Por Edinilza Ramos
Nesta quinta-feira (19), será lançado o livro 60 Anos do Golpe Civil-Militar no Rio Grande do Norte, uma obra que revisita a história do golpe de 1964 sob uma perspectiva local, trazendo à tona os acontecimentos que marcaram o período antes, durante e após o golpe no país. O evento acontecerá às 9h, no Auditório Zila Mamede da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com organização de Maria da Conceição Fraga, João Maria de Souza Fraga, Aipê Editora e Caravela Selo Cultural.
Em entrevista ao Diário do RN, João Maria de Souza Fraga explicou a importância do livro ao destacar o foco na história do Rio Grande do Norte, uma área muitas vezes negligenciada nas análises do golpe. “Esse tema, quando tratado, geralmente é centrado em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, criando a impressão de que o golpe se limitou a essas regiões. Mas a realidade é outra: o golpe aconteceu em todo o Brasil, e não poderia ser diferente aqui no Rio Grande do Norte”, afirmou.
A obra é composta por seis partes que discutem, com profundidade, desde a historiografia sobre o golpe até os impactos na resistência local. O primeiro bloco trata das produções acadêmicas sobre o golpe na região, com capítulos que abordam desde a repressão à campanha de alfabetização “Pé no chão também se aprende a ler” até as perseguições a militantes, como os trabalhadores da extração de sal em Macau, um dos focos do movimento sindical no estado.
Outro destaque é a parte que revisita a trajetória de militantes perseguidos, como Luiz Maranhão Filho, Glênio Sá e Luciano de Almeida, figuras emblemáticas na luta contra a ditadura no Rio Grande do Norte. O livro também aborda a postura da Igreja Católica e da OAB diante da ditadura, além da resistência estudantil, com ênfase no protagonismo das mulheres na luta pela democracia dentro das universidades potiguares.
A obra conta com a colaboração de 17 pesquisadores, incluindo mestres e doutores, e é organizada pelos professores Maria da Conceição Fraga e João Maria de Souza Fraga. Em suas palavras, João Maria destacou o valor dessa coletânea de conhecimentos acadêmicos sobre a ditadura no Brasil: “Este livro é um retrato do esforço coletivo de acadêmicos que, por meio de dissertações, teses e artigos, buscam apresentar os diversos recortes da história do golpe e da resistência, uma memória que deve ser preservada e entendida para que possamos refletir sobre os desafios atuais à democracia.”
O livro, mais do que um registro histórico, ganha relevância diante do cenário atual, como ressaltou João Maria: “O estudo do golpe de 1964, ocorrido há 60 anos, se torna ainda mais crucial hoje, em um momento de crise da democracia e de ameaças ao estado democrático de direito, como vimos no 8 de janeiro de 2023, quando a sede dos três poderes foi invadida.” A obra busca não só recordar o passado, mas também fornecer elementos para compreender os desafios políticos e sociais do presente.
A colaboração entre os organizadores e autores tem raízes profundas na trajetória acadêmica e de pesquisa, principalmente na UFRN, onde muitos dos envolvidos desenvolvem seus estudos sobre o impacto da ditadura na história local. A parceria entre Maria da Conceição e João Maria Fraga, promove uma análise detalhada e comprometida com a memória do estado.
O lançamento do livro será um momento para refletir sobre as cicatrizes deixadas pelo golpe civil-militar no Rio Grande do Norte e para lembrar a importância da preservação da memória histórica, essencial para a construção de uma sociedade mais democrática.