Por Carol Ribeiro
“O professor Venerando, que é a maior autoridade em ambientalismo da Universidade disse que a maior solução para Ponta Negra é a engorda. Então eu não tenho como me contrapor a um argumento técnico desse”. Foi o que disse o prefeito Álvaro Dias (Republicanos), na noite desta segunda-feira (08), em entrevista à 96 FM, após toda a polêmica que envolveu protesto e invasão à sede do Idema, liderados pelo prefeito, para pressionar o órgão a conceder, o quanto antes, a Licença de Instalação para a obra da engorda de Ponta Negra.
O assunto e a polêmica foram tema de embate entre a deputada estadual Isolda Dantas (PT) e o filho do prefeito, o deputado estadual Adjuto Dias (MDB), na sessão desta terça-feira (09), na Assembleia Legislativa. A parlamentar replicou o deputado em defesa dos “procedimentos técnicos” do Idema, do Governo do RN e da governadora Fátima Bezerra (PT).
“A Prefeitura passou quase um ano para responder 52 questionamentos e procedimentos técnicos do Idema. Em 20 dias a Prefeitura que quer fazer um debate político, quer que o Idema dê uma licença de uma obra tão grande, tão importante quanto a engorda. E para completar ontem o vandalismo tomou de conta na cabeça do prefeito de Natal que juntou-se com os vereadores, com deputado federal, com cargo comissionado e derrubaram o portão do Idema.
Isso é postura de prefeito?”, questionou Isolda.
Adjuto foi quem tocou no assunto e utilizou os mesmos argumentos que foram levados pelo seu pai em discurso durante o protesto e nas entrevistas que seguiram ao longo do dia.
“A engorda da praia de Copacabana foi feita há mais de 40 anos. A praia é linda, recebe turista de todo mundo, não tem nenhum dano ambiental ali. Balneário Camboriú foi feito, praia de Iracema, em Fortaleza, foi feito. São mais de nove engordas feitas no Brasil todo. E nenhum desses locais teve o questionamento que foi feito aqui. É mais de um ano esse processo parado lá. E você quer dizer que não tem cunho político nisso? Espera aí! Ora!”, disse o filho do prefeito em meio a debate com a deputada do PT.
No entanto, o mesmo ambientalista citado por Álvaro Dias na entrevista do dia anterior como referência para sua fala em defesa da engorda, o professor Venerando Amaro, disse que o argumento que cita demais exemplos de engorda no país “é uma fala muito pífia”, porque “cada setor costeiro é um setor específico, ele vai ter um comportamento diante de alguma obra de engenharia”.
“Porque quando a gente pensa numa obra dessa envergadura, que é a obra de Ponta Negra, é um aterro hidráulico com mais de um milhão de m³ de areia e num local em que não temos a menor experiência. Sobre esse tipo de configuração de obra obviamente a gente tem que pensar nas questões do impacto. A gente tem que se resguardar ao máximo em relação a qualquer variável que no futuro possa vir a ser prejudicial para a população natalense”, explica.
O geógrafo da UFRN esclarece que o Instituto não deveria ser pressionado, já que a obra tem uma magnitude que vai redesenhar a praia e deverá alterar toda a cadeia alimentar oceânica. Esta alteração deverá, também, trazer alterações para a comunidade que tira sua subsistência da praia.
“O Idema está exercendo o seu papel, não deveria ser pressionado para que emita uma licença o quanto antes. Eu acho que esse não é o argumento, nós devemos estar pensando que todos os aspectos técnicos e científicos sejam atendidos pelo empreendedor, pela Prefeitura, pelas empresas contratadas”, afirma.
“A orla vai mudar o seu desenho, a gente vai ter um outro redesenho de praia. A outra questão também é tomar mais cuidado com os aspectos biológicos, ecossistêmicos, porque nós vamos enfrentar uma modificação muito grande, a gente vai trazer sedimentos de outro local e lançar numa área que não é a natural para aquele sedimento e ainda por cima vamos remover o fundo oceânico com a possibilidade de uma reorganização em toda a cadeia alimentar ali da do pescado”, observa.
O professor entende a obra como importante, inclusive para afastar as intempéries do oceano e conter a energia do mar nos muros de contenção da praia. No entanto, defende que a parte técnica deve ser realizada com cautela e toda a população deve monitorar os impactos dessa obra.
“É uma obra cara, que não é definitiva e que vai estar o tempo inteiro sofrendo os impactos da ação do oceano. Então nós temos que estar pensando nisso, nós temos pensando nas comunidades que estão vivendo diretamente nessa faixa da orla, porque essas comunidades vão precisar de algum tipo de protocolo, de plano, de mitigação desse impacto já na obra, porque imagina, eles não vão poder exercer suas atividades enquanto a obra estiver sendo construída e depois também. A gente precisa ter clareza do tipo de ação”, esclarece.