IAPONI ARAÚJO: O PINTOR DAS CORES SONORAS
O BERÇO ENTRE SERRAS E TRADIÇÕES
De Iaperi Araújo recebo estas informações riquíssimas sobre Iaponi Araújo, que fará parte de seu livro em elaboração. Considerado um dos precursores da arte Naif do Estado, Iaponi Araújo nasceu em 12 de dezembro de 1942, na cidade de São Vicente, região do Seridó potiguar, ainda distrito do município de Flores. Filho de Joaquim Araújo Filho, conhecido como Quincas, e da professora Milka, cresceu num ambiente de disciplina, afeto e cultura. Era o quinto filho entre doze irmãos: Iaponan, Iaponira, Iara, Iaponisa, Igara, Iaperi, Iran, Irani, Iramar, Ítalo, entre outros.
Desde cedo mostrou uma curiosidade inquieta. No alto da serra da senhora Santana, transformava restos de madeira e sobras de artesãos em brinquedos e pequenas esculturas. Era o reflexo de uma infância simples e criativa, vivida entre o estudo e as brincadeiras de rua, sob o olhar atento da mãe-professora que alfabetizou toda a família.
DA SERRA PARA A CAPITAL
Nos anos 1950, a família mudou-se para Currais Novos e depois para Natal, em busca de melhores oportunidades de estudo. O pai fechou sua loja de tecidos no Seridó e instalou a família num sobrado em Petrópolis, diante do estádio do ABC.
Ali, Iaponi Araújo, descobriu o mar, o asfalto e a vida urbana. Entre as aulas no Colégio Marista, as matinês do Cine Rex e as travessuras nos terrenos baldios da avenida Afonso Pena, começou a construir seu olhar sobre o mundo. Um olhar que, mais tarde, se tornaria pintura. Iaponi estudava com colegas que marcariam a vida política e cultural do Rio Grande do Norte, Ney Lopes, José Agripino, Garibaldi Filho. Mas seu destino não seria a política: seria a arte.
O DESPERTAR DAS CORES POPULARES


Nos anos 1960, Iaponi ingressou no Departamento de Documentação e Cultura da Secretaria Municipal de Educação, sob a direção da professora Mailde Pinto e o comando do secretário Moacir de Góes. Ali conviveu com nomes como Newton Navarro, Paulo de Tarso Correia de Melo e Nísia Bezerra, mergulhando nas tradições do folclore e da cultura popular.
O movimento “De pé no chão também se aprende a ler” influenciou sua visão social e estética. Os encontros com os brincantes, violeiros e mestres populares transformaram sua arte: do expressionismo inicial, ele passou ao registro vibrante dos autos, bois, ararunas e congadas, traduzindo em cor o espírito do povo.
O crítico e professor Carlos Cavalcanti, da UFRN, reconheceu nele um talento natural e o encorajou a seguir o caminho da pintura naif, onde o instinto e a emoção superam a técnica acadêmica.
DO SERIDÓ AO MUNDO
Em 1965, Iaponi realizou sua primeira exposição individual na Galeria Vila Rica, no Rio de Janeiro. O sucesso foi imediato: recebeu elogios da crítica e o apoio de Carlos Cavalcanti, que o apresentou aos grandes nomes da pintura brasileira.
Fixou residência no bairro da Glória e participou dos Salões Nacionais de Arte Moderna. Premiado, ganhou uma bolsa de estudos em Londres, onde permaneceu por dois anos, expondo em Portugal, Inglaterra, França, Espanha e Itália. A experiência europeia refinou sua técnica sem apagar o traço popular: o artista amadureceu, mas manteve o coração no Seridó e nas cores do povo.
A CONSAGRAÇÃO E O LEGADO
De volta ao Brasil, Iaponi abriu em Ipanema a loja Milka – Artes e Antiguidades, em homenagem à mãe. Nos anos seguintes, alternou a vida de marchand com a pintura. Faleceu em 1994, vítima de um AVC, no Rio de Janeiro, e repousa no Cemitério São João.
Seu legado permanece vivo na memória das artes brasileiras. Como definiu Luís da Câmara Cascudo, Iaponi foi “o pintor das cores sonoras, ardentes e tropicais, artista do povo e da emoção coletiva”, chegando a dizer que ele era “O Príncipe Sueno” das artes do Rio Grande do Norte. Sua obra, marcada pela força simbólica do folclore, pela ingenuidade inventiva e pelo lirismo cromático, continua a traduzir, em cor e forma, a alma vibrante do Rio Grande do Norte.

