura de Memorando de Entendimento para Desenvolvimento de Projeto em Energia Eólica Offshore. Com a presença de Prates, Fátima entoou “Fica Petrobras, fica Jean-Paul” em meio ao discurso.
Bancada federal
Da bancada federal potiguar, o senador Styvenson Valentim (Podemos) questiona a falta de posição da governadora do Rio Grande do Norte no processo de demissão de Prates.
“Se Fátima tem esse prestígio todo, essa abertura toda com o presidente Lula, a nossa governadora não tomou partido em relação ao Jean Paul – porque a gente perder uma cadeira no governo como a presidência da Petrobrás – ou ela simplesmente cruzou os braços, foi pra Europa, fez vista grossa e deixou ele sair? Eu acho que essa pergunta é crucial”, destacou em conversa com o Diário do RN.
Oposição ao PT, Styvenson critica também a pouca atuação do Governo Federal junto ao Governo Estadual: “O que está indo para o Rio Grande do Norte não é do Governo Federal. É recurso de empréstimo, é dinheiro parlamentar, nada está acontecendo, então mais uma decepção, ele (a demissão de Jean) é mais uma decepção, eu creio que se eu for base de um Governo e eu tiver um aliado meu num cargo e ele for sair, com certeza ele ia brigar por ele”, complementa.
Outro senador da oposição ao Governo Federal, Rogério Marinho (PL) se manifestou nas redes sociais sobre a alteração na Petrobras. O parlamentar criticou o presidente Lula. Para ele, o posicionamento de Jean-Paul na administração da estatal era uma de “suas poucas virtudes”.
“O presidente Lula demite o presidente da Petrobras não por seus defeitos, mas por levar minimamente em consideração valores de mercado, ou seja, uma de suas poucas virtudes. Mais intervencionismo e aparelhamento em nossa maior empresa. O final, todos já conhecemos! #PadrãoPT!!”, postou Marinho.
Partidário de Marinho, o deputado federal General Girão (PL) questiona as intenções do PT e elogia indiretamente Jean-Paul em seu posicionamento sobre a distribuição dos dividendos da empresa: “Infelizmente, nada mudou. Será que os acionistas terão a garantia do recebimento dos seus dividendos? Espero não estarmos diante de um Petrolão 2.0”.
O deputado Paulinho Freire (UB) também conversou com o Diário do RN. Ele avalia a perda de credibilidade do país perante o restante do mundo: “Sabemos que essa estratégia de troca de presidentes afeta a credibilidade do país e para tentar equilibrar, o Banco Central vai precisar manter juros altos e dólar alto. Isso tem consequências diretas no bolso do brasileiro, porque muito do que consumimos depende de juros e dólar”.
Para ele, a decisão tomada pelo presidente Lula leva em consideração um projeto de poder: “O que vimos com a demissão de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras foi o PT, mais uma vez, sendo PT. Prates mostrou que vinha atuando de maneira que deu algum resultado à Petrobras. Mas os resultados não importam para o partido dele. O modo como a maior empresa do país está sendo afetada, também não importa para o partido dele. Como isso vai afetar a credibilidade do país internacionalmente, não interessa ao PT, ou como isso vai interferir no bolso dos brasileiros, também não faz diferença. Isso significa que o único compromisso é com o projeto de poder do partido, às custas, ignorando ou sem considerar as consequências de como o Brasil vai pagar essa conta”.
Já os deputados que compõem a bancada federal do PT preferiram não entrar no mérito da decisão e não citar a crise interna no Governo envolvendo a Petrobras.
“Não espero e nem torço para que hajam perdas. Desejo o contrário. E espero que a nova presidenta dê sequência às ações relacionadas à entrada da Petrobras na área das energias renováveis, que foram implementadas por Jean Paul. Espero, também, que as ações da empresa que foram iniciadas no RN tenham sequência e sejam ampliadas e consolidadas”, afirmou o deputado Fernando Mineiro (PT) ao Diário do RN.
Natália Bonavides focou em destacar ações de Jean-Paul à frente da estatal e agradeceu: “Agradecemos ao companheiro Jean-Paul Prates pelo tempo à frente da Petrobras e pelo trabalho realizado na companhia. Sua importante atuação nas ações de transição energética colocou o RN no centro desse debate. Jean reabriu a sede da estatal no nosso estado com foco na sustentabilidade, energias renováveis e integração energética. Foi uma gestão que contribuiu muito para o desenvolvimento do nosso país”.