Enquanto os senadores Jean Paul Prates (PT) e Styvenson Valentim (Podemos) assinaram requerimento para instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as responsabilidades pelos atos antidemocráticos cometidos por terroristas bolsonaristas em Brasília neste domingo (8), o deputado federal General Girão (PL) seguiu no sentido contrário e, junto a outros sete parlamentares do PL – partido de Jair Bolsonaro -, iniciou o recolhimento de assinaturas para tentar instalar uma CPI contra supostos excessos nas prisões dos criminosos que invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes da República.
Questionado pelo Diário do RN sobre o fato, Girão disse que eles estão iniciando os movimentos, mas nada foi assinado ainda porque o sistema fica suspenso no recesso parlamentar. Além dele, já endossaram o pedido de instalação de CPI os deputados bolsonaristas Carla Zambelli, Carlos Jordy, Capitão Alberto Neto, José Medeiros, Júnior Amaral, Marcelo Álvaro Antônio e Sóstenes Cavalcante.
O grupo tem tentado minimizar o terrorismo, alegando não se tratar de uma tentativa de “isentar aqueles que cometeram crimes, mas, sim, resguardar os direitos daqueles que estiveram no local, mas não compactuaram com atos de vandalismo e violência”. Para eles, houve prisões ilegais neste domingo e elas devem ser investigadas. Questionado sobre o fato, Girão não quis se pronunciar mais.
Para o vice-presidente estadual do PT, Daniel Valença, a coragem dos parlamentares bolsonaristas em falar que houve prisões ilegais nos atos de terrorismo em Brasília é impressionante. Ele defende que o que ocorreu neste domingo não foi apenas um episódio de vandalismo único na história do Brasil. Mas também uma ação fascista, articulada, que envolve desde Jair Bolsonaro a empresários, membros da cúpula das forças armadas, o governador do Distrito Federal e apoiador do ex-presidente, Ibaneis Rocha, e seu secretário de segurança, entre outros.
“É de uma cara de pau sem tamanho, para dizer o mínimo, falar em prisões ilegais. Todos os que estavam naquele ato de terror que aconteceu ontem em Brasília são responsáveis pela destruição e devem ser processados, punidos, presos. Crimes foram cometidos a olho nu e a luz do dia na cúpula dos poderes e quem defende esta gente é cúmplice”.
E completou: “Isso confirma que os acampamentos, os atos de rua e movimentações dessa gente nunca foram democráticos. Quando a institucionalidade não respondeu firmemente desde o princípio, abriu-se o caminho para a escalada fascista. Enquanto Bolsonaro e sua rede de apoio não forem condenados por seus crimes, o país não terá paz, pois eles sempre acharão que é possível subir um degrau em suas ações. É absurda a comparação dos atos bolsonaristas com os das esquerdas, pois eles defendem golpe de Estado com atos de vandalismo, enquanto nós sempre lutamos por direitos e a melhoria da vida da classe trabalhadora”.
Para o deputado federal eleito Fernando Mineiro (PT), as prisões dos extremistas foram todas legais, ao contrário da “tentativa de golpe por parte dos bolsonaristas terroristas. E por isso mesmo devem ser identificados, julgados e punidos. A tolerância e a convivência – quando não a cumplicidade – com que parte de setores da sociedade tratou esses fascistas resultou nos crimes de lesa pátria de ontem. Devem ser tratados como o que são: criminosos. E serem responsabilizados por seus atos”, disse.
A deputada federal Natália Bonavides (PT) afirmou: “a gente sabe quem estimulou o golpismo! Sem anistia para os criminosos que atentam contra a democracia”.
Prisões foram legais, diz constitucionalista
Segundo o advogado constitucionalista Erick Pereira, nenhuma das prisões efetuadas em Brasília foi ilegal, pois foram por ordem judicial e estão previstas no ordenamento jurídico brasileiro. Para ele, é preciso diminuir o proselitismo existente hoje no país.
“O que existe é discurso de mídia, de marketing, para um eleitorado específico. Então, você tem oito deputados que querem mandar mensagem para o eleitorado deles. Se depurarmos o acontecimento do proselitismo e darmos seriedade, se vir a gravidade do que aconteceu, ele não enseja esse tipo de discussão”, falou.
Erick disse que o que está em discussão é democracia, república e nação e questionou se os oito deputados bolsonaristas sabem o significado de cada um dos três conceitos. E que os parlamentares estão discutindo eleitoralmente para o eleitorado deles, já que precisam instigar suas bases.
“A discussão agora é muito mais profunda. Mas, foi exatamente essa forma de instigar (do bolsonarismo) que gerou esse efeito manada. Foi pelo ‘Papai Noel verde’ que gerou isso. Foi essa estupidez, essa covardia tem que ser depurada. Não podemos passar nossa vida polarizando, a eleição passou. Não temos líder por causa desse tipo de comportamento”, explicou.