Para alguns potiguares a cor das roupas é alusiva aos desejos e prosperidade para 2024
O ano de 2023 está chegando ao fim e os bordões de ‘adeus ano velho, feliz ano novo’ começam a ganhar vida nas ruas da capital potiguar. Nos mais variados comércios, as peças brancas são destaque nas vitrines, pois usar branco na virada do ano é uma tradição para muitas pessoas e a origem da cor associada ao início de mais um ano tem origem religiosa.
“Nas religiões de matrizes africanas, como Candomblé e Umbanda, o branco é a cor de Oxalá, que é o orixá da paz, da compreensão, da harmonia, começos e fins. Quando a gente utiliza o branco, é uma forma de a gente estar se conectando com o orixá, assim como as outras cores também, tipo o azul de Iemanjá, o amarelo de Oxum. Então, quando chegava o final do ano, os praticantes da religião se vestiam de branco e iam para a praia, fazer oferenda à Iemanjá, para conseguir sucesso. E o branco era para a paz, para novos começos. Então, os não-praticantes começaram a achar bonito e aderiram ao costume de usar branco no réveillon”, afirma Yarithicia Sales, praticante de religiões afro-brasileiras.
Ainda dentro da religião, ela explica que a virada de ano é vista como uma oportunidade de mudança, trazendo reflexões sobre o passado e as mudanças que se deseja para o futuro, e que se enraizou o costume de escolher uma roupa específica para passar a noite de ano novo, atrelando a escolha da cor à sorte e as energias referentes ao significado que cada uma traz.
“Acredita-se que cada cor possui uma influência diferente sobre nossa vida, sobre nosso destino. Como que a gente pode fazer? A gente escolhe a cor que mais se alinha aos objetivos, por exemplo, branco, né? Paz, pureza, harmonia. O amarelo, dinheiro, prosperidade; azul, tranquilidade, estabilidade; vermelho, paixão, energia, amor; verde, esperança, a renovação, equilíbrio; rosa, afeto, amor-próprio, compaixão; laranja traz alegria, entusiasmo, criatividade; o dourado, sucesso, riqueza, prosperidade; tons de prata, modernidade, intuição; o roxo, intuição também, transformação, espiritualidade; o preto é luxo, luxúria, poder”.
As cores do comércio popular nas ruas do Alecrim
O movimento no comércio popular do Alecrim está aquecido com as compras de fim de ano. Clientes que não garantiram logo a roupa da virada às vésperas do natal, estão ainda pesquisando e indo às compras para garantir o look da virada.
“No natal a maior procura foi pela cor vermelha, saiu bastante, mas agora estão procurando mais roupas brancas. O aumento na procura começa no dia 20 de dezembro e vai até o dia 31, muita gente deixa para o último dia mesmo, como esse ano caiu no domingo, o aumento vai ser ainda maior na sexta e sábado. Tem muita gente que compra branco, mas nem todo mundo se importa com a cor, se gostar da peça, compra, leva e acabou, não tem isso de só levar branco”, ressalta o comerciante Marco Antônio, que trabalha no Alecrim há mais de 15 anos. Ele ainda acrescenta que, como a escolha é muito pessoal, muitos clientes também levam roupas pretas, mas destaca que o sucesso de vendas este ano são roupas com paetês e brilhos.
A comerciante Carla Michelle está focada nas vendas, mas não renuncia a manter suas próprias tradições na virada do ano e, como cliente, todos os anos usa branco ou amarelo, e acredito no simbolismo das cores para que os pedidos feitos durante a virada sejam atendidos. “Sempre usei branco ou amarelo, paz e prosperidade, dinheiro… Eu não uso outra cor além dessas duas. Ano passado eu usei branco e esse ano vou usar branco mais uma vez, precisa ser tudo novo”.
Carla Michelle entende que a virada do ano é um momento de renovação e, por isso, acredita que as pessoas precisam sempre usar peças novas. “Na minha concepção, se você passa com uma coisa antiga, acho que você vai viver a mesma coisa. Minha irmã até se arrependeu, porque passou com a mesma roupa do ano passado. Eu acredito que a pessoa vive a mesma coisa, a mesma rotinazinha. Eu acho que tem que ser tudo novo. Tem que se renovar em tudo. Acho que tem que ser tudo diferente, com roupa nova, sandália nova, é uma vida nova”.
Também pelo Alecrim, a reportagem encontrou a autônoma Rose Silva já com as unhas feitas para o réveillon: uma mistura delicada de rosa e branco. Rose se disse empolgada com a virada do ano, que sempre passa na praia com amigos. Ela conta que cada um tem suas próprias tradições e crenças, mas que a energia no momento da virada de ano é muito importante. “Nas minhas tradições eu gosto muito de passar a virada de ano na praia e sempre pulo as 7 ondas. Acho que um ano novo é sempre uma oportunidade de recomeçar, independente da roupa, não ligo para isso, se é branca, velha, nova, acho que a gente tem que se concentrar nas coisas boas, novos pensamentos, novas metas e fazer o bem ao próximo, isso que é importante, a renovação”.