O diretor Valério Fonseca, 52, sempre sonhou com o cinema. Desde a adolescência, amava filmes brasileiros, aos 19 anos enveredou para o teatro e isso marcou a sua trajetória: “Na retomada do cinema, no final dos anos 90, pude voltar a sonhar em ser realizador de filmes. Estudei na Escola de Cinema Darcy Ribeiro no Rio e estudei roteiro em Cuba na Eictv. Em 2003 fiz meu primeiro curta ‘DONA EULÁLIA’ um curta de época, da obra de Arthur Azevedo, rodou festivais e ganhou prêmios”.
Até hoje, alguns de seus primeiros trabalhos ainda são exibidos em algumas mostras de cinema. Durante a carreira, Valério já dirigiu mais de 15 curtas, entre eles ‘Maria Ninguém’, com Fernanda Lima, ‘Pegadas de Zila’, um curta sobre Zila Mamede com Rosamaria Murtinho.
A carreira de Valério Fonseca é marcada por inúmeros desafios e projetos que já rodaram festivais e premiações ao longo do mundo, esses desafios também o possibilitaram sonhar cada vez mais alto: “Em 2015 abri minha produtora aqui em Natal a ‘Ponta Negra Filmes’ e pude participar de editais, ganhei com o roteiro de O Alecrim e o Sonho e realizamos meu primeiro longa de ficção que está rodando os cinemas no momento”.
O enredo de O Alecrim e o Sonho mistura o cotidiano e a ficção pelas ruas tão familiares do bairro que se transformaram em novos rumos, levando a cultura potiguar para os cinemas: “A história se passa no Alecrim. O protagonista é um idoso que mora sozinho, vai na padaria e interage com moradores do bairro. Eu vejo o mundo com certa fantasia e coloco isso nos meus filmes, mesmo falando de problemas do nosso mundo. No Alecrim e o Sonho é assim, é um drama, mas com realismo mágico e certo humor, mesmo falando de etarismo”.
Valorizando os cenários potiguares, o longa-metragem tem cenas em Areia Preta, no Viaduto do Baldo e na Via Costeira. Atualmente, O Alecrim e o Sonho já passou em cinemas no Rio de Janeiro e em João Pessoa, disputando salas com as exibições mundiais de Barbie e Oppenheimer.
Na última terça-feira (18), O Alecrim e o Sonho foi para as telas de cinema de Natal, por meio do 1° Festival Cinépolis de Cinema Potiguar. Em seu único dia de exibição, o diretor conta que teve mais público do que os filmes de franquias internacionais (A Fada Veio Me Visitar, O Exorcista e Jogos Mortais), ao lado de uma produção potiguar que ressalta as belezas de sua terra e pluralidade de seus ‘comedores de camarão’: “Natal precisa se reconhecer nas telas do cinema, temos o teatro forte, mas nosso cinema precisa ainda de mais diversidade para mostrarmos as histórias potiguares, as necessidades, as alegrias, as tradições e o cinema eternizar esses momentos”, destaca.
A equipe do longa é composta por pessoas do RN, Ceará, Paraíba e Pernambuco. Foram 3 meses escrevendo o roteiro e 23 dias de filmagens. O contato com o bairro tão significativo na história do RN, além do cenário, também foi um meio de vivências e conexão com os moradores e com a localidade, uma força-tarefa necessária para que o projeto fosse concluído.
“Eu ia sempre no Alecrim em busca das locações, era importante todas lá; o apartamento do personagem, a loja, a padaria, a própria rua, para isso você tem que criar laços com vendedores, proprietários de lojas, associação de moradores (inclusive filmamos lá), isso é o mais importante para que as filmagens corram bem. Filmamos num prédio perto do Nordestão por 13 dias não corridos, é um caos para os moradores, equipamento grande, luzes, gente desconhecida no prédio circulando que é a equipe, mas foi delicioso, todas as gravações foram incríveis, isso vem desse laço de amizade que se cria antes dessas idas”.
O Alecrim e o Sonho foi exibido na Índia e ganhou duas premiações importantes, na Índia e na Ucrânia. Mas o cineasta Valério Fonseca destaca que as barreiras sociais e econômicas ainda são um desafio: “O natalense quer se vê nas telas e minha intenção é exibir no RN, nos interiores, levar o filme ao encontro do público do RN”.