O falecimento do Padre Sátiro Cavalcanti Dantas, de 93 anos, anunciado pela Diocese de Mossoró nesta segunda-feira (27) comoveu não somente à Igreja Católica, mas também ex-alunos que tiveram sua trajetória educacional entrelaçada aos ensinamentos do padre que, além de 69 anos de devoção ao sacerdócio, era conhecido como ‘homem das letras’ e pelos trabalhos feitos com empenho na educação. Teve diversas obras publicadas, o que lhe concedeu a cadeira 11 da Academia Mossoroense de Letras (AMOL).
Ex-alunos lamentaram a perda de Padre Sátiro Cavalcanti e relataram com saudosa emoção os tempos de colégio, pois no período de 1956 a 2016, Padre Sátiro dirigiu o Colégio Diocesano, e era diretor emérito da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.
“Na minha educação pessoal, ele foi uma pessoa de muita relevância e de muito valor, com muita tristeza eu recebo a notícia da morte dele. Vi recentemente e, mesmo ele hospitalizado, conversamos sobre o passado, o presente e ele falando com muito entusiasmo do futuro. Acho que a morte dele vai deixar uma lacuna quase que impreenchível na igreja e na educação do RN”, ressalta o economista Elviro Rebouças, de 77 anos, que estudou no Colégio Diocesano e teve com Pe Sátiro uma relação afetuosa que ultrapassou os muros da instituição e se propagou ao longo dos anos.
“Eu fui muito mais do que um ex-aluno. Padre Sátiro fez a minha primeira comunhão, era o padre que a gente assistia à missão de domingo na Igreja São Vicente, um educador por natureza. Se eu pudesse usar uma palavra para defini-lo, seria gigante da educação, uma figura que dedicou a vida a ensinar, educar e aconselhar pessoas. Lamento profundamente a perda!”, afirmou o jornalista Ricardo Rosado, 71.
O mossoroense, jornalista e colunista social Toinho Silveira, 72, disse estar surpreso com o ocorrido ao mesmo tempo que grato por Padre Sátiro ter feito parte de sua formação educacional.
“Estou muito emocionado com a perda de Padre Sátiro, ao qual tenho muita admiração, pois estudei no Diocesano, uma escola conceituada que honrosamente fui aluno. Perdi um grande mestre da educação!”.
Vidas impactadas além dos muros das instituições de ensino

A médica veterinária Aracely Ricarte, 41 e o marido Marcos Júnior, 46, que é Gestor de Vendas estudaram juntos em 1996 no Colégio Diocesano e de forma saudosa relembram que desde o colégio, o Pe Sátiro já dizia que a relação deles ia ‘dar namoro’. Anos depois, o namoro de escola se tornou uma paixão que Padre Sátiro celebrou com um belíssimo casamento realizado há 17 anos.
“Durante a celebração, era impressionante como esse padre tinha a capacidade de nos falar exatamente aquilo que a gente estava precisando ouvir. Era impressionante a sua sabedoria, a sua espiritualidade. E deixou todo mundo encantado mesmo com a celebração. Foi algo realmente muito especial que a gente sempre guardou”. Hoje, o casal tem dois filhos, também ex-alunos do Colégio Diocesano, e mora em Portugal. Mesmo de longe, com pesar, lamentam a perda do decano.
Outra ex-aluna, a jornalista mossoroense Juliana Fernandes, 36, afirma que Padre Sátiro era tão querido por todos na instituição Diocesana que ir pra direção por mau comportamento não amedrontava ningué, pois a sala de Pe Sátiro era um sonho, sempre tinha muita conversa e chocolate, todos queriam ir. “Estudei minha vida escolar toda no Diocesano, terminei em 2004 o ensino médio. Tenho as melhores lembranças da escola. E de Padre Sátiro mais ainda. Ele era muito presente na vida escolar. Sempre estava nas reuniões com os pais, circulando pela escola. Qualquer aluno ele recebia na sala dele. E apesar de toda autoridade que ele passava por ser diretor, a gente amava ele. Sempre foi muito carinhoso, gostava de conversar quando nos encontrava no corredor. Eu costumava dizer que ele parecia um avô de todo mundo porque misturava essa seriedade com aquele carinho genuíno”, finaliza.
Governadora Fátima e prefeito Allyson lamentam perda e decretam luto oficial

O prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (União), fez uma postagem em rede social. “Estou decretando luto oficial por 5 dias no Município de Mossoró. Lamento e me solidarizo com toda a Diocese pela perda. Já conversei com o Bispo Dom Mariano, prestando minhas condolências e atos oficiais em homenagem a esse importante ícone da nossa história”. Allyson também cancelou o evento do Mossoró Realiza 2ª fase e adiou a agenda em Brasília.

A governadora Fátima Bezerra (PT), também usou as redes sociais para lamentar com profunda tristeza a perda. “O Rio Grande do Norte perde um grande exemplo e eu perco um grande amigo. Padre Sátiro é uma referência não apenas para Mossoró, mas também para o RN e o Brasil.
Grande defensor da educação, foi o idealizador da UERN, onde ocupou o cargo de reitor, presidiu o Conselho Estadual de Educação do RN, dirigiu o Colégio Diocesano Santa Luzia e tantos outros feitos”.
A simplicidade que veio do berço
Filho de seu João Fernandes Dantas e de Dona Erondina Cavalcanti Dantas, Pe Sátiro nasceu na Comunidade Pedra, no município de Pau dos Ferros, em 22 de janeiro de 1930. Ordenado padre em 1954, dentre seus 93 anos, 69 foram de dedicação ao sacerdócio.
Uma missão na educação
Em 1956, o padre Sátiro recebeu a primeira grande missão de educador, ao ser nomeado secretário-geral do Colégio Diocesano Santa Luzia de Mossoró, onde também foi professor das disciplinas: História Geral e Moral e Cívica, no período de 1956 a 1973. Sátiro ainda lecionou na Escola Normal de Mossoró, ingressando em 1º de março de 1956. Em 1° de janeiro de 1961, quando foi nomeado diretor do Colégio Diocesano Santa Luzia, pelo então bispo Dom Gentil Diniz Barreto, onde permaneceu até o dia 9 de junho de 2016, sendo substituído, a seu pedido, pelo padre Charles Lamartine.
O homem das letras e do devocional
Sátiro foi uma das peças chaves para a estadualização da UERN, antes chamada de Universidade Regional do Rio Grande do Norte (URRN). O padre ocupou o cargo de reitor pro-tempore da URRN em 1985, após uma crise política que derrubou o então reitor Laplace Rosado. A estadualização foi conquistada em 1986 e ele ficou na função até julho de 1987.
Dentre diversas obras e artigos publicados, destaca-se: Contribuição de Leão XIII à Questão Social, 1966; Evasão Escolar – Coleção Mossoroense N° 159; Educação – Crônica – pela Coleção Mossoroense N° 167; O Fenômeno das Secas no Nordeste Coleção Mossoroense N° 210. Padre Sátiro ocupou diversos cargos dentro da igreja, dentre elas, Cooperador da Paróquia Areia Branca; Capelão Eclesiástico da Juventude Estudantil Católica – JEC; Membro do Conselho Presbiteral da Diocese de Mossoró, Vice-presidente da Fundação Santa Luzia 1985-1989, Vigário cooperador da Paróquia do Alto São Manoel.