A abertura oficial do carnaval em Natal acontece na próxima quinta-feira (16), e uma das alegorias mais esperadas pelos foliões e carnavalescos é o retorno das escolas de samba à avenida Duque de Caxias, na Ribeira, após um período pandêmico que limitou os festejos e o contato com o público. O trabalho coletivo nos barracões tornou possível o carnaval deste ano.
Algumas escolas já se preparavam para este momento desde 2021, com enredos prontos e muita expectativa para a comemoração presencial. É o que conta Carlos Britto, diretor executivo da A.R.C.E.S BATUQUE ANCESTRAL (Associação Recreativa e Cultural Escola de Samba Batuque Ancestral), ressaltando que há muitas complicações para as escolas de samba de Natal, principalmente para angariar fundos. “A dificuldade maior é mostrar que temos um carnaval de escolas de samba, isso torna mais difícil para encontrarmos parcerias. Esse ano, após 12 anos, a Funcart junto à Prefeitura e à Liga das Escolas de Samba, reajustaram a subvenção e mesmo saindo depois do carnaval, dá para respirar no futuro. Nos inscrevemos também em projetos nas duas leis de incentivo à cultura, mas a captação é muito complicada”.
Para as escolas, a união que tem sido feita ao longo dos anos proporciona muitas conquistas, mas alguns perrengues também, que ocorrem nos bastidores, onde a festa de fato acontece. “Nós somos uma escola nova, vamos fazer 5 anos, fomos campeões em 2019 do acesso e 2020 do grupo B, hoje estamos no grupo especial. Perrengue sempre tem. Às vezes, terminamos de montar os carros no dia do desfile e isso nos causa medo”, relata Carlos Britto.
O enredo da Batuque Ancestral está pronto desde 2021 e a escola ficou trabalhando nele no período sem desfiles das escolas de samba. É sobre o poeta maranhense João do Vale, e para a Batuque, será uma linda homenagem. “O nome do enredo é: ‘João do Vale Carcará, o poeta do povo ecoou seu cantar’. Teremos o filho dele em um dos carros para homenagear o João do Vale”.
Segundo o diretor, na Batuque Ancestral são em média 300 componentes e três carros alegóricos. Aos domingos, a escola está fazendo mutirão para concluir as alas, 20 pessoas estão trabalhando nas confecções de adereços, carros, etc.
Já a presidente e rainha de bateria da Balanço do Morro, Maria Das Graças Almeida, afirma que depois de 2 anos, ela espera que este ano seja o melhor de todos tempos. “Durante a pandemia não cruzamos os braços, com a Liern (Liga das Escolas de Samba do RN ), foram organizados exposições, desfile simbólico e homenagens.” Ela ressalta também a importância do enredo deste ano. “O próprio enredo é em homenagem a Nevaldo Rocha, um visionário potiguar, e no final do desfile, terá uma homenagem ao pioneiro da capoeira no RN mestre Índio, falecido no dia 18 de janeiro.
Ela também fala dos contratempos que sempre surgem, principalmente para as coisas ficarem prontas no dia do desfile, mas que as escolas, de uma forma geral, sempre se ajudam nessas situações e contam com a colaboração de todos. “Para o desfile são 700 componentes. A direção da escola levanta as mangas e cada um ajuda, adereça, cozinha e assim vai…”
Como a ajuda financeira irá chegar somente após o carnaval, as escolas fazem o que podem para angariar fundos e levar seus carros e alegorias às ruas. A arrecadação se dá através de doações, rifas, festas nos barracões e contando com a colaboração de sócios, simpatizantes, filiados da Liga, etc. No entanto, Maria das Graças comemora uma conquista da Balanço do Morro. “Esse ano respiramos um pouco, foi feito projeto da lei Câmara Cascudo, junto a família do homenageado, aí deu certo começarmos a trabalhar mais cedo”, pontua.
Para Altair Jr., presidente da escola Em Cima da Hora, a representatividade desse momento é ainda maior, pois desde 2016 a escola que não vai às ruas: “Em Cima da Hora tem 33 anos de fundação e as expectativas são bem maiores do que os 2 anos pós pandemia. A escola desfilou seu último carnaval em 2015, por falta de gestão e um trabalho bem-sucedido, a escola teve que se afastar em 2016”.
Mas, enquanto o retorno triunfal não acontecia, a escola vinha lutando e orquestrando formas de apoio financeiro para regularizar a escola, com CNPJ e toda a formalidade necessária para que outras oportunidades surgissem. “Nós fizemos alguns eventos para a regularização da escola, para estarmos aptos a entrar em editais estaduais e federais e conseguir os benefícios da lei Rouanet, Djalma Maranhão, Câmara Cascudo”, e Altair reforça a importância dessa conquista: “Para poder fazer um trabalho com mais propriedade em relação ao carnaval de 2024 e dar dignidade às pessoas que contribuem para que o carnaval aconteça, os aderecistas, os músicos, os dançarinos, tudo isso é muito importante”.
O presidente afirma que a tradicional escola, tem muitas vitórias e um legado para a comunidade, que será trazido no enredo deste ano: “Nós foliões da Em Cima da Hora, amamos muito esse pavilhão, é muito especial para a gente. Nosso tema é ‘Anastácia Para Sempre’, ela foi o primeiro enredo em 1991. Um enredo de resistência, de força, de fé, de uma mulher guerreira que foi morta por não aceitar os maus-tratos e assédios que foi acometida. Ela é a madrinha espiritual da escola”