Ana Lícia Souza, 40 anos, gastróloga. Recentemente, fez cursos para ingressar na marinha mercante e aguarda o primeiro embarque. Mas até chegar aqui, viveu uma trajetória marcada por lutas para conquistar espaço em áreas, historicamente, dominadas pelos homens.
“Quando eu trabalhava com a informática, não tinha mulher na área. Eu fiz o curso, e era a única mulher. Quando fui trabalhar, tive muita dificuldade de entrar no mercado e teve lugar que eu claramente tive uma resposta negativa que eu sabia que era por ser mulher. E eu tinha a confirmação porque amigos meus que estavam trabalhando no lugar me indicavam porque queriam que eu trabalhasse, me conheciam, conheciam minha competência, sabiam da minha capacidade, mas o chefe não queria e falou claramente que não acreditava que eu pudesse trabalhar bem como homem. Demorei muito para conseguir entrar no mercado da informática, mas acabei conseguindo e provei realmente meu valor e consegui me manter dentro da área enquanto quis”.
Aí veio a segunda formação, em gastronomia, e novamente o preconceito: “Adoram dizer que o lugar de mulher é na cozinha, mas quando chega no mercado não é na cozinha. Aí, lugar da mulher é na recepção, secretária, o mercado da cozinha é predominantemente dos homens também. Existem cozinheiras maravilhosas, a gente sabe, chefes renomadas e tudo mais. A gente sabe das cozinheiras de casa, o potencial delas também, mas o mercado predominante é de homem. É um trabalho pesado, mas que mulher aguenta, por que não? Se mulher aguenta carregar filho, aguenta cólica, aguenta dor de menstruação todo mês, por que não vai aguentar a cozinha?”
Sem sair das cozinhas, Lícia resolveu ir atrás de um sonho de infância: “Entrar na Marinha Mercante por um sonho de infância, onde trabalhou meu pai, que não queria que eu entrasse no mercado por saber o quanto que é pesado, o quanto que é machista. Então ele não queria me ver passando por isso, mas eu sou teimosa e quando eu quero uma coisa, eu quero e eu corro atrás.
Então eu resolvi ir atrás, estou atrás disso e estou tentando. Já recebi negativas de algumas empresas que eu soube claramente, tenho até print de tela mostrando isso, a empresa disse que não aceitava mulher porque nem todo navio aceita tripulação mista, então não emprega mulher no cargo de cozinheiro. Mas, graças a Deus, existem empresas que não pensam assim, e graças a isso que eu estou me dedicando e logo vou entrar em uma que me aceite”.
ROSÂNGELA SILVA:
A presidenta da Colônia de Pescadores de Natal, Rosângela Silva, revela que apesar da profissão de pescador ser prioritariamente masculina conseguiu conquistar seu espaço e respeito:
“Ingressei na Colônia em 1999, exercendo o cargo de secretária. Em 2002, me candidatei pela primeira vez a presidência disputando com um homem e ganhei. Hoje estou no meu quarto mandato. A descriminação é muito grande por ser mulher, mas foi com o meu trabalho que conquistei a confiança de mais de 90% da classe de pescador”.
“Hoje também estou como vice-presidenta da Federação de Pescadores do Rio Grande do Norte e sou Coordenadora Nacional da Articulação Nacional das Pescadoras. Sofri muito preconceito por todos os lugares que passei, mas pelo meu desempenho e trabalho consegui o respeito da categoria e de autoridades do segmento”.
“Sou feliz com o que faço, minha profissão e o maior desafio que temos é que as mulheres vençam esse preconceito e todos olhem para nós e vejam que existem mulheres pescadoras”.
Maria Aparecida Freire, sinaleira em um parque eólico na Serra do Tigre, em campo grande/RN
“É através desse processo de sinalizar, que as máquinas e os automóveis trabalham com mais segurança. A profissão de sinaleira é, no meu ponto de vista, uma das profissões mais importantes na área da construção civil. Porque sem as sinaleiras, a obra para. Requer muita atenção, foco e determinação. Sempre tive curiosidade de viver o novo em minha profissão.
Quando essa oportunidade surgiu, procurei fazer parte desse novo mundo. Mais uma vitória conquistada dentro do respeito e valorização feminina”
Deborah Moura, engenheira civil há 22 anos
“No início, era raro encontrar mulheres em cargos de liderança, o que criava muitos obstáculos no ambiente de trabalho. Hoje, a situação já é um pouco mais diferente, mesmo com a cultura masculina presente em alguns canteiros de obras, podendo gerar situações de preconceito e discriminação. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas tenho visto progressos significativos nos últimos anos. É fundamental investir em políticas de igualdade de gênero, capacitação profissional e combate ao assédio no ambiente de trabalho. Além disso, é preciso desconstruir a ideia de que certas funções são exclusivamente masculinas, incentivando meninas, desde cedo, a considerarem carreiras nas áreas de engenharia e construção. Uma das principais contribuições que percebo da mulher nessa área, é a diversidade de perspectivas e a habilidade que as mulheres trazem para a equipe. Em geral, elas tendem a ser muito organizadas, comunicativas e focadas em soluções, o que pode agregar muito valor em um ambiente de trabalho colaborativo”