Por Renata Carvalho
Prestes a completar seis meses no cargo, o Arcebispo Metropolitano, Dom João Santos Cardoso, já começa a dar uma nova configuração a Arquidiocese. Em uma entrevista exclusiva, concedida ao Diário do RN, Dom João destacou sua abordagem centrada na escuta, visando compreender as demandas e realidades enfrentadas pela comunidade eclesiástica e pontuou demandas que serão tratadas no futuro, “no momento oportuno”, segundo ele.
“Nestes cinco meses de exercício do meu Ministério Episcopal na Arquidiocese de Natal, dediquei uma atenção especial à escuta. Ouvi presbíteros, diáconos, fiéis leigos e leigas, comissões pastorais, visitei paróquias e mantive contato com diversas instituições públicas e organizações da sociedade civil. A partir dessas escutas, obtive um diagnóstico da realidade eclesial, religiosa e pastoral da Arquidiocese”, afirmou Dom João sobre sua conduta nessa chegada a Natal.
O Arcebispo revelou que, a partir dessas escutas, foi nomeada uma Comissão de Transição, responsável por analisar e compilar as informações coletadas. “Nomeei uma Comissão de Transição e, em cinco sessões, trabalhamos o material coletado. Esse material embasou a publicação da Carta Pastoral intitulada “Naquele que me fortalece”, na qual apresento uma visão abrangente da realidade religiosa, pastoral, eclesial e administrativa da Arquidiocese e prioridades às quais darei atenção nos dois primeiros anos de minha missão”.
Dom João destaca que nessa construção de uma cartilha para direcionar as ações e passos da Igreja se baseou em alguns conceitos: “Ressalto a importância do conceito de Igreja como Povo de Deus, enfatizando a colaboração entre pastores e fiéis leigos e leigas no exercício da missão evangelizadora. Além disso, faço referência aos ensinamentos dos Sumos Pontífices, ao Documento de Aparecida e ao Magistério do Papa Francisco, especialmente suas Exortações Apostólicas, Encíclicas e Mensagens. Destaco a ênfase do Papa Francisco na ideia de uma “Igreja em Saída”, uma Igreja em estado permanente de missão, a evangélica opção pelos pobres e o cuidado da Casa Comum. Enfatizo também os conceitos de sinodalidade e diocesaneidade como fundamentais para uma caminhada eclesial de comunhão, participação e missão, baseada na escuta mútua entre os sujeitos eclesiais e na oração contínua que favoreça o discernimento na escuta do Espírito Santo”.
Ainda sobre a Carta Pastoral, o arcebispo explica a divisão dos capítulos: “Na primeira parte, intitulada “Ver”, apresento o estado atual da Arquidiocese, nossos desafios, potencialidades e possíveis caminhos a seguir. Na segunda parte da carta, intitulada “Julgar”, apresento os referenciais teóricos e teológicos que orientam nossa missão e as soluções para os desafios identificados, destacando o Concílio Vaticano II como base. Na parte dedicada ao “Agir”, apresento as prioridades pastorais, como: a reestruturação dos vicariatos e a criação de uma nova diocese, para a qual foi instituída uma comissão específica. Além disso, destaco a importância de o Plano de Pastoral responder ao desafio da evangelização na realidade urbana”.
“Quanto aos eclesiásticos, destaco a urgência de abrir a casa do clero para a revitalização do Ministério do Presbítero, o acompanhamento dos presbíteros em situações especiais, como doença, emeritude ou outras dificuldades de ordem ministerial, e a revisão do projeto de formação sacerdotal. Em resumo, a Carta Pastoral delineia horizontes e objetivos para o ministério pastoral do bispo na Arquidiocese de Natal”, enfatiza Dom João.
Ao abordar as mudanças administrativas, pontuou algumas ações além desse diagnóstico inicial: “Primeiramente, constitui uma Comissão de Transição para me auxiliar a tomar contato com a realidade da Arquidiocese e refletir sobre os principais problemas que nos afetam. Em seguida, publiquei um Decreto visando à defesa e proteção de menores de idade e adultos vulneráveis em nossos espaços eclesiais. Além disso, emiti um Decreto relacionado ao Sacramento da Penitência, garantindo que os fiéis tenham acesso às confissões auriculares e não apenas por confissões comunitárias ou absolvição coletiva. Também formei a Equipe de Governo, o Conselho Episcopal do bispo, composto por dois vigários gerais e dez vigários episcopais, além do Conselho Presbiteral, e nomeei o reitor para o Seminário de São Pedro. Realizei algumas transferências pontuais que se fizeram necessárias em paróquias. Quanto à temática das transferências de párocos, cujas provisões já ultrapassam mais de 12 anos, será tratada no momento oportuno”.
Questionado sobre a possível implementação de uma taxa zero para sacramentos, como ocorreu em dioceses do Estado do Piauí, Dom João Cardoso ressaltou que a discussão deve envolver não apenas a Arquidiocese de Natal: “Essa discussão sobre a eliminação dos emolumentos e espórtulas sobre os serviços prestados pela Igreja não deve ser encampada apenas pela Arquidiocese de Natal, pois envolve o Regional Nordeste 2 e a Província Eclesiástica. Até onde tenho conhecimento, essa discussão ainda não foi iniciada na província. Uma determinação dessa natureza não deve ser tomada por uma diocese isoladamente, mas sim pelo conjunto dos bispos da província, pois repercute nas demais dioceses”.
Sobre os projetos para os próximos meses, Dom João Cardoso destacou a urgência de algumas questões: “Tendo sido constituída a Equipe de Governo, o Conselho Episcopal e o Conselho Presbiteral, começaremos a nos reunir para implementar os projetos mais imediatos e criar as condições para os de longo prazo. Alguns desses projetos são urgentes e exigem soluções imediatas, como a abertura da casa do clero, a elaboração de um plano de sustentabilidade para o clero, a instituição de uma comissão para estudar a criação de uma nova diocese e a nomeação dos membros da comissão para a instalação do Sínodo Diocesano, visando à atualização do Diretório Litúrgico, Pastoral, Eclesial, Sacramental e Administrativo da Arquidiocese”.