Paira um silêncio macio no luar já maduro;
E um pensamento esvoaça pelo céu escuro
De meu cérebro, a remastigar uma questão:
Qual sentimento mais profundo eu nutriria,
Além de um êxtase, do fascínio e da poesia,
Por uma lua que quase não me dá atenção?
Fito-a, e seu olhar ela no meu olhar encosta
Esperando, curiosa, que eu dê uma resposta
À pergunta insone girando em minha mente.
Na maciez do silêncio, tão trôpego de vinho,
Respondo, sinceramente, bem de mansinho:
O que sinto é gratidão, e a gratidão somente.
A verdade, lua, é a verdade que eu descobri:
Se você não estivesse aí, eu não estaria aqui;
Você nasceu no céu e encheu a Terra de vida.
E tudo se principia com astros numa colisão,
Que fez a Terra girar como um celestial pião
Com os dias curtos e as estações reprimidas.
Mas, sua força freou a rotação, o dia alongou
E esticou o tempo para dotar bactérias de cor
Da condição de suar oxigênio por eras e eras;
Razão de novas vidas, e cada que aqui nasceu
(Seja flor, beija-flor, arraia, teiú, abelha ou eu)
Deve lhe orar uma prece de gratidão sincera.
Pitangui, 21/07/2024.