A caatinga, bioma característico da região Nordeste, vem passando por processos difíceis ao longo das últimas décadas, no Rio Grande do Norte. As grandes mudanças climáticas e atividades humanas vêm contribuindo para a desertificação do bioma – fenômeno onde a vegetação nativa é degradada e o solo se torna infértil, gerando sérios impactos às espécies vegetais, animais, e comunidades do local.
“Se não agirmos agora, o bioma pode desaparecer. E o que é pior: a degradação do solo afeta, direta ou indiretamente, a vida de 260 mil pessoas (cerca de 10% da população do Estado) e já causou o êxodo de centenas de habitantes da região”, afirma o professor Rivaldo Fernandes, superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA).
Pesquisadores do Departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) constataram aumento de aproximadamente 96 km² na exposição do solo e diminuição de 55 km² da caatinga arbustiva-herbácea no município de Jardim de Piranhas, no Seridó Potiguar, num período de 20 anos. As medições foram feitas com base no satélite Landsat, reunindo dados de 1985 a 2015.
Fernandes também alerta que “o desaparecimento da caatinga no Seridó teria consequências devastadoras não apenas para o meio ambiente, mas também para a economia e a sociedade local. A região perderia sua identidade cultural e sua capacidade de sustentar a vida, levando ao colapso de todo o ecossistema e à migração em massa de sua população”.
Resultados de um estudo do Índice de Transformação Antrópica (ITA) como suporte para análise da degradação da paisagem no município de Jardim de Piranhas/RN mostram que o Seridó potiguar já está em estágio avançado de degradação.
Segundo o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), 33% da vegetação de caatinga e 15% dos animais desse bioma são exclusivos, existindo apenas nesta região. Por isso, mais do que nunca, o debate e ações efetivas para a preservação de seus recursos é algo indispensável.
Razões
De acordo com o professor do Ceres/UFRN, Saulo Vital, existem três principais razões para a diminuição considerável do bioma, sendo elas: a cultura algodoeira, o uso predatório do terreno e ainda a seca.
A cultura algodoeira, que teve seu auge na região do Seridó na década de 1980, foi a atividade que causou maior nível de desgaste do solo ao longo da área estudada pelos pesquisadores da UFPB.
“A cultura algodoeira foi responsável pela devastação de muitas áreas do Seridó. Hoje há bioindicadores na paisagem, como a Jurema Preta, de que há uma readaptação ecológica, uma vez que essa espécie é um indicador de degradação, pois ela sinaliza essa atividade predatória, que não é mais pautada no algodão, mas na ocupação urbana e na agricultura, especialmente a policultura, baseada em técnicas rudimentares”, comenta o professor.
A ocupação desordenada para agricultura é uma problemática que acarreta em outra, a seca. O uso do solo para a atividade já não é tão proveitoso, gerando impactos negativos na terra. “Porque parcelas do relevo já foram degradadas, já não há mais capacidade de gerar aquilo que a agricultura pretende tirar daquele solo, que no semiárido já é raso e pedregoso. Qual a grande consequência disso? Aumento da erosão, da deposição e o assoreamento dos rios e reservatórios. Por isso temos tantos problemas em relação a recursos hídricos”, afirma Saulo Vital.
O desaparecimento da caatinga que já afeta a região e está chegando em um nível que pode vir a desaparecer de vez.
Projeto aposta em educação e estimula plantio de mudas nativas
No próximo domingo (28) é comemorado o Dia Nacional da Caatinga. Em alusão à data, o projeto Vale Sustentável, executado pela Associação Norte-Rio-Grandense de Engenheiros Agrônomos – ANEA/RN, apoiado pela Petrobras, realizou o plantio de mudas nativas com a participação de estudantes de escola pública, na zona rural do Rio Grande do Norte, na área de reserva legal do Assentamento Professor Maurício de Oliveira, em Assú/RN.
Além do plantio das 100 mudas, a expedição de alunos, professores e equipe do projeto visitaram o meliponário de abelhas nativas implantado em novembro de 2021 na sede do Assentamento Professor Maurício de Oliveira, em Assú/RN. O técnico agrícola, Luciano Bezerra, explanou sobre a função das abelhas no Bioma Caatinga e a sobrevivência da vida humana no planeta.
“Estima-se que existem 177 espécies de abelhas nativas no Bioma Caatinga, sendo a mais comum a jandaíra, apelidada carinhosamente de rainha do sertão. A principal função delas é a polinização das flores, processo essencial para o equilíbrio do ecossistema. Além disso, desempenha papel importante na indústria, fomentando a economia”, ressaltou.
Desde 2013, o projeto tem atuado no reflorestamento de áreas degradadas, até 2022 foram restaurados 290 hectares com espécies nativas do Bioma Caatinga como aroeira, angico, baraúna, ipê, jurema, sabia, umburana e outras. No Rio Grande do Norte, 97,6% do território está suscetível à desertificação.
Enfrentando os desafios do bioma
“Bioma Caatinga e seus desafios” também será o tema de um seminário em comemoração aos 35 anos IBAMA, para discutir e propor soluções sustentáveis para preservação e manejo da situação.
O evento acontecerá na visita do presidente Nacional do IBAMA, Rodrigo Augustinho, à Natal, no dia 29 de abril, no auditório do IDEMA, localizado na Av. Alm. Alexandrino de Alencar, 1701, em Tirol.