A ARTE NAÏF DE IAPERI ARAÚJO
SOBRE O MOVIMENTO
Em qualquer pesquisa, seja no mundo virtual, em livros impressos, ou conversando com amigos em rodas de cerveja, uísque, café, ou perguntando aos curiosos sobre a História da Arte, todos são unânimes: “A Arte Naïf, com a velha trema no “i”, é uma arte ingênua, primitivista e subversora das tradições no que se refere aos resultados esperados numa pintura.” É, o termo, originário da língua francesa. É uma arte visionária, que de ingênua não tem é nada, ao contrário daqueles que se apegam a conceitos, eu, particularmente, entendo se tratar de uma técnica de forte impacto na narrativa do cotidiano das cidades e das culturas.
O ARTISTA
Um dos nossos artistas de relevância na pintura, precursor e proeminente divulgador da Arte Naïf no Rio Grande do Norte, no Brasil e no mundo: Iaperi Soares de Araújo, Iaperi, ou como é mais conhecido, Iaperi Araújo, é natural da cidade de São Vicente-RN, onde nasceu em 1946. Como crítico de arte tem colaborado com diversas exposições e prefaciado livros de artistas em vários lugares do Brasil. É ainda escritor, desenhista, pintor, contista e poeta. No livro Impressões Digitais Vol. 2, do escritor Thiago Gonzaga, Iaperi Araújo se define como um homem voltado para a cultura do seu povo, e afirma que tudo o que ele faz existe essa marca. E isto está presente em sua pintura, nas pesquisas e nos seus textos. O seu impulso criativo vem em qualquer momento, e isto pode ser por influência da vida cotidiana ou gestado em um sonho e vai amadurecendo em sua cabeça.
HERANÇA ARTÍSTICA, FAMÍLIA E ALMA MATER
Iaperi é irmão de Iaponi Araújo, saudoso mestre da pintura Naïf do nosso estado. Filho de Dona Milka Soares e o seu pai Quincas Araújo, ex-prefeito à época da cidade de São Vicente. Iaperi Araújo foi redator do Diário de Natal, superintendente do Teatro Alberto Maranhão, foi ainda presidente da Fundação José Augusto, Secretário de Cultura do município de Natal, é membro da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, ocupando a cadeira de Número 23, que tem como patrono Antônio Glicério e formado em medicina pela UFRN. Já esteve em outros espaços culturais no estado. Atualmente, com Dione Caldas Xavier, Isaura Maia e Geruza Câmara, realizam desde 2016 o Salão Dorian Gray de Arte Potiguar, através da Sociedade dos Amigos da Pinacoteca Potiguar, contribuindo sobremaneira com as artes plásticas na área da pintura, escultura e artesanato.
AMIGOS DA PINTURA
Tendo convivido com artistas e intelectuais contemporâneos importantes, como o pintor e poeta Newton Navarro (1928 – 1992), o folclorista e etnógrafo Câmara Cascudo (1898 – 1986), a poeta e bibliotecária Zila Mamede (1928 – 1985), escritor, antropólogo e juiz Veríssimo de Melo (1921 – 1996), escritor Manoel Rodrigues de Melo (1907 – 1996), com os atuais como o advogado, poeta e escritor Diógenes da Cunha Lima (1937 – ), escritor Manoel Onofre Júnior (1943 – ), o escritor Nei Leandro de Castro (1940 – ), o cronista, jornalista e acadêmico Vicente Serejo (1951 – ) e tantos outros da nossa cultura local e nacional, Iaperi Araújo já se insere merecidamente numa lista seleta de artistas que escrevem a nossa história de forma inquietante e representativa.
LIVROS REGIONALISTAS
Como escritor Iaperi Araújo tem uma vasta narrativa sobre a cultura popular, o cangaço, as personalidades que fizeram história, a formação social e política da sociedade potiguar e outros temas que merecem uma visita pelos intelectuais e pessoas interessadas nas questões da literatura do Rio Grande do Norte e do Brasil. Destaco os seguintes livros: A Medicina Popular, este com várias edições, de 1981 até 2011; Elementos da Arte Popular (1985); No Rastro dos Cangaceiros (2009); Na Capitania Del Rey (2014); Chão de Epidauro (2012); Januário Cicco – Um Homem Além do Seu Tempo (2000); Angico 1938 (2013); Os Habitantes do Sonho (1992) e uma lista vasta que recomendo aos leitores da coluna.
ESTILO
Os quadros de Iaperi Araújo descrevem os costumes do Nordeste, as festas populares, bem como as manifestações alegóricas e o imaginário popular. As suas pinturas Naïf tocam corações rebeldes e mentes impacientes, e repassa para cada observador, num olhar mais apurado, toda uma parte da nossa gente numa tela de 21 x 21 cm, por exemplo. As telas Graça Divina, São Sebastião Sertanejo, Ex-Voto de Doença, Jesus Morre na Cruz e Verônica Enxuga a sua Face, só para citar algumas, são obras marcantes do artista dentro da proposta Naïf.
EXPOSIÇÕES E RECONHECIMENTO NACIONAL E INTERNACIONAL
Iaperi Araújo é mais um artista renomado do nosso estado, e com exposições importantes como a 2ª Bienal Brasileira de Arte Naïf (1994), Bienal Naifs do Brasil – Piracicaba-SP (1998), Os Milagres do Povo Brasileiro (1981), 1º Salão de Artes Plásticas – Rio de Janeiro (1966), Kunstsammlung Von Brasilianisclies Kunstler, Tübingen, Alemanha (1993) e diversas importantes pelo país.