VANDEBERG EZEQUIEL A. DE MEDEIROS: A PINTURA COMO TERRITÓRIO DA MEMÓRIA
ENTRE O SERTÃO VIVIDO, A PAISAGEM LEMBRADA E A ARTE QUE RESISTE AO TEMPO
Há artistas que não apenas pintam paisagens, mas as habitam. Vandeberg Ezequiel Araújo de Medeiros, nasceu em Natal-RN, em 04/08/1977. É Licenciado em Artes Plásticas pela UFRN, professor do curso de Artes Visuais do IFPE, Olinda, e membro do GUAP (Grupo Universitário de Aquarela e Pastel) da UFRN desde 2004. Pertence a essa linhagem rara de criadores que transformam a experiência do lugar em matéria estética, convertendo o cotidiano nordestino em narrativa visual. Sua pintura nasce do chão que pisa, do silêncio das estradas, do gesto simples do homem comum e da arquitetura modesta que guarda histórias. Em 2023, pelas praças de Natal, o artista recontou a história do nascimento do menino Jesus, numa série de pinturas, como se o menino tivesse nascido na capital potiguar. Este texto da minha coluna de hoje dialoga diretamente com o ensaio crítico do professor aposentado Márcio Dantas, cuja leitura sensível e rigorosa ilumina a trajetória e o sentido da obra do artista.
A PAISAGEM COMO VIVÊNCIA, NÃO COMO CENÁRIO
Na obra de Vandeberg, a paisagem não é decorativa nem idealizada. Ela é vivida. Casas térreas, ruas quase vazias, animais de carga, carroças, árvores isoladas e horizontes largos surgem como fragmentos de uma memória coletiva ainda pulsante. O artista não romantiza o sertão, tampouco o endurece; prefere apresentá-lo em sua dimensão humana, cotidiana e silenciosa. Cada tela carrega o peso do tempo lento, onde o olhar repousa e reconhece.
O HOMEM COMUM COMO CENTRO DA NARRATIVA
Os personagens que atravessam sua pintura, trabalhadores, moradores anônimos, figuras em deslocamento, não são retratados como tipos folclóricos, mas como sujeitos integrais. Há dignidade no gesto, economia na pose e respeito na composição. Márcio Dantas observa com precisão que Vandeberg constrói uma ética do olhar: não invade, não dramatiza, não força o discurso. O humano aparece integrado à paisagem, nunca acima dela.
ARQUITETURA, RUA E MEMÓRIA URBANA
As casas simples, os sobrados antigos e as fachadas gastas pelo tempo ocupam papel central em sua produção. São construções que falam de pertencimento e permanência. A arquitetura, em Vandeberg, é memória materializada. Cada esquina pintada é um arquivo afetivo, um testemunho da transformação lenta das cidades do interior. O artista compreende que o espaço urbano também é biografia.


COR, TÉCNICA E SILÊNCIO
A paleta cromática de Vandeberg A. Medeiros é contida, equilibrada, quase meditativa. Tons terrosos, azuis diluídos e verdes suaves estruturam composições que convidam à contemplação.
A técnica não se impõe; serve à narrativa. Como bem aponta Márcio Dantas, trata-se de uma pintura que prefere o silêncio à exuberância, a sugestão ao excesso. O resultado é uma obra de maturidade estética e coerência formal.
ENTRE TRADIÇÃO E PERMANÊNCIA
Embora dialogue com a tradição da pintura figurativa nordestina, Vandeberg não se prende ao passado. Seu trabalho atualiza temas clássicos sem recorrer ao saudosismo. Há modernidade na composição, consciência histórica no conteúdo e fidelidade ao território simbólico que escolheu habitar. Sua obra permanece porque não depende de modismos: nasce de uma relação profunda com o lugar e com o tempo.
O OLHAR CRÍTICO DE MÁRCIO DANTAS
O ensaio do professor Márcio de Lima Dantas é fundamental para compreender a densidade da obra de Vandeberg A. Medeiros. Com precisão crítica e sensibilidade estética, Dantas situa o artista no campo da arte como alguém que transforma memória em linguagem visual consistente. Seu texto não apenas analisa, mas reconhece a importância de uma produção que resiste ao esquecimento e reafirma o valor da pintura como documento sensível da vida.

