A infância é um estágio inicial da vida, onde a doçura das brincadeiras e as melhores memórias são construídas para moldar o adulto do futuro, através de todas as transformações que perpassam os anos, com desafios e experiências.
Para algumas crianças, o maior aliado contra o câncer infantil é o diagnóstico precoce. O câncer é a primeira causa de morte por doença em crianças e a segunda causa de óbito em geral, segundo o Instituto Nacional de Câncer – INCA, o câncer infantojuvenil, apesar de avançar de forma mais rápida, quando é diagnosticado precocemente, as chances de cura passam de 80%.
Bianca Caldas tinha 2 anos quando foi diagnosticada em 2014 com Leucemia Linfóide Aguda (LLA), sua mãe Rogéria Dantas relata o que chamou atenção na mudança de comportamento da filha e de como isso os fez chegar à doença: “A gente começou a perceber alguns sintomas que ela apresentou, como a palidez, a fadiga ao brincar, andar, então, ela começou a apresentar esses sintomas. Levamos ela ao pediatra e ele solicitou exames que estavam muito alterados”, naquele momento, o médico informou que tinha uma notícia ruim para dar e o diagnóstico veio em seguida: “Foi muito desesperador, na minha cabeça eu ia perder minha filha. Receber o diagnóstico de um câncer em um adulto já é muito difícil, imagine em uma criança”. O resultado do exame foi recebido em Currais Novos e Rogéria relata que retornou à sua cidade natal em Parelhas e precisou ser forte por ela e por sua pequena: “Chorando muito eu disse para a minha filha que a gente ia vencer juntas. ‘Bianca, nós vamos vencer juntas, essa luta vai ser de todo mundo e assim foi”. A família precisou vir à Natal para iniciar o tratamento no Hospital Infantil Varela Santiago. Para a mãe, todo o apoio e da família e da equipe foram fundamentais. “O tratamento é muito difícil, as crianças abdicam de muita coisa, de ter um contato com outras pessoas. É muito intenso e a gente praticamente vive no hospital”.
Rogéria ressalta que o trabalho coletivo e a fé em dias melhores possibilitou um desfecho feliz para a sua filha, que hoje aos 11 anos, faz alguns exames rotineiros e vive uma vida normal e alegre: “Mesmo diante de tantas dores, de sofrimento, de incertezas que a gente viveu… Mas o quanto as pessoas são importantes na vida das outras, né? Em alguns momentos ela necessitou de doação de sangue e foi feita uma campanha imensa. Devido a essa solidariedade, hoje a minha filha está aqui, contando a história de vida dela”.
Ana Beatriz, aos 13 anos foi diagnosticada com leucemia e os sintomas se iniciaram com sangramentos na gengiva e muito cansaço sem explicação. Ela conta que em um final de semana teve uma crise de garganta e procurou atendimento. O médico solicitou outros exames e após o resultado, recomendou que a família buscasse um especialista, mas o diagnóstico pegou a todos de surpresa: “Eu e a minha família tivemos um choque com a notícia, pois ninguém esperava e tudo aconteceu muito rápido. Os sintomas que eu apresentava parecia ser de uma virose qualquer”. Na época de adolescência, a rotina precisou ser adaptada à nova realidade de Ana, que morava com a família em Assú e precisou se deslocar para Natal. “Nesse período, eu estava na oitava série da escola, devido ao tratamento tive que deixar de ir à escola. A doença me privou também de sair para muitos lugares que tinham aglomerações de pessoas. Dentro de duas semanas minha vida mudou completamente”. Ela relata que além dos desafios ocasionados pela doença, a autoestima também foi afetada no auge da adolescência: “Perdi todo o meu cabelo, emagreci muito, então, eu me olhava no espelho e não via mais a mesma pessoa”. Ana conta que no hospital, professores a ajudaram a se manter firme nos estudos. “As pessoas da ala oncológica são excepcionais, extremamente humanizadas e que se importam com o bem-estar do paciente. Isso foi tão importante que eu consegui ter uma resposta muito boa dentro de pouco tempo. Passei cerca de 7 meses fazendo quimioterapia e depois disso eu fui só para acompanhamento médicos”, finaliza Ana, que hoje aos 22 anos é formada em fisioterapia.
PIONEIRISMO E REFERÊNCIA
No RN, o Hospital Infantil Varela Santiago recebe cerca de 60 casos novos por ano. O hospital orienta que em casos de sinais e sintomas suspeitos, os responsáveis podem procurar diretamente a recepção da instituição para orientações sobre como proceder com as investigações. Entre os diagnósticos mais frequentes, em destaque estão casos de leucemias, tumores no sistema nervoso central e os neuroblastomas. De acordo com o Inca, são estimados mais de 7 mil casos de câncer infantojuvenil até 2025. A instituição reforça a importância de estar atento aos sintomas para que o diagnóstico seja feito precocemente, possibilitando um tratamento assertivo. “Um ponto crucial é a população ter conhecimento quais são os sinais e sintomas e quando esses podem ser um sinal de alarme para o câncer infantil para que a criança chegue mais cedo ao serviço de saúde. O próximo passo é o profissional de saúde estar treinado para reconhecer um sinal e um sintoma precoce pois não adianta um pai ou uma mãe procurar o serviço de saúde se não tem um treinamento do médico ou enfermeiro que vai avaliar essa criança em uma unidade básica de saúde, num consultório ou até mesmo no pronto socorro” explica Luciana de Aguiar Corrêa, Oncologista e Hematologista Infantil do Hospital Infantil Varela Santiago.
O câncer mais comum atendidos no Hospital Infantil Varela Santiago é a leucemia, que afeta os glóbulos brancos do sangue e compromete o sistema de defesa do organismo.
A instituição dispõe de atendimento em 19 especialidades médicas mais serviços de apoio, a equipe de oncopediatras conta com apoio multidisciplinar. Profissionais de terapeuta ocupacional, psicopedagogia, pedagogia, fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, nutrição, serviço social, setor de análises clínicas e odontologia.