Não se luta sozinho. Exceto – e aí, sim – na luta interior, nessa busca de evolução que certamente transbordará da solidão para o mar plural, o mar de todos. Mesmo assim, na formação de nossa síntese, partilhamos ideias de diferentes épocas e pessoas. Porque partilhar é um dom humano.
Há pouco, dizia o nosso inspirado Papa Francisco que “É mais fácil rir juntos do que sozinhos: a alegria abre à partilha e é o melhor antídoto contra o egoísmo e o individualismo.”
Quando há violação de algum bem, acende-se a luta. Ressurgem os caminhos para sua restauração. Novos e velhos caminhos, novos e velhos sonhos, mas todos voltados ao humanismo, à evolução ameaçada.
Falando sobre o sonho idealizador, externei certa vez a seguinte reflexão: “Quanto a mim, cumpro meu papel contemplativo, ou missão: sou um sonhador nato, isto é, sonho muito – o que não significa, necessariamente, originalidade. Desses sonhos, inúmeras vezes, nasceram ações e realidades que foram úteis não apenas a mim, mas também ao meu próximo. Apraz-me, por exemplo, haver participado intensamente, e em momentos decisivos, de lutas sociais.”
A COMISSÃO PONTIFÍCIA JUSTIÇA E PAZ, da Arquidiocese de Natal, primeira entidade vinculada exclusivamente à defesa dos direitos humanos criada em nosso Estado, surgiu num contexto grave de luta contra os abusos do arbítrio e o desrespeito à dignidade humana, em plena década de 1970, quando a nação brasileira, submersa na ditadura, clamava por democracia, com nova ordem constitucional que lhe assegurasse o estado de direito.
Orgulho-me de haver participado de sua construção e mesmo de haver trazido o sonho à ordem fática do dia. Isto mesmo. Ao sonho, inicialmente sonhado por mim e outro advogado, meu amigo, compadre e colega (ambos trabalhávamos no Banco do Brasil), Elias Cabral Maciel, agregaram-se outros idealistas: Dermi Azevedo, jornalista; Rivaldo Fernandes, naquele tempo coordenador da Pastoral da Juventude; e o Padre Pio Hengens.
A ideia inicial era a de criarmos, em Natal, um Centro de Defesa de Direitos Humanos, entidade civil, a exemplo do que se formara em João Pessoa. Dom Pelé, arcebispo metropolitano dessa cidade, apoiava o movimento que tinha, entre seus articuladores e militantes, figuras como Genaro e Wanderley, este também advogado, e com os quais mantivemos vários contatos e troca de informações, já que a experiência paraibana havia sido plenamente exitosa.
O destino nos guarda surpresas (e às vezes muito boas!), pois, não obstante nossa decisão já firmada pela criação do mencionado Centro, Dom Nivaldo Monte, nosso sábio arcebispo, à época, havendo tomado conhecimento do movimento que se formara, e convencido de sua índole humanista, libertária e cristã, resolve apoiá-lo e mesmo a abrigá-lo no espaço da Arquidiocese, vinculando-o, ademais, diretamente ao Vaticano – medidas que evidenciavam, de logo, o seu caráter legal e o tornavam mais forte e mais seguro.
Nascia, assim, a COMISSÃO PONTIFÍCIA JUSTIÇA E PAZ, primeira entidade, como já dissemos, dedicada exclusivamente à defesa dos direitos humanos em nosso Estado!
Para presidi-la, foi nomeado o professor e advogado Adílson Gurgel que, entretanto, por razões pessoais e vinculadas ao seu trabalho, declinou do cargo.
Dom Nivaldo, então, determinou que os membros da Comissão recém-criada indicassem três nomes e os submetessem à sua apreciação. Contei com a aprovação unânime do grupo, e tive a honra de, figurando como primeiro nessa honrosa lista, ser também nomeado presidente da entidade pela qual tanto havíamos batalhado.