Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com estudos nas mais variadas áreas, já sentem o impacto negativo dos cortes orçamentários feitos nos últimos meses pelo Governo Federal, anunciados como “bloqueios”. O mais recente bloqueio orçamentário para as universidades e institutos federais foi anunciado pelo MEC em 28 de outubro. Para UFRN, um corte de R$ 3,8 milhões. A instituição já havia sofrido cortes que somados chegam a R$ 31,8 milhões este ano. A diminuição dos repasses irá afetar os pagamentos de fornecedores e de auxílios/bolsas que estavam programadas para o decorrer desta semana. Através da Pró-Reitoria de Administração (PROAD), a UFRN anunciou, por meio de um Ofício Circular, que não há uma data prevista para nova liberação de financeiro no mês de dezembro. Bolsista de Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Wogenes Nunes vive de perto essa realidade. “Os cortes afetam diretamente não só a aquisição de material e o fomento da ciência no país com manutenção dos laboratórios e equipamentos. Além da produção científica do país, impacta também nos recursos humanos”. Ele desabafa que há uma visão equivocada a respeito de bolsas e auxílios ofertados nas universidades públicas. Os termos carregam um estigma, como se os acadêmicos fossem “sustentados” pelos espaços acadêmicos, de uma forma pejorativa, como se fosse um valor investido sem retorno, um dinheiro desperdiçado para quem não compreende a importância do corpo acadêmico na sociedade.
“O dinheiro recebido não é auxílio nem bolsa, é o salário do pesquisador. É o salário de quem trabalha o ano todo quase sem férias, de quem não recebe décimo terceiro, de quem não tem jornada de trabalho definida e passa feriados, finais de semana fazendo experimento. É assim que vivem as pessoas responsáveis pelo desenvolvimento científico do país”. E Wogenes vai além, comentando também sobre como os auxílios garantem a manutenção de uma vida digna enquanto se estuda, trabalha e se produz ciência. “As bolsas de graduação ajudam os estudantes a comer, pagar passagem, chegar até a universidade. Já as bolsas de mestrado e doutorado são basicamente os salários dos pesquisadores. É com ela que eu pago meu aluguel, me alimento, me locomovo na cidade e vivo minha vida”.
Camila Pinto é bolsista de apoio técnico na Assessoria de Comunicação da Escola de Ciência e Tecnologia (ASCOM-ECT) e relata a dificuldade enfrentada para os alunos que são do interior do RN. “Quando a gente fala das bolsas e auxílio de permanência estudantil a situação é ainda pior porque os alunos contemplados por elas são, na grande maioria, pessoas em situação de vulnerabilidade econômica. Estudantes como eu que precisam dessas bolsas para se manter na cidade.