A adolescência é uma das fases mais desafiadoras da vida e ganha novos contornos na era digital. Diante deste olhar, a Assembleia Legislativa desenvolveu a nova campanha institucional da Casa para 2025: “Adolescência: acompanhe, compreenda e acolha”, reforçando também o papel de agente de conscientização social.
A iniciativa do presidente da ALRN – deputado Ezequiel Ferreira – tem por objetivo incentivar o diálogo entre pais e responsáveis diante dos desafios enfrentados por adolescentes em uma era marcada pela hiperconectividade, pelas redes sociais e pelas transformações emocionais, sociais e comportamentais.
“Essa campanha é uma das mais importantes já promovidas pela Casa. Vivemos uma geração totalmente digital, enquanto os que cuidam dos adolescentes vêm de uma educação analógica. Estamos aqui para debater, contribuir com informação e promover reflexões que ajudem nossas famílias a entender e acolher melhor os adolescentes”, afirmou o parlamentar durante o lançamento da campanha, no último dia 10 de junho, em evento que reuniu representantes do Ministério Público, especialistas de diversas áreas relacionadas à adolescência, educadores, grupos de adolescentes, empresários do segmento educacional e outros representantes populares.
Para o promotor Sasha Alves do Amaral, coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça da Infância e Juventude do MPRN, o momento exige políticas públicas integradas e sensíveis às novas realidades:
“Devemos garantir que os adolescentes tenham voz. Eles precisam ser ouvidos nas escolas, nas políticas públicas, nas famílias. Não podemos esquecer também daqueles que vivem institucionalizados ou em situação de risco. São vidas que também adoecem em silêncio”, alertou.
Já a promotora Tiffany Mourão, promotora de justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), detalhou os riscos da exposição digital e da falta de preparo emocional para lidar com os perigos da internet:
“São comuns casos de grooming, aliciamento online, cyberbullying e vazamento de imagens. É essencial que pais e responsáveis acompanhem de perto a vida digital dos adolescentes, conversem sobre riscos e mantenham canais abertos de diálogo”, recomendou.
Outro ponto abordado na audiência pública foi em relação à saúde dos adolescentes. A médica hebiatra Thaís Suassuna (especialidade da saúde e desenvolvimento de adolescentes, entre os 10 e os 20 anos), representante da Sociedade Brasileira de Pediatria, reforçou a importância da escuta ativa e da construção de vínculos familiares:
“Cada vez mais, vemos adolescentes adoecendo pela ausência de diálogo e de todas as transformações corporais e de saúde física. Precisamos resgatar esse olhar, essa conexão com nossos filhos, investir na prevenção e formar redes de apoio mais estruturadas”, destacou.
A campanha também conta com o apoio da Secretária Estadual das Mulheres, da Juventude, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, representada por Júlia Arruda:
“Precisamos apoiar ações para adolescentes. Estamos prontos para apoiar novos projetos para os adolescentes de todo o Rio Grande do Norte”, disse.
A presidente do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente, Clamida Stela Marques, lembrou que proteger e acolher adolescentes é responsabilidade de toda a sociedade:
“Nosso papel institucional é importante, mas cada um de nós precisa se comprometer com esse cuidado”, afirmou.
CAMPANHA
A campanha institucional “Adolescência: Acompanhe, compreenda, acolha” pretende sensibilizar para a importância do cuidado integral com os jovens, estimulando políticas públicas eficazes e ações preventivas.
O material publicitário – desenvolvido pela agência Base Propaganda – foi pensado para os adolescentes e também para seus cuidadores. Entre as peças está uma cartilha informativa que oferece orientações práticas sobre como lidar com essa fase marcada por transformações físicas, emocionais, sociais e tecnológicas, abordando temas sensíveis e urgentes, como:
- os impactos do uso excessivo das redes sociais;
- o cyberbullying;
- a pressão estética;
- os desafios virtuais perigosos;
- os sinais de alerta para questões relacionadas à saúde mental.
Traz ainda dicas práticas para a convivência familiar, a importância de estabelecer limites no uso de telas e o papel essencial das escolas como rede de apoio.
Para o presidente da ALRN e idealizador da campanha, deputado Ezequiel Ferreira (PSDB), a publicação representa mais um passo no compromisso da Assembleia com a promoção do bem-estar das famílias potiguares:
“A cartilha é uma ferramenta de orientação e acolhimento. Queremos fortalecer o vínculo entre pais e filhos, promover a escuta, e oferecer informações claras para enfrentar os desafios que a adolescência impõe hoje, especialmente no ambiente digital. A Assembleia Legislativa cumpre seu papel ao levar esse tema para toda a sociedade, contribuindo para a construção de uma geração mais consciente, protegida e amparada”, destacou o parlamentar.
Além do conteúdo informativo, a cartilha também reforça leis estaduais já em vigor que tratam de temas como:
- combate ao bullying;
- prevenção ao suicídio e à automutilação;
- assédio nas escolas;
- dependência tecnológica.
Com uma linguagem clara e direta, o material foi pensado para alcançar não apenas os adultos, mas também os próprios adolescentes, que podem encontrar na publicação um canal de acolhimento e informação.
ENTREVISTA COM A PSICÓLOGA DÉBORA SAMPAIO

Psicóloga e especialista em adolescência, Débora Sampaio é consultora técnica da campanha da ALRN. Em conversa com o Diário do RN, Débora falou sobre as dificuldades dessa fase para os jovens e também para seus cuidadores, os principais desafios e a importância do debate sobre os temas relacionados à transição entre a infância e a vida adulta.
Diário do RN – Quando a gente fala sobre adolescência, estamos falando de que faixa etária exatamente? Existe uma percepção, através de comportamentos e atitudes, de que essa fase tem chegado mais cedo. Isso é real?
Débora Sampaio – Quando nós falamos de adolescência, temos alguns marcos cronológicos. A Organização Mundial de Saúde delimita esse período como aquele entre 10 aos 19 anos. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente caracteriza a adolescência como o período que vai dos 12 aos 18 anos incompletos. Mas, na prática clínica, na convivência com as famílias, temos sim percebido os sinais de adolescência começando mais cedo.
Tanto no aspecto físico – temos acompanhado casos, junto com endocrinologistas, de puberdade precoce – quanto comportamentais. Hoje se fala que estamos vivendo uma transição da infância do brincar para a infância do celular, a partir de 2010, com a popularização dos smartphones.
Claro, não é exclusivamente um fator. Existe uma combinação de fatores: estímulos digitais precoces, exposição a conteúdos adultos, estresse infantil, alimentação, sedentarismo, mudança no estilo de vida. Percebemos crianças com comportamentos adultos, desenvolvimento precoce da sexualidade, preocupação com vaidade, autoimagem, e até transtornos alimentares influenciados por essa mídia. O pior é a desvalorização da infância – fase tão preciosa – que impacta diretamente na adolescência.
Diário do RN – A adolescência é uma fase difícil em qualquer época, em qualquer contexto social. Mas está mais difícil hoje?
Débora Sampaio – Sim. A adolescência sempre foi difícil, por ser um momento de muitas transformações e vulnerabilidade. Costumo comparar com um bebê aprendendo a andar. O adolescente está reaprendendo a andar, só que no mundo. É nascer para o social.
É um momento de muita insegurança, estruturação da identidade, rupturas e descobertas. Hoje, há o agravante do excesso de informação, hiperconexão, comparações constantes nas redes, o que gera sobrecarga emocional e solidão. A sociedade imediatista exige sucesso e felicidade o tempo todo. Isso impacta diretamente na saúde mental dos adolescentes.
Diário do RN – As redes sociais são o principal desafio hoje?
Débora Sampaio – Não são o único, mas estão entre os principais. As redes sociais não foram criadas para adolescentes, mas são consumidas intensamente por eles. Isso afeta a autoestima, vínculos e forma de pensar.
O algoritmo direciona o conteúdo no momento em que o jovem está estruturando seus pensamentos. Isso gera dependência de validação externa, insegurança, exposição a conteúdos inadequados e riscos. O problema é quando a rede se torna um refúgio pela ausência de apoio e presença afetiva no mundo real.
Diário do RN – É mais difícil ser adolescente ou cuidar de um adolescente? A empatia pode fazer diferença?
Débora Sampaio – Ambos são difíceis, por razões diferentes. Ser adolescente é confuso, solitário, repleto de transformações. Cuidar de um adolescente exige paciência, escuta, firmeza. Nem todos os pais estão emocionalmente preparados. O adolescente tem emoções à flor da pele, é impulsivo.
Pais precisam lembrar que são os adultos da relação. Adolescentes ainda não foram adultos. A empatia é uma ponte essencial. Não significa concordar com tudo, mas compreender o que o adolescente sente. Isso fortalece a relação e abre espaço para o diálogo.
Diário do RN – Ser firme, mantendo regras e limites mesmo em momentos de conflito é importante? Como estabelecer uma relação amigável com os filhos sem ser permissivo?
Débora Sampaio – É muito importante ser gentil e firme, estabelecer regras, limites e acompanhamento. Os pais precisam se implicar no cuidado sem superproteger. O adolescente precisa de liberdade com direcionamento. Limites claros oferecem segurança emocional.
É possível ser firme com acolhimento, afeto e autoridade saudável. A confiança se constrói com escuta, presença e coerência.
Débora conclui dizendo que campanhas como a da Assembleia Legislativa são essenciais e transformadoras, pois rompem o silêncio e trazem visibilidade ao sofrimento emocional dos adolescentes:
“Essas campanhas mobilizam a sociedade, oferecem informação qualificada, geram conversa nos lares, nas escolas, e mostram que educar um adolescente é uma tarefa coletiva. Precisamos de uma rede de apoio que envolva família, escola, profissionais e políticas públicas.”