Prestes a completar 55 anos, Margot Ferreira é um rosto muito conhecido dos potiguares. Começou na tv ainda aos 21, na extinta Tv Manchete, e seguiu no telejornalismo por mais 32 anos, passando pelas três maiores emissoras comerciais do Estado.
O tempo passou, mas não lhe tirou o vigor da juventude: “Nunca tive medo de recomeços e continuo planejando e executando sonhos como se tivesse 18 anos. Acho que as pessoas esquecem de viver com medo de envelhecer. E quando o gênero é o feminino, as cobranças vão muito além, a gente sabe disso”.
Perguntada sobre as armadilhas do etarismo – preconceito contra pessoas com base na sua idade – Margot tem uma definição própria bastante singular: “É como um pacote que eu não quero carregar. Ao contrário de tantas mulheres que conheço, nunca neguei a minha idade e nem nunca pintei meu cabelo no afã de esconder meus fios brancos, muito antes disso virar tendência e ser defendido pelas celebridades mulheres durante a pandemia”. Ela conta que essa foi uma escolha que rendeu muitas críticas, inclusive por mulheres e até amigas próximas que a rotularam de “desleixada” por não pintar o cabelo: “Não é fácil ser fora do padrão numa época e num mundo tão cheios de padrões impostos. Mas eu sempre fui “fora da caixinha”. E não será no alto dos meus 55 que vou entrar nela…
A personalidade forte e tamanha autenticidade são características marcantes que Margot sabe bem de onde vieram: “Faço parte de uma família de mulheres fortes. Minha mãe sempre foi a principal provedora da minha casa, assim como a minha avó, viúva aos 39 anos e com 12 filhos para criar, em plenos anos de 1940. Fui criada nesse meio e ouvindo esse discurso: “trabalhe sempre e muito para nunca depender de ninguém para viver!”. Minha mãe tinha a idade que tenho hoje quando decidiu, junto com meu pai, deixar tudo no RJ, vender tudo e recomeçar uma nova vida em Natal”. Foi depois da mudança da família que Margot acabou descoberta pelo Jornalismo: “Talvez, eu não fosse a pessoa que sou hoje, com uma profissão que adoro e ser reconhecida por ela, se meus pais não tivessem essa coragem de arriscar e recomeçar… aos 54 anos! ”
Mãe de duas filhas, a jornalista afirma que feminismo é algo mais que necessário: “É vital! Eu fui vítima do machismo muitas vezes. Fui desrespeitada, subestimada, já ganhei menos do que homens que não faziam a metade do que eu fazia, mesmo sendo provedora, apenas por ser mulher. A menina de 20, 30 anos que eu fui, engoliu essa farofa. A mulher de 55, jamais engolirá!
Nos anos de 1990, quando minhas filhas nasceram, pude sentir na carne a injustiça gerada pelo machismo. Minhas filhas cresceram e hoje amadurecem num mundo onde o feminismo ainda é luta, é briga, mas é visto, debatido! Que as filhas das minhas filhas um dia não precisem brigar e nem lutar tanto por direitos que sempre foram nossos”.
“Ser mulher é ter nossos corpos vigiados desde muito cedo”
Hoje, a jornalista Cecília Oliveira é uma mulher alegre e muito bem resolvida. Mas as coisas não foram sempre assim, pois por muito tempo ela lutou – e sofreu – para se encaixar em padrões que não lhe cabiam: “Eu não fui uma criança gorda, mas eu era uma menina que já tinha curvas e era maior do que as colegas que conviviam comigo. Então, eu não tinha possibilidade, por exemplo, de pedir uma blusa emprestada se eu quisesse usar algo diferente. Eu não conseguia fazer isso porque eu tinha um corpo naturalmente maior do que as outras meninas que conviviam comigo”.
Cecília conta que, ainda na adolescência, começou a fazer todo tipo de dieta em busca de aceitação: “Eu via que meu corpo não era tão desejado, então isso era meio que uma questão para mim, e aí eu fiz dieta de contagem de calorias, dieta da lua, dieta de sopa, todas as dietas que tinha nas revistas caprichos e afins eu estava fazendo. E, quando eu entrei na fase adulta, isso se tornou uma questão ainda mais forte. Foi quando comecei a tomar medicamento para emagrecer.
Tomei sibutramina, laxativos, remédio tarja preta e tantos outros que, apesar de me fazerem perder peso muito rapidamente, prejudicaram muito a minha saúde. ”
Foram três anos tomando esses remédios diariamente, sem perceber o adoecimento: “não dormia direito, qualquer coisa que me falassem, eu respondia de uma forma muito enérgica, porque esses remédios são afetamínicos, né? Então, eles mexem muito com a gente. Isso afetou a minha saúde mental de inúmeras formas e eu desenvolvi uma gastrite em decorrência do uso prolongado desses medicamentos. ”
A VIRADA DE CHAVE
“Minha sobrinha ainda era uma criança com menos de 10 anos. Em um dado momento eu ouvi ela dizer que tinha vergonha do próprio corpo. Foi um gatilho muito forte que me fez passar a construir uma nova relação com o meu corpo. De lá para cá, eu ganhei mais peso, mas fui entendendo que meu corpo é sim potência, que ele é capaz de tudo e que ele é o instrumento que me faz ocupar os espaços e me permite sonhar. Passar por essa trajetória foi fundamental para que eu me tornasse a mulher que eu sou hoje, tendo a relação positiva que eu tenho em relação ao meu corpo”, conta Cecília reafirmando que esse é um processo que nunca termina: “A gente está sempre desconstruindo as percepções gordofóbicas que são enraizadas na nossa sociedade, mas a gente segue na luta, na resistência, ocupando os espaços e sendo referência, não só para crianças, mas pra que outras mulheres também possam perceber que seus corpos são potentes e que não precisam se enquadrar num padrão estético pra ter valor. Nosso valor vai muito além do que o nosso corpo é”.
O combate à pressão estética e à gordofobia, o debate sobre a importância da autoestima, são questões que Cecília Oliveira compartilha além de suas redes sociais e seus ciclos sociais, agregando também ao seu próprio trabalho: “Hoje eu atuo também como jornalista de moda plus size, não só como uma forma de mostrar para mulheres gordas as opções disponíveis no mercado para que elas possam expressar suas identidades e terem seus corpos abraçados de forma digna, como também falo sobre as lutas do combate à gordofobia dentro de uma plataforma chamada “Pop Plus”, que é também uma feira de moda plus size – a maior do mundo – acontece quatro vezes por ano em São Paulo e eu sou correspondente há mais dois anos. Tenho essa felicidade de poder alinhar meu trabalho com algo que eu acredito e que impacta a vida de tantas outras mulheres”.