Por Bruna Torres
O desenvolvimento dos rituais ligados à população indígena vem desde a colonização sendo observada por sua pluralidade na manifestação por meio de cantos, danças, cachimbos e dizeres sagrados, onde os indígenas se põem em contato com o plano espiritual e a ancestralidade.
Por advento dessas manifestações, a jurema sagrada, jurema nordestina ou catimbó como é conhecida, aparece como uma religião indígena, mas também é influenciada por elementos dos cultos cristãos e afro-brasileiros. Sua expressão abrange todo o país, e no RN, ela tem uma forte representação na cultura potiguar.
“Hoje a Jurema do Rio Grande do Norte é considerada a de maior força no país. Ao longo do tempo nós conseguimos nos fixar, o encontro com sete edições já mostra que é um encontro que veio para ficar. Nós conseguimos nos solidificar e cada vez mais levar o nome da Jurema Sagrada não só para as nossas fronteiras do Brasil”, afirma Suely Costa, conhecida como Juremeira Suely, coordenadora do Encontro de Juremeiros de Natal/RN desde sua primeira edição em janeiro de 2018.
Este ano, em 2024, acontecerá o VII Encontro de Juremeiros Natal/RN, no domingo (07), a partir das 16h, na Fundação Capitania das Artes (FUNCARTE). Conforme Suely Costa explica, a cada encontro o sentimento é de felicidade, pois eles contam com a participação de mais de mil adeptos e simpatizantes, uma oportunidade para evidenciar uma luta contra o preconceito e a intolerância religiosa.
“O nosso encontro é um encontro de resistência, é onde nós mostramos toda nossa resistência, já que sofremos todo tipo de preconceito e de intolerância nas questões religiosas, e assim, é um encontro também de confraternização. O começo do ano, de mostrar ao povo do Rio Grande do Norte a nossa cultura, a cultura da Jurema, o culto da Jurema, de mostrar e de quebrar paradigmas, mostrando que não é um culto do demônio como algumas igrejas dizem por aí, nós somos da paz, do amor, da caridade e louvamos a Deus acima de todas as coisas”.
A jurema é uma árvore da caatinga e do agreste que tem sua casca utilizada para a fabricação de uma bebida ritualística que concede força, sabedoria e contato com o mundo espiritual. Em função do uso da árvore há o desencadeamento da formulação de uma experiência religiosa de mesmo nome.
Segundo a juremeira, o Catimbó Jurema é uma religião que advém dos povos indígenas antes do Brasil ser invadido pelos portugueses. “A jurema culturalmente é muito rica porque ela se vale das tradições indígenas, dos cocares, dos maracás, dos fios de conta e também de outras religiões as quais ela foi abraçando ao longo do tempo, como as de matriz africana, a religião católica. Então ela tem um aspecto cultural muito forte, ela tem uma importância cultural muito forte, até porque ela é a primeira religião cultuada nesse país”.
De acordo com a Juremeira Suely, o encontro é um momento para toda a comunidade e também para os curiosos, para desmistificar preconceitos e ideias errôneas, com uma programação cultural, contando com a Abertura da Grande Roda de Jurema, Entrega das Comendas aos Homenageados, personalidades que se destacaram no combate e a intolerância religiosa, apresentação cultural e feirinha típica com barracas de comidas, bebidas e artesanatos.
O Encontro de Juremeiros é uma ideia que partiu do terreiro de Jurema Mestre Benedito Fumaça, de Pai Freitas, e por meio dessas interações dos juremeiros, foi se fortalecendo uma união em prol de seus direitos.
“A partir do encontro de juremeiros nós fizemos uma solicitação e a governadora sancionou a pedido da deputada Isolda Dantas, o dia do juremeiro que é o 2 de julho. Então, dia 2 de julho, no estado do Rio Grande do Norte, é o dia do juremeiro, consta no calendário oficial, a conquista dessa mobilização desse encontro de juremeiros”.