Por Carol Ribeiro
“Até onde nos foi relatado, ele foi questionado como se isso fosse uma proposta em andamento e ele respondeu como se assim o fosse, quando não era”. A ponderação é do secretário-chefe de Gabinete Civil do Governo do RN, Raimundo Alves, um dos articuladores do PT, sobre a ideia do deputado estadual Bernardo Amorim (PSDB) de antecipação de renúncia da governadora Fátima Bezerra (PT) para janeiro, e não no final de março, prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral.
A declaração de Dr. Bernardo Amorim foi dada na última quarta-feira (16), ao Diário do RN. “O ideal seria Walter assumir a partir de janeiro, mas essa decisão cabe ao Governo. O ideal seria a partir de janeiro, mas aí eu não sei se a governadora se dispõe a isso, né?”, disse ele na ocasião. O parlamentar da base governista avaliou que Walter Alves assumir o governo antes do prazo definido pela legislação facilitaria o trabalho de fortalecimento das bases aliadas. Ele ainda disse que se o filho de Garibaldi tivesse tido mais espaço no Governo de Fátima, poderia ter se viabilizado como candidato a governador do grupo: “Talvez até a realidade fosse outra. Quem sabe Walter não seria o candidato a governador se a coisa tivesse sido diferente, né?”, colocou.
No dia seguinte (17), após o silêncio de alguns nomes do Partido dos Trabalhadores, o pré-candidato do PT ao Governo do RN, Cadu Xavier, falou sobre o assunto publicamente. À rádio Jovem Pan, ele descartou a ideia. “A governadora tem um compromisso com o Rio Grande do Norte e precisa ir até onde for possível dentro do mandato dela. A data que é possível ela ficar é 31 de março, aí sim ela passa o Governo para o vice-governador Walter Alves”, afirmou o petista.
Já no último sábado (19), Raimundo Alves, ao jornal Agora RN, classificou o assunto como “tentativa frustrada de criar cizânia” entre a governadora Fátima e o vice Walter Alves.
Nesta segunda-feira (21), o interlocutor de Fátima Bezerra conversou com o Diário do RN. Ele defendeu que o deputado estadual Bernardo Amorim não teve a intenção de causar desconforto político, mas afirmou que a forma como o tema foi tratado pela imprensa acabou sendo utilizada para tentar semear divisão dentro do grupo governista.
“De maneira alguma o deputado Dr. Bernardo teria interesse em criar cizânia. Ele é vice-líder do governo na Assembleia, portanto de total confiança da governadora, e deverá estar se filiando ao MDB, portanto igualmente de confiança do vice-governador e presidente do MDB no RN, Walter Alves. Acho que sim, houve uma tentativa de criar cizânia entre a governadora Fátima e o vice Walter ao se levantar esse tema através da imprensa, sem sequer, em momento algum, isso ter sido tratado”, sustentou Raimundo.
Sobre a declaração de Cadu, Raimundo Alves opina que a declaração foi tirada de contexto. “Mais uma coisa tirada do contexto. O Cadu se referiu ao fato de que existe uma transição gradual do governo de Fátima para o futuro governo Walter, devidamente acertada entre os dois e que só será concluída em 02 de abril de 2026”, disse. Raimundo se refere a frase dita por Cadu Xavier na Jovem Pan: “Eu não acho nem que seja bom para o Rio Grande do Norte, nem bom para o vice-governador e nem bom para a governadora. Ela tem o prazo até 31 de março de 2026, quando ela vai renunciar ao cargo”.
Para o Chefe do Gabinete do Governo, “não é interessante para ninguém qualquer alteração nesse cronograma, e ele será cumprido impreterivelmente conforme acertado entre Fátima e Walter”.
Ele também negou que haja qualquer tipo de cobrança dentro da base aliada para que Fátima antecipe sua saída do cargo. “Não há por que termos quaisquer dúvidas sobre o engajamento de qualquer um dos aliados, muito menos do vice-governador Walter e do deputado Ezequiel. O vice-governador Walter, com quem nós conversamos diariamente, tem demonstrado muito incômodo com o fato desse assunto vir à tona dessa forma e reafirmou que em nenhum momento ele pensa num calendário diferente desse, que deverá ser cumprido sem alterações”, disse.
A afirmação vai de encontro a informações de bastidores obtidas pelo Diário do RN. Parte de aliados dos partidos comandados por Walter e Ezequiel – parceiros políticos – são entusiastas da ideia de mudança da dinâmica do poder assim que Walter estiver oficialmente no cargo, mesmo que ele insista em dizer que não será candidato ao Governo. Os aliados sentem falta de mais espaço político e maior protagonismo para o MDB e o PSDB, partidos que, juntos, garantem sustentação à gestão petista em mais de 60 municípios do Estado.