Entre os grandes escritores de nosso Estado, figura certamente Américo de Oliveira Costa – autor, dentre outros, dos memoráveis “A Biblioteca e seus Habitantes” e “O Comércio das Palavras” -, meu conterrâneo (ambos somos de Macau), amigo e professor na UFRN. Desse último livro citado, extraio essa curiosa revelação:
Confidências de Jorge Luis Borges, entre as tantas de seu livro “Diálogos últimos”, em companhia de Oswaldo Ferrari:
– “… acredito não haver lido nenhum livro (da primeira à última página) do princípio até o fim, salvo certas novelas e também a “História da Filosofia Ocidental”, de Bertrand Russell: – um livro, talvez, que levaria comigo para uma ilha deserta…”
– “… existe, sempre, em reler, um prazer que não há em ler. Digo constantemente, por exemplo, que meu escritor preferido é Thomas de Quincey. Pois aí tenho os quatorze volumes dele que adquiri há algum tempo, e certamente, após minha morte, haverão de descobrir que há muitas páginas ainda por abrir nesses livros preferidos.”
Um assunto puxa outro… e a resposta de Borges, citando a “História da Filosofia Ocidental” de Bertrand Russell (obra que também li e gostei), como livro que levaria consigo para uma ilha deserta, fez-me voltar a uma entrevista que concedi ao nosso caro Thiago Gonzaga, e que integra um dos volumes de sua valiosa obra sobre escritores norte-rio-grandenses, “Impressões Digitais”. Eis pergunta e resposta, sobre o tema “livros selecionados para companhia numa ilha deserta”:
“- Se você fosse para uma ilha deserta e pudesse levar apenas dez livros, quais seriam?
– Tomo a liberdade, caro Thiago, de acrescentar mais dois à formulação da lista, e isto para melhor ajustar-me nessa apertadíssima camisa-de-força que você, gentil e didaticamente, me coloca. Pensando em algo para ler e reler várias vezes ao longo dos anos nessa ilha deserta (seria a mesma de Robinson Cruzoé?), excluí as narrativas de ficção, exceto uma, como verá. Ei-los, em escolha pessoal: cinco, para a razão da revelação: A Bíblia, o Alcorão, o Tao Te King, o Mahabharata, o Dhammapada; seis, para a razão da emoção: a produção poética de Homero, Quintus Horatius Flaccus, Camões, San Juan de la Cruz, Bashô e Fernando Pessoa; e um, para a razão do imaginário: As mil e uma noites (tenho-o na célebre versão de Antoine Galland, também considerada a primeira e, portanto, a mais antiga no Ocidente). Mas a lista é, verdadeiramente, muito, muito maior… e será sempre incompleta. E, como a memória do futuro, infinita…”