Desde a infância, Rebeca Lima Leite, 19, sempre gostou de desenhar. Aos 9 anos, uma professora percebeu que ela tinha bastante destreza com as artes, a partir dessa sensível percepção da educadora, os pais de Rebeca, Gildair Teixeira e Maria Denise, decidiram matricular a filha numa aula de desenho, no Atelier do artista Nil Morais.
O que parecia ser uma “coisa de criança”, foi ganhando uma nova forma na vida para Rebeca: “Ela foi aperfeiçoando, desenvolvendo um estilo pessoal de retratar as pessoas, e aos poucos foi se destacando, participando de exposições, e chegando agora para a área de ilustração de livros”, relata orgulhosamente Gildair, 57, autônomo.
Conforme Gildair Teixeira explica, é indispensável que os pais apoiem seus filhos nos caminhos que eles decidem trilhar, por isso a família está sempre unida.
Gildair, a mãe Denise e a irmã caçula, Raquel, de apenas 9 anos, são um ponto de paz para Rebeca, que foi diagnosticada com Transtorno de Espectro Autista (TEA) aos 8 anos. Ele vê a arte como um meio que possibilita sua filha quebrar barreiras capacitistas que as pessoas ainda veem em crianças e adultos diagnosticados com TEA: “Os pais devem apoiar os filhos sempre, especialmente no caminho das Artes. No caso de Rebeca, a expressão artística revela sua forma singular de enxergar as pessoas e o mundo, ajudando a desmistificar essa imagem que se tem das pessoas autistas, de que são pessoas alheias ao mundo, avessas ao convívio social, ou incapazes de ter uma atividade produtiva”.
Em suas composições artísticas, Rebeca Lima se inspirou na pintora mexicana, Frida Kahlo, após assistir um documentário sobre a vida da artista que pintava retratos e autorretratos inspirados em suas vivências, na natureza e simbolismos do México. Rebeca conta como viu no trabalho da mexicana uma motivação: “Eu me inspiro na história de Frida Kahlo, como ela sofreu na adolescência dela, quando entrou uma barra de ferro no corpo dela e também quando ela foi para o hospital e ficou de cama. Ela aprendeu a pintar e conheceu seu marido, Diego. Eu gosto mais das obras ‘O Veado Ferido’, ‘Diego e Frida’ e ‘As Duas Fridas’”, pontuou.


Segundo Rebeca, ela pretende fazer faculdade de Artes, além disso, desenhar e pintar também é uma forma de ajudá-la a relaxar, esse é o sentimento que a predomina quando seus pais compram materiais para que ela possa expressar a criatividade; imersa no universo de cores, é uma forma de se sentir feliz, ela destaca com muita paixão, o significado disso em sua vida: “A arte é muito importante para mim, isso ajuda as pessoas a criarem seus próprios desenhos, se sentirem felizes e mais relaxadas. As pessoas fazem desenhos muito bons com lápis, com caneta e com borracha, com lápis de cor e aquarela para fazer um ótimo cenário, para fazer pinturas mais lindas e belas. Eu não imagino um mundo sem arte, a arte traz beleza, alegria, expressão de sentimentos, amor, paixão e tranquilidade”.
A arte como terapia e estímulo
Inicialmente, como forma de terapia, os lápis aquareláveis e aquarela, aos poucos foram possibilitando Rebeca a aprimorar seu traço e após as aulas de desenho, ela foi praticando e criando sua própria identidade artística. Sua maior inspiração é Frida Kahlo, além das culturas mexicanas e japonesas que sempre estão em seus trabalhos. Fã do escritor americano Dr. Seuss, ela se inspirou em uma de suas obras para fazer os quadros de sua primeira exposição, aos 13 anos, na comemoração dos 85 anos de sua escola, o Colégio Nossa Senhora das Neves.
Gildair destaca que ver sua filha trilhando tantos caminhos nas artes com exposições e ilustrações nos livros “Tuca e o nosso mundo azul” (2021), da autora Flávia Machado, e recentemente com ilustrações no livro “Enquanto a vida acontece” (2023), de Maria Heloísa Brandão Varela, é um misto de satisfação e expectativas: “O caminho dela está apenas no começo, e sentimos que há ainda muito o que aprender e caminhos a desbravar. Estamos muito orgulhosos e confiantes que ela terá a sua vida pautada nas Artes, ajudando a ela com as dificuldades e desafios que o autismo traz. Não é um caminho de flores. É sim de muita luta e investimento, mas sempre procurando ouvi-la e acreditando no potencial dela”.
Em 2017 ela participou da Mostra Coletiva Estação Verão, com as obras Nossa Senhora das Neves e A Gueixa. Em 2018, esteve no III Salão Dorian Gray de Arte Potiguar-Novas Linguagens, com a obra Frida Kahlo, que foi adquirida pela Pinacoteca do Estado do Rio Grande do Norte e fez com que Rebeca se tornasse a primeira artista autista a ter uma obra no acervo da Pinacoteca.
Também esteve presente no IV Salão Dorian Gray de Arte Potiguar-Liberdade, em 2019, com as obras Felicidade e Livre. Além do segmento artístico, Rebeca também é destaque na natação, tendo representado o estado do Rio Grande do Norte através da SADEF, em diversos campeonatos regionais.