A LUZ SERENA E O IMPRESSIONISMO DE THOMÉ FILGUEIRA
BIOGRAFIA
Do professor Márcio Dantas faço essa resenha do seu magnífico ensaio sobre Thomé Filgueira, Márcio que tem escrito belas biografias sobre artistas importantes do nosso estado. Thomé Filgueira nasceu em 5/12/1938 e faleceu em 14/02/2008, pertence àqueles raros artistas cuja obra parece conversar mais com o silêncio do que com o barulho do mundo. Nascido no entremeio geográfico e afetivo do Vale do Açu e de Ceará-Mirim, sua pintura é uma meditação sobre o tempo, a paisagem e a alma nordestina. Radicado por um tempo nos Estados Unidos, trouxe para sua arte um sotaque universal sem jamais perder o tom nativo.
Professor de inglês e pintor, Thomé não se rendeu aos modismos ou às exigências do mercado.
Preferiu seguir fiel a si mesmo, como quem persegue uma verdade íntima. Suas telas falam sempre da mesma paisagem, engenhos adormecidos, bois pastando, marinhas translúcidas, e ainda assim, jamais repetitivas. Há nelas uma pulsação interior, como se cada imagem fosse o eco de uma memória em estado puro.
O IMPRESSIONISMO E O NEO-IMPRESSIONISMO MOLDARAM A SUA ARTE


A estrutura de suas composições obedece a uma gramática artística própria: planos paralelos, sobrepostos com simplicidade, onde cada elemento da paisagem tem um lugar certo, sem alarde.
Os contornos são suaves, quase sempre imprecisos, sugerindo mais do que afirmando. A presença humana é ausente ou apenas insinuada. É como se Thomé buscasse a essência da paisagem sem a interferência do ruído civilizatório.
Seu estilo aproxima-se do Impressionismo, sim, mas não se trata de mera imitação dos mestres franceses. Filgueira recolheu dessa escola o gosto pela luz, pela leveza da pincelada rápida, pelo afastamento do rigor acadêmico. Entretanto, foi além: construiu uma dicção própria, inconfundível, onde a luz potiguar, quente, líquida, transparente, é protagonista.
A SUA ARTE TEM UMA LUZ SÓ NOSSA
Enquanto os impressionistas franceses retratavam a efervescência da modernidade europeia, Thomé se recolheu às paisagens serenas de sua infância e juventude. Suas obras não são celebrações da vida mundana, como em Manet, mas sim contemplações silenciosas, quase místicas, como nas primeiras telas de Monet.
GENIAL COMO DORIAN GRAY E NEWTON NAVARRO
Comparado a outros grandes nomes das artes visuais do Rio Grande do Norte, como Dorian Gray e Newton Navarro, Thomé talvez tenha sido o mais silencioso, o menos espetaculoso. E, ainda assim, sua pintura ressoa com uma força que não precisa de palavras. Sua técnica era modesta, os recursos escassos, mas o resultado, de altíssima densidade poética e estética.
CONTEMPLAR PARA COMPREENDER
Cada tela é uma pequena epifania. O gado no campo, os telhados simples, o brilho da água, tudo é pintado com uma delicadeza que exige tempo do olhar. É preciso parar, silenciar, contemplar.
Suas pinceladas espessas sugerem um tempo suspenso, como se o instante fosse eternizado na tela.
SEGUNDA GERAÇÃO DE MODERNISTAS
Filgueira pertence à segunda geração modernista potiguar, mas sua pintura também dialoga com os ingênuos, com os românticos, com os solitários. Ele não pintava para impressionar, mas para lembrar. Sua arte é um gesto de gratidão e de reencontro.
UM MESTRE AO LADO DE TANTOS
Hoje, ao lado dos mestres, Thomé permanece como um dos grandes esteios da arte norte-rio-grandense. Sua obra é uma convocação à contemplação, à delicadeza, à persistência de uma luz que ainda brilha sobre os engenhos, as marés e as colinas da memória.