No dia 14 de fevereiro deste ano, Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça entraram para o noticiário policial como os primeiros a conseguirem escapar de uma unidade penitenciária federal no Brasil. Porém, a liberdade não durou muito. Menos de dois meses depois da fuga, Tatu e Martelo já estavam de volta ao Presídio Federal de Mossoró. A história é conhecida.
O que pouca gente sabia, até agora, é que o monitoramento, localização e comandos para o cerco, abordagem e prisão dos foragidos na BR-115, em Marabá/PA, foram coordenados por uma equipe de agentes de segurança pública sediada no Rio Grande do Norte.
A equipe tem nome. Trata-se da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado, a FICCO. No RN são duas: uma localizada em Natal e outra em Mossoró. Elas são compostas por policiais federais, policiais rodoviários federais, policiais militares, policiais civis, policiais penais e peritos criminais, com participação da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (SESED), Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (SEAP) e Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN). Foi a equipe do Oeste potiguar quem assumiu a responsabilidade de coordenar o trabalho de recaptura dos criminosos.
O acompanhamento de todo o caso foi feito pela FICCO/DPF/Mossoró, através de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça Federal, resultando na identificação da rede de apoio, na apreensão de drogas e armas, e, finalmente, na recaptura dos fugitivos. Sucesso total.
Erro crucial
O Diário do RN perguntou ao delegado Marcuse Cabral, ponto focal estadual da FICCO, qual foi o principal erro que Tatu e Martelo cometeram após fugirem da penitenciária. A resposta foi rápida. “Acreditar que a União/Estado iriam desistir da captura”, pontuou. “Eles acreditaram que, por já estarem longe do presídio, seria improvável que soubéssemos onde estavam”, acrescentou.
Marcuse também falou que a FICCO teve convicção de que a dupla havia saído do RN e estava a caminho da região Norte poucos dias antes da desmobilização da força-tarefa montada em Mossoró. Aproximadamente 600 homens e mulheres, a maioria policiais militares e agentes da Força Nacional de Segurança Pública, auxiliaram no cerco e buscas feitas no entorno do presídio, cidades e Estados vizinhos ao RN. As equipes começaram a deixar a região cerca de 40 dias após a fuga. Porém, em momento algum a FICCO perdeu o rastro dos bandidos.
“Foram poucas conversas e bem espaçadas. Eles falavam muito pouco. A localização exata dos fugitivos não foi dita nas conversas, mas conseguimos descobrir para onde estavam indo pela análise de algumas técnicas de investigação que não podemos revelar”, ponderou.
Por fim, as autoridades policiais afirmaram que em momento algum a missão chegou a ficar ameaçada ou a equipe desacreditou que acharia a dupla. “Tínhamos certeza que era questão de tempo a prisão. Eles foram monitorados praticamente o tempo todo, até o momento exato da recaptura”, enalteceu.
Além dos dois presos encontrados e devolvidos ao sistema penitenciário, é importante frisar a prisão de outras 12 pessoas suspeitas de envolvimento direto e indireto na rede de apoio aos criminosos. Deste total, quatro receberam voz de prisão em flagrante, no momento da recaptura da dupla, sete foram presos no Rio Grande do Norte e Ceará, e um último suspeito foi detido no Rio de Janeiro.
Case de sucesso
O embrião da FICCO foi instalado no Rio Grande do Norte após o homicídio de um policial penal federal ocorrido em Mossoró, em 2017. Surgiu com a necessidade de reunião de todas as forças de segurança para a elucidação do crime, identificação, localização e prisão dos autores.
A força-tarefa de Mossoró foi a primeira experiência brasileira que reuniu, de forma integrada e coordenada, todos os órgãos de segurança pública com a missão de combater a criminalidade.
Inicialmente, a união das forças foi chamada de Núcleo Dedicado ao Combate ao Crime Organizado.
Com a Lei 13.675/2018, que criou o Sistema Nacional de Segurança Pública, nasceu antiga Força Tarefa de Segurança Pública, criada em Mossoró em 2019 através de acordo de cooperação técnica entre o MJSP/PF e os demais órgãos de segurança pública. A formatação atual se consolidou em 2023, com a criação da FICCO, a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado. Desde então, o modelo FICCO de enfrentamento ao crime organizado foi implantado em todos os Estados da Federação.
Resultados
De 2022 a 2023, foram identificados 720 faccionados, com 50 prisões, 13 armas apreendidas e participação em 48 operações. Destaque para as operações “Falkands” (de combate a lideranças criminosas com atuação nacional); “Factionis” (combate a lideranças criminosas de atuação estadual); e a “Operação Cash”, que desmantelou um esquema de lavagem de dinheiro que financiava facções criminas no RN, responsável pela movimentação de 4 milhões. Oito pessoas foram presas e mais de R$ 180 mil apreendidos em 11 contas correntes bloqueadas.
Importante também ressaltar a atuação da FICCO durante os atos criminosos ocorridos em março de 2023. Um dos chefes da facção criminosa que atuava na região Oeste, inclusive, morreu em confronto com policiais integrantes da FICCO/DPF/Mossoró. À época, foram identificados ainda 46 criminosos envolvidos nos ataques. Destes, 12 foram apontados como lideranças e presos.
Outros três também morreram em confrontos com os policiais.
FICCO/DPF/Mossoró
- Reuniu em sua sede na delegacia da PF em Mossoró os serviços de inteligências de todos os órgãos de segurança do Brasil;
- As buscas aos foragidos eram realizadas em áreas/perímetros definidos pela FICCO;
- Produziu as informações necessárias à prisão de toda a rede de apoio (12 pessoas) que dava suporte aos foragidos;
- Sinalizou às autoridades responsáveis pela necessidade de desmobilização do efetivo em Mossoró, haja vista que os foragidos já se encontravam em outro Estado;
- Produção de conhecimento e compartilhamento com à PF e PRF das informações necessária para a recaptura dos foragidos, fato ocorrido no município de Marabá, Estado do Pará, em 04/04/2024.