A hipótese Milena Galvão – vice-prefeita de Currais Novos e irmã do influente deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa Ezequiel Ferreira, como vice na chapa de Allyson Bezerra – tem aproximação íntima com o folclore político potiguar, visto ser ao mesmo tempo arranjo dinástico e aposta eleitoral. Milena vem crescendo em visibilidade municipal e até regional e seu protagonismo é a matéria-prima dessa costura.
Política, como ensinou Tocqueville, vive de hábitos e associações que traduzem influência em poder organizável e no contexto acima exposto o capital social da família Ferreira funciona como um ativo que pode ser convertido em votos, sobretudo em regiões onde redes de relações pessoais ainda ponderam mais que programas.
Do ponto de vista prático, a viabilidade depende de três vetores, a saber, transferibilidade do voto, situação competitiva e custo político e simbólico.
Ezequiel Ferreira dispõe de máquina política e prestígio na Assembleia Legislativa, mas o efeito irmão tem teto, pois líderes locais não necessariamente arrastam eleitorado urbano como o de Mossoró ou da costa leste. A operação seria plausível ocorreria em polos do Seridó e no eleitorado que valoriza clientelismo localizado.
As pesquisas mais recentes mostram Allyson Bezerra com competitividade real em praticamente todo o estado, mas com alguns adversários que não podem ser desprezados; numa disputa acirrada com votos disputados no limite da margem de erro, alianças se transformam em fator decisivo. Uma vice com raiz em Currais Novos acrescenta mapa geográfico e narrativa de aliança familiar que pode recuperar fatias do interior e neutralizar candidaturas rivais locais, embora não resolva desafios urbanos nem corrija posições em pesquisas estaduais já consolidadas.
Há um custo na armação. Nomear Milena traz capital simbólico (união de oligarquias regionais) e risco reputacional (acusação de nepotismo, polarização com prefeitos/aliados contrários). Em linguagem mais clara e mais dura: é manobra de máquina, não milagre de opinião. A esquerda pode transformar a peça em narrativa de clientelismo; a direita, em prova de pragmatismo. A balança penderá conforme a capacidade de transformar cacife local em narrativa estadual atraente.
O arranjo é viável como tática de compensação geográfica e construção de base no interior, não como solução mágica para sondagens estaduais já competitivas. Se Allyson quiser consolidar vantagem marginal, a vice Milena pode ser útil. Se, porém, houver ambição de ampliar conquista em centros urbanos e ampliar o eleitorado jovem e independente, será preciso bem mais: programa, visibilidade metropolitana e barulho além das benesses tradicionais. Resumindo, é um bom tabuleiro para jogar, só não espere que vença a partida por si só.
