Nesta quarta-feira (11) a vereadora Brisa Bracchi usou suas redes sociais para compartilhar ameaças de estupro corretivo que recebeu em seu endereço de e-mail do mandato. O autor das ameaças afirma ter o endereço da parlamentar e detalha de forma explícita quais são os métodos para o que ele julgou como “cura para o homossexualismo feminino’’, sendo a bifobia uma “variante da doença’’. Assumidamente bissexual, Brisa afirmou ao Diário do RN que essa é a primeira vez que recebe uma ameaça com esse teor e que o momento também é de luta.
“É a primeira ameaça concreta que recebo direcionada a mim, no e-mail recebido o criminoso indica que tem meu endereço e que iria até a minha casa fazer uma sessão do que ele chamou de ‘estupro corretivo terapêutico’’ que na verdade é uma agressão sexual”, destaca.
O autor do e-mail se apresenta como pesquisador e afirma que a prática detalhada por ele é uma forma eficaz para a “cura lésbica” e se oferece para ir até a casa da parlamentar, afirmando para “testar o experimento”.
Um trecho do email diz: “Quando uma mulher lésbica ou bissexual é submetida ao coito vaginal por um varão capacitado da forma correta (recomenda-se que a lésbica esteja nua, com os pulsos amarrados atrás das costas com cordas ou algemas plásticas, os olhos vendados com pano e a boca amordaçada com pano ou fitas adesivas. E que o terapeuta introduza o pênis na vagina dela o máximo de vezes possível), ela recupera sua feminilidade perdida e volta a ser heterossexual”.
De acordo com Brisa Bracchi, as ameaças fazem parte de uma ação coordenada a nível nacional que tem como alvo parlamentares mulheres.
“Outras mulheres, feministas e LGBTs receberam ameaças semelhantes, mas isso não invalida a dor individual de cada uma. Confesso que fiquei assustada e, por isso, tomarei todas as medidas possíveis, tanto procurando os órgãos de segurança local, como os nacionais, para que os responsáveis por esse tipo de ação sejam devidamente punidos”, afirma.
A respeito das outras parlamentares que receberam o conteúdo, a equipe de assessoria de Brisa diz ter conhecimento dos ataques feitos à deputada estadual Rosa do MST (PE) e à vereadora de Belém, Bia Caminha (PA), que receberam o mesmo conteúdo de e-mail. Lohanna França e Bella Gonçalves (ambas de Minas) receberam ameaças de estupro e morte, Lohanna inclusive recebeu outra ameaça e foi publicizada nesta quarta-feira (11).
“Não temos certeza sobre os caminhos que todas elas tomaram, mas a gente deve acionar além da Polícia Civil do Estado, o Ministério da Justiça para solicitar investigação da Polícia Federal”, afirmou a assessoria de comunicação da vereadora.
Câmara Municipal de Natal se solidariza com ataque à vereadora
Brisa Bracchi levou a ameaça à Tribuna da Câmara Municipal de Natal e os vereadores se solidarizaram com o ataque à parlamentar, propondo à CMN, uma nota de repúdio. “É um tema que constrói unidade na Câmara, além de qualquer posicionamento ou divergência política”, afirma. Segundo ela, a ação criminosa também está relacionada com sua ação em prol do combate à violência contra as mulheres e à comunidade LGBTQ.
“Isso tem uma relação política, eu não sou apenas uma pessoa LGBT, mas nosso mandato faz a defesa da população LGBT, a gente tem vivido tempos difíceis de violência política de gênero e neste momento isso fica muito explícito de como deve ser combatido. Lesbofobia não é apenas uma violência simbólica, é uma violência concreta na vida das mulheres lésbicas e bissexuais”, finalizou.
A vereadora Júlia Arruda (PcdoB), coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa da Mulher da Câmara Municipal de Natal, ao Diário do RN, se posicionou contra o ataque sofrido pela parlamentar: “A Frente vem a público se solidarizar com a vereadora Brisa Bacchi, que foi vítima de ameaças graves e criminosas, bem como repudiar que esse comportamento seja ainda utilizado para atacar mulheres, em especial parlamentares. Além disso, cobramos providências para quem cometeu tamanha violência seja localizado e responsabilizado criminalmente. Não podemos tolerar nem normalizar que as mulheres sejam atacadas com violência por quaisquer de suas escolhas”.
Confira abaixo o print do e-mail:
