Por Carol Ribeiro
O superintendente da 12ª Superintendência Regional da Codevasf no Rio Grande do Norte, Leon Aguiar, afirmou ao Diário do RN que a Companhia nunca teve qualquer contrato ou execução de pavimentação asfáltica nos municípios de Brejinho, Alexandria e Serrinha dos Pintos, justamente os três alvos da Operação Fake Road, da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU), que apura suspeitas de obras inexistentes ou superfaturadas com recursos de emendas parlamentares de 2022 e 2023.
A fala do superintendente confronta diretamente declarações recentes de prefeitos envolvidos no caso, que atribuíram à Codevasf a execução das obras agora investigadas, especialmente o prefeito Jeferson Nunes, de Brejinho.
Leon Aguiar reforça que não apenas as obras não foram executadas pela Companhia, como nenhum contrato do tipo existiu: “Na verdade, nem contrato de pavimentação asfáltica a gente tinha para esses três municípios. Então, causa estranhamento a menção do prefeito ou dos prefeitos citando a Codevasf”, disse.
As declarações de Leon Aguiar contrastam com as falas de gestores municipais registradas pelo Diário do RN em reportagem nesta quarta-feira. De Brejinho, o prefeito Jeferson Gomes (MDB) afirmou que a prefeitura “não tem documento nenhum. A prefeitura não recebeu nada, tirando o asfalto que chegou no dia que chegou. Só chegou o pessoal da Codevasf e disseram onde era a rua para fazer o serviço”, atribuindo tudo à Codevasf. Pelo relatório da PF, de acordo com a imprensa nacional, o asfalto encontrado pela PF tinha espessura comparada “à de uma caneta Bic”.
Segundo o superintendente da Companhia, qualquer execução contratada pela Codevasf segue regra interna obrigatória de comunicação formal com as prefeituras, o que não ocorreu segundo as declarações do prefeito narradas ao Diário do RN.
“Quando a gente executa qualquer contrato em uma municipalidade, existe uma regra interna em que a gente obrigatoriamente tem que consultar o município, inclusive para a identificação de ruas que possam receber execução, alvará, certidões. Essa informação que a gente tem é: não houve pavimentação nesses municípios, até porque nem contrato existia”, detalhou.
Leon Aguiar também destacou que a Codevasf nunca trabalhou por convênios no RN, formato no qual o recurso é repassado ao município, modelo que, segundo ele, poderia explicar eventuais confusões de responsabilidade.
Em nota ao Diário do RN, a Codevasf, através da assessoria de comunicação, reforçou a afirmativa do superintendente.
“A Codevasf não executou obras de pavimentação asfáltica em nenhum dos municípios mencionados pela reportagem – Brejinho, Serrinha dos Pintos e Alexandria – e também não possui no momento contratos, ordens de serviço ou orçamento voltados a futuras ações de pavimentação nessas localidades, ou seja: não há qualquer obra de pavimentação asfáltica da Codevasf a reparar ou a iniciar nesses municípios”.
O texto aponta, ainda, que as aputações da Operação Fake Road não incluem a companhia: “Não há qualquer relação da Codevasf com as apurações conduzidas por PF e CGU no âmbito da operação Fake Road. As obras objeto das apurações estão relacionadas a contratos de outro ente público federal”.
Emendas passam por Brasília e unidade no RN só fiscaliza
Leon Aguiar explicou ainda à reportagem que a estrutura da Codevasf no RN, criada em 2021, não recebe diretamente recursos de emendas parlamentares: “Todas as emendas que chegam para a Codevasf passam por Brasília. Lá é que se formaliza um contrato, que depois é repassado para a gente como unidade de apoio, para fiscalização”, disse.
Ele confirmou que a superintendência potiguar já teve ações de pavimentação, mas “em bloco intertravado, muito mais simples do que o asfalto”, citando São Miguel do Gostoso como exemplo de obra concluída.
Ao comentar o histórico recente da instituição, afirmou que a equipe no RN passou a ampliar projetos só nos últimos anos. “Na gestão anterior, nossa unidade era muito pequena, atuava dentro do prédio do Dnocs. A gente pegava coisas pequenas, como tratores, caminhões. Essa de pavimentação agora é que está vindo, mas ainda vamos iniciar”, explicou.
Além de Jeferson Gomes, em Alexandria, Raimundinho (PSD) declarou que “asfalto em Alexandria não tem, só obras recentes feitas por sua gestão em 2025”, apesar de haver recursos destinados nos anos anteriores.
Em Serrinha dos Pintos, a prefeita Rosânia (União Brasil) não respondeu às perguntas do Diário do RN e enviou fotos de ruas asfaltadas, embora o relatório da PF aponte vias apenas com piçarra. A investigação aponta prejuízo estimado de R$ 22 milhões e cerca de R$ 11 milhões superfaturados.

