Por Alessandra Bernardo
A operação da Polícia Federal contra ex-ministros do governo Jair Bolsonaro (PL) e militares por suspeita de envolvimento em tentativa de golpe de Estado para manter o ex-presidente no poder, deflagrada nesta quinta-feira (8), causou diferentes reações nos parlamentares potiguares.
Enquanto aliados do ex-mandatário falaram em perseguição e “demonização do bolsonarismo”, a situação defendeu a responsabilização e punição dos golpistas e mandantes da ação antidemocrática ocorrida após o resultado das eleições presidenciais de 2022.
O deputado federal Sargento Gonçalves (PL) expressou preocupação com o que chamou de atuação política do Supremo Tribunal Federal (STF). “Infelizmente, passou o tempo que víamos o judiciário e Polícia Federal prender políticos corruptos, hoje a Polícia Política do STF atua por questões político ideológicas. Literalmente, um consórcio STF, através do ministro Alexandre de Moraes, o governo lulopetista e a grande mídia financiada”.
Segundo Gonçalves, as ações do STF têm sido motivadas por questões político-ideológicas, resultando em uma suposta perseguição ao ex-presidente Bolsonaro e a outros conservadores. Ele destacou uma série de casos que considera injustos e questionou a imparcialidade das investigações.
“Toda hora, uma narrativa da esquerda para prejudicar Bolsonaro. Não precisa de justificativa, eles criam a narrativa e vão em busca dos opositores. Basta lembrar do caso das ‘joias’, do cartão de vacina, o tal “golpe de estado” e até a ‘importunação’ de uma baleia. É uma verdadeira caçada ao presidente Bolsonaro, seus aliados e até apoiadores. Parece cômico, se não fosse trágico”, lamentou o deputado bolsonarista.
Por outro lado, o deputado federal Fernando Mineiro (PT) defendeu a investigação da PF, afirmando que está sendo feito o que está previsto na lei. Mineiro ressaltou a importância de apurar as responsabilidades pela tentativa de golpe contra a democracia e garantir que os responsáveis sejam punidos conforme a lei.
“Está sendo feito nada mais do que está previsto na lei: a apuração das responsabilidades pela tentativa de golpe contra a democracia. E atentar contra a democracia é crime. E isso quem diz não sou eu. É a Constituição Federal. O que aconteceu no 8 de janeiro de 2023 precisa, sim, da mais rigorosa apuração”, afirmou o parlamentar.
Mineiro destacou a necessidade de identificar também os mandantes e financiadores da tentativa de golpe. “Que, ao final desse processo, as pessoas responsáveis sejam punidas na forma da lei. E que esta não seja apenas para ‘arraia miúda’, quem realizou a criminosa depredação do patrimônio público. Mas que sejam identificados os mandantes e financiadoras da tentativa de golpe. Essa é a única garantia de que atos como os do 8 de janeiro de 2023 não se repitam”, disse.
PF: Bolsonaro quis ajustar minuta golpista, para prender Moraes
A operação da PF, chamada de “Tempus Veritatis” ou “Hora da Verdade”, em latim, realizou buscas junto aos generais Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil; Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa e Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército e Tercio Arnoud Thomaz, ex-assessor de Bolsonaro, conhecido como um dos pilares do chamado “gabinete do ódio”.
E prendeu, segundo a jornalista Andréia Sadi, o ex-assessor especial de Bolsonaro, Filipe Martins; o coronel do Exército ex-assessor especial de Bolsonaro, Marcelo Câmara; coronel do Exército Bernardo Romão Correa Neto e o major do Exército, Rafael Martins de Oliveira.
A investigação tenta elucidar a participação dessas pessoas nos atos de 8 de janeiro de 2023, quando golpistas bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes do Planalto, Congresso e do STF, em Brasília. Conforme o G1, as ordens foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, que determinou que Bolsonaro entregasse o passaporte e não falasse com outros investigados.
Segundo a PF, os investigados se uniram para disseminar notícias falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro com objetivo de criar condições para uma intervenção militar que mantivesse Bolsonaro no poder. Eles se dividiram em dois: um grupo voltado a construir e propagar informações falsas sobre uma suposta fraude nas urnas, que continuou mesmo após o resultado da eleição; e outro – tinha o apoio de militares ligados a táticas e forças especiais – que que praticava atos para concretizar o golpe.
MINUTA GOLPISTA
As investigações descobriram ainda uma minuta golpista que previa a prisão dos ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. A PF informou que Bolsonaro recebeu a minuta de Filipe Martins, e Amauri Feres. E durante uma reunião, o ex-presidente solicitou que Pacheco e Mendes fossem retirados do documento, mas insistiu para que Moraes permanecesse. Além disso, o ex-presidente expressou o desejo de manter um trecho que previa a realização de novas eleições.
A PF revelou ainda que uma outra minuta, de teor golpista, foi encontrada na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, em uma operação posterior ao evento de 8 de janeiro. No entanto, ainda não está claro se os dois documentos têm a mesma origem ou se surgiram de fontes diferentes, conforme o G1.
As investigações revelaram ainda que a agenda e os voos de Moraes eram monitorados pelos golpistas, visando acompanhar o ministro em tempo integral e, em caso de golpe militar planejado, efetuar sua prisão. Em áudio, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, mencionou a busca por uma “bala de prata” que sustentasse um golpe de Estado, enquanto o então chefe do GSI, general Augusto Heleno, incentivava o golpe em reunião realizada em 2022.