Por Pedro Lúcio
O Rio Grande do Norte foi agraciado com dezenas de quilômetros de falésias, que representam uma grande atração turística, pelas vistas espetaculares. Pipa, Tabatinga e tantas outras praias são inesquecíveis e famosas mundialmente pelo visual exuberante de suas falésias.
Toda essa beleza também está associada a um grande risco. Deslizamentos, causados principalmente pela erosão, são comuns e não representam, por si só, um risco. No entanto, a presença humana nestas belíssimas praias pode acarretar em acidentes fatais.
Em 2020, uma família não teve a mesma sorte e morreu após parte de uma falésia desabar na praia de Pipa, um dos principais cartões postais do Rio Grande do Norte, no município de Tibau do Sul. As vítimas foram identificadas como o casal de jovens Hugo Pereira e Stella Souza e o filho deles, Sol, de apenas sete meses de idade, além do cachorro da família.
Em episódio mais recente, no final de dezembro, houve um deslizamento em uma falésia localizada na Praia de Cotovelo, em Parnamirim. Na ocasião, a área estava devidamente sinalizada apontando o risco de um possível deslizamento, e não havia pessoas no local.
Em conversa com a equipe do Diário do RN, o professor Rodrigo Amorim, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DGE/UFRN), relatou que: “O risco só existe quando há circulação e construções nas regiões de falésia”.
Parnamirim, Nísia Floresta, Tibau do Sul e Baía Formosa são algumas das praias que reúnem as condições de risco para acidentes com falésias, a alta circulação de turistas e construções em áreas próximas. O exemplo mais alarmante, para o Rodrigo, é o da RN-063, nas proximidades da Praia de Tabatinga, em Nísia Floresta, onde a área de erosão mais acentuada da falésia está a apenas 7 metros da pista. Outro agravante é a drenagem da região despejar os afluentes na base da falésia acelerando a erosão no local.
A cerca de dois anos, o pesquisador elaborou um trabalho, fruto de uma parceria da UFRN com a Universidade Federal do Ceará (UFC) e financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), para elaborar um diagnóstico sobre a situação das falésias nas regiões de maior risco e maior circulação, que estão nas praias de Pipa, no município de Tibau do Sul, e Barra de Tabatinga, em Nísia Floresta, e apontar ações mitigadoras de riscos.
Entre as ações apontadas por Rodrigo estão a sinalização, tanto na parte de cima das falésias, quanto na parte de baixo delas, na faixa de areia; a desmobilização da infraestrutura, como residências e restaurantes; promover a drenagem adequada da região; além do levantamento de diversos dados, como quantitativo de empreendimentos em áreas de falésia, monitoramento do avanço da erosão e demais análises desses dados.
Segundo Rodrigo Amorim, a Prefeitura de Tibau do Sul é um exemplo positivo no que diz respeito a seguir as diretrizes apresentadas no relatório.
A Prefeitura de Tibau do Sul nos informou que as falésias são monitoradas pelo “Projeto Falésias” que é acompanhado através das equipes da Secretaria de Meio Ambiente e da Defesa Civil Municipal, especialmente em áreas que já foram mapeadas com solapamentos e fissuras. Em áreas de maior risco é feita a interdição com fita zebrada, nas áreas de risco menor placas de sinalização de alerta foram instaladas.
Segundo a Prefeitura, ações educativas aos turistas e moradores são realizadas através de campanhas, principalmente em épocas de chuva, em que há um aumento do risco de deslizamento. Além disso, fiscais são alocados nos pontos de maior risco, trazendo o alerta sobre o perigo da proximidade com a falésia.
Ainda em Tibau do Sul, os profissionais de turismo, como barraqueiros e ambulantes, que trabalham nas regiões com maiores riscos foram capacitados para informar ao turista sobre os riscos da proximidade com a falésia. Os profissionais de lancha alertam a equipe da Prefeitura do município quando é observado uma alta excessiva da maré ou quando identificam alguma mudança na estrutura visual das falésias para que medidas sejam tomadas, como a interdição.
“Palestras foram ministradas nas escolas da rede municipal de ensino, com o objetivo de trazer conscientização sobre a dinâmica das falésias, já que muitos dos alunos atuarão na indústria do turismo local e representam, portanto, o futuro dos profissionais da região”, concluiu a Secretária de Meio Ambiente, Laíra Sousa.
Para o professor Rodrigo Amorim, é preciso adotar um conjunto de ações para que todos tenham um nível de conhecimento sobre os perigos das falésias para que seja possível conviver com o risco, mas sem restringir o acesso. “Você pode dizer que praia é tudo igual, mas as falésias criam uma diagramação natural, o que as torna um atrativo turístico sem igual”, finaliza.
Por fim, as falésias também representam riscos para as comunidades que vivem perto delas. Deslizamentos de terra causados por falésias podem destruir casas e infraestruturas, causando danos econômicos e sociais significativos.
“É crucial estar ciente dos riscos associados às falésias e tomar medidas para minimizá-los. Isso inclui seguir recomendações de segurança ao escalar falésias e evitar construir perto delas. Apesar de sua beleza, não podemos ignorar os riscos potenciais que elas representam” conclui o professor.
A reportagem procurou as defesas civis de Parnamirim e Nísia Floresta, sobre ações em áreas de risco, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.