Por Carol Ribeiro
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), não conteve as lágrimas ao entregar, nesta quarta-feira (19), a tão esperada Barragem de Oiticica, em Jucurutu, na região Seridó do Rio Grande do Norte. Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a chefe do Executivo estadual afirma que viveu um dos momentos mais marcantes de sua trajetória política e pessoal, revisitando memórias da infância marcada pelos desafios da seca e celebrando o impacto transformador da obra. As lágrimas, segundo Fátima, carregavam um significado profundo.
“Na verdade o choro expressa um sentimento muito verdadeiro. De repente, olhar para o passado.
Aquilo que eu tenho dito: aquela menina lá de Nova Palmeira [PB] que conheceu a seca de perto.
Eu estou o tempo todo me lembrando de minha mãe, dona Luzia. A capacidade de resiliência, de quando vinha a seca braba, de rachar a terra, e as dificuldades que a gente passava. Não era só a falta d’água no pote vazio, mas era a comida racionada. Você queria repetir o prato e não podia, porque senão o irmão ficava sem comer”, desabafou a governadora em conversa com o Diário do RN, após a solenidade de entrega da Barragem.
A gestora destacou que sua emoção também era de gratidão, por ter acompanhado a luta pela barragem desde os tempos de parlamentar e, agora, poder concluir a obra enquanto governadora, com Lula novamente na Presidência.
“Eu estou fazendo uma homenagem a dona Luzia, minha mãe, e a todas as mães, ao pessoal da minha geração que sofreu tanto com os efeitos do flagelo da seca. E, ao mesmo tempo, saudando as gerações presentes e futuras, deixando uma mensagem: o futuro já começou. E a nossa felicidade é saber que essas gerações não vão passar pelo que a minha geração e os nossos antepassados passaram”, afirmou.
Segundo Fátima, o presidente Lula também se emocionou durante a visita à barragem. Ao sobrevoar Oiticica de helicóptero, Lula pediu para dar uma volta completa para observar melhor a grandiosidade da obra. No local, ao se aproximar da água, tomou uma atitude que surpreendeu os presentes.
“O gesto foi dele mesmo. Ele disse: ‘Eu quero pegar na água, eu quero pegar na água’. Ele se ajoelhou e ficou em silêncio, como quem estava fazendo uma oração, uma prece”, descreveu Fátima, que afirmou não ter visto se o presidente chorou, destacou o momento de introspecção.

Chuva no dia de São José
Após a solenidade em Oiticica e partida do presidente Lula, Fátima seguiu para Angicos, onde participou da procissão de São José – e foi surpreendida por um banho de chuva.
“Nada mais simbólico! Entregar Oiticica, vir para Angicos participar da procissão e ainda com direito a chuva. Uma chuvinha boa danada aqui, eu fiquei toda molhada”, relatou, com um sorriso.
A escolha da cerimônia no Seridó na data que coincide com o Dia de São José, padroeiro das chuvas e da boa colheita no Nordeste simboliza a esperança renovada e a concretização de um sonho antigo para o povo potiguar. A tradição indica que chuva neste dia representa boa perspectiva de inverno no sertão.