O senado acaba de aprovar em primeiro turno, por uma votação de 53 a 9, a PEC das Drogas que tornará crime a posse de qualquer quantidade de entorpecentes ilícitos. Trata-se do suprassumo da ignorância e da hipocrisia e vou explicar as razões.
É uma burrice monumental – e infelizmente ela está em alta – porque, na prática, iremos financiar com os nossos impostos o fortalecimento das facções criminosas. Essas organizações dependem de mão de obra e esta é arregimentada nos presídios, que agora, caso a PEC chegue a sua tramitação final logrando êxito em sua jornada, serão ainda mais super lotados com pessoas presas por estarem com 10, 20 gramas de maconha ou cocaína. Quem merece tratamento ganhará uma cadeia para puxar.
Trata-se da seguinte lógica. A polícia irá trancafiar o usuário de maconha, geralmente um rapaz, pobre e negro da periferia. Ele ingressará no sistema carcerário, se filiará a uma facção até para obter proteção na efetivação de sua pena, receberá ampla formação e sairá de lá pronto para meter uma bala em nossas cabeças. Uma indústria potencialmente geradora de receita para a sociedade investir em campanhas de educação e ações de saúde pública continuará alegremente, proporcionando morte e caos sem ser efetivamente incomodada. Pelo contrário.
O tema ainda é absurdamente pautado por uma moral seletiva porque vivemos numa sociedade em que diversão rima com consumo de álcool produtor de doentes em abundância para o Sistema Único de Saúde, mortes por violência doméstica e milhares de acidentes de trânsito fatais. Aliado a isso, nas academias do país, em busca do corpo perfeito, é normal encontrar consumidores de anabolizantes que alimentam o tráfico de drogas via laboratórios clandestinos.
Por fim, como as prisões de usuários ocorrem em 90% dos casos nas ações de patrulhamento e não por investigação e estas atividades se processam em bairros carentes, os ricos cheiradores de cocaína em suas festinhas não serão incomodados.
E então ficamos assim e me permitam a imprecisão. Cachaceiros, bombados e cheiradores (ricos) pregando e aprovando no congresso uma lei que irá arruinar a vida de cidadãos sem condições, fortalecer o crime organizado as custas de dinheiro público e gerar mais violência contra nós mesmos. Com isso, cabe apenas enviar efusivas parabenizações aos envolvidos. O brasileiro gosta de passear na Europa e nos EUA, mas quer mesmo para si morar nas filipinas ou sob o regime do talebã.