O prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos), que adotou o silêncio como principal estratégia para se manter longe das discussões sobre a sucessão municipal de 2024, recorreu à tática novamente, desta vez, para não comentar as declarações do presidente do PSD na Capital, Carlos Eduardo Alves (PSD). Nesta segunda-feira (22), o ex-prefeito revelou que Álvaro ofereceu seu filho – o deputado estadual Adjuto Dias (MDB) – para ser candidato a vice-governador na chapa de Fátima Bezerra (PT) nas eleições de 2022. A gestora venceu no primeiro turno, tendo Walter Alves (MDB) como vice.
A declaração de Carlos Eduardo, feita em entrevista à 98 FM, foi confirmada por um político aliado de Álvaro Dias, que não quis ser identificado. Segundo ele, o fato aconteceu, mas foi descartado após o início das conversas entre o PT de Fátima e do presidente Lula e o MDB de Walter e Garibaldi Alves, tendo o assunto ficado restrito ao grupo do prefeito da Capital. Semanas antes das eleições, Álvaro declarou apoio ao então candidato Fábio Dantas (SDD), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e que ficou em segundo lugar na corrida eleitoral.
Questionado pela reportagem do Diário do RN nesta terça-feira (23), sobre a declaração feita por Carlos Eduardo e se confirmava ou não o que havia sido dito pelo ex-prefeito na noite anterior, o articulador da campanha política de reeleição da governadora Fátima Bezerra e secretário-chefe do Gabinete Civil do Estado, Raimundo Alves afirmou que não falaria sobre o assunto. “Não vou comentar essa declaração”.
Carlos Eduardo abordou o tema ao explicar como ocorreu sua aproximação com o grupo político da gestora petista, no início do ano passado, com foco nas eleições majoritária. Segundo ele, Álvaro o convidou para uma reunião em janeiro de 2022, em que estariam presentes o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, deputado Ezequiel Ferreira (PSDB) e o então ministro do Desenvolvimento Regional e atual senador Rogério Marinho (PL).
“Fui para a conversa, mas 40 minutos depois eu disse: ‘Ô, Álvaro, cadê Ezequiel? E Rogério?’. Ele disse: ‘Eles não puderam vir, mas eu falo aqui pelos dois’. E eu disse: ‘Olha: você está me convidando para ser candidato a governador. Isso é uma conversa muito séria. Não posso pensar numa decisão dessa por recado. Então, eu acho melhor a gente remarcar essa conversa’. Quinze dias depois, ele me liga. Eu cheguei lá, a mesma história. Ele falou: ‘Eu falo por eles. Eles disseram que o que eu dissesse estava bem-dito’. Aí eu disse: ‘Isso não é uma coisa que a gente leva em consideração’”, falou.
O ex-prefeito continuou: “Eu saí da conversa e interlocutores da governadora e pessoas ligadas a mim perguntaram se eu conversaria. Aceitei e me disseram: ‘Você pode ser o candidato ao Senado’. Eu falei: ‘Mas eu tenho uma conversa que não se concretizou’ e falei de Álvaro. Eles afirmaram: ‘Não sei porque o prefeito Álvaro está com essa conversa, porque ele está oferecendo o filho dele para ser um provável vice da governadora’”.
Segundo Carlos Eduardo, foi neste momento que ele percebeu que a ideia do grupo de Álvaro Dias e Rogério Marinho era tê-lo como um suporte para que Rogério fosse eleito senador tranquilamente, sem adversários fortes o suficiente para vencê-lo nas urnas.
“Em suma, eles queriam me dar o osso, queria que eu enfrentasse o Governo do Estado; com Fátima bem avaliada; que enfrentasse Lula, que é Frei Damião no interior. Fátima e Lula vinculados, fortíssimos, e eles iriam ficar com a vaga do Senado. Eles me davam o osso e iam ficar com o filé”, afirmou.
SEM RESSENTIMENTOS
O novo presidente do PSD em Natal afirmou, em entrevista ao Diário do RN, que não guardou sentimentos negativos em relação ao prefeito da Capital e que não vê problema algum em dialogar com este, para as próximas eleições municipais. Para ele, é preciso conversar com todas as forças e atores políticos do Estado e município, na construção de uma base sólida para concorrer ao pleito. E que é um político “sem retrovisor”, que não olha para o que aconteceu no passado.
“Não está na pauta não, mas não tem nenhum problema se Álvaro quiser dialogar conosco. Estamos abertos para dialogar com todas as forças políticas. Não existe nenhum diálogo entre eu e ele. Sou um político sem retrovisor. Estamos aqui à disposição para dialogar”, afirmou Carlos Eduardo, completando que, apesar de não ter nada programado, pode sim vir a estabelecer um diálogo com o prefeito Álvaro Dias (Republicanos) futuramente, focando em um eventual apoio do atual chefe do executivo natalense a sua pré-candidatura em 2024.